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Seleção Feminina supera o Japão em dia marcado por mais testes e pelo retorno triunfal de Marta

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória da equipe de Pia Sundhage na primeira rodada da She Believes Cup

Por Luiz Ferreira em 17/02/2023 00:46 - Atualizado há 11 meses

Thais Magalhães / CBF

Antes de mais nada, é preciso deixar bem claro que uma vitória sobre o Japão vale demais para quem está se preparando para uma Copa do Mundo e pretende ir longe na competição. A Seleção Feminina pode não ter sido brilhante e cometido os mesmos erros já apontados pela própria Pia Sundhage e por este que escreve aqui neste espaço. Mas o time fez teve uma boa atuação coletiva consistente e a treinadora sueca aproveitou o forte adversário para fazer mais testes visando o Mundial da Austrália e da Nova Zelândia. Valeu pelos três pontos na She Believes Cup, pelas boas atuações de Bia Zaneratto, Ana Vitória, Bruninha e Nycole e (é claro) pelo retorno triunfal da nossa Rainha Marta.

Já era sabido de todos que Pia Sundhage faria alguns testes na partida desta quinta-feira (16). E assim aconteceu em Orlando. A técnica sueca manteve o seu 4-4-2/4-2-4 costumeiro com Geyse e Debinha no comando de ataque, Adriana e Bia Zaneratto pelos lados e Julia Bianchi jogando ao lado de Kerolin na “volância”. E aqui o destaque vai para a grande atuação da Imperatriz com e sem a bola. Bia ajudou bastante na recomposição e foi peça importante na marcação e na saída de bola rápida pelos lados do campo tão pedida por Pia Sundhage. A camisa 16 não era propriamente uma ponta ou uma “winger”, mas uma jogadora que participava muito das ações do jogo a partir do lado do campo.

Julia Bianchi entrou no meio, Debinha esteve mais à frente e Bia Zaneratto ficou pelo lado. A camisa 16 teve grande atuação com e sem bola. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

Mas nem tudo eram flores na Seleção Feminina. Depois de dez mintuos de muita pressão e tentativas de tirar o Japão da sua zona de conforto, o Brasil foi baixando o bloco e facilitando demais a vida do seu forte adversário em todos os setores. Se Bia Zaneratto fazia bom jogo, Adriana seguia deixando a desejar jogando pelo lado do campo e Geyse não rendia jogando como referência no ataque. O posicionamento de Kerolin e Debinha por dentro indicava o desejo de Pia Sundhage em fazer sua equipe jogar mais por dentro com aproximações e toques rápidos. Isso até aconteceu em determinados momentos, mas o Brasil pecou demais pela afobação e pelas tomadas de decisão ruins no primeiro tempo.

A Seleção Feminina tentou jogar mais por dentro explorando tabelas e toques rápidos. No entanto, o time errava muito nas tomadas de decisão. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

Apesar da queda no rendimento no primeiro tempo, o Japão não chegou a ter uma grande chance de balançar as redes de Lorena. Seguindo a linha de testes, Pia Sundhage sacou Julia Bianchi, Geyse e Tainara e mandou Ana Vitória, Nycole e Lauren para o jogo. Com isso, Adriana se juntou a Kerolin na “volância”, indicando mais uma vez que a treinadora sueca desejava um jogo mais forte pelo meio para desafogar um pouco os lados do campo. Se Tamires tinha participação discreta na partida, Bruninha fazia bem seu papel de “lateral-armadora” pelo lado direito, descendo quando a situação permitia e participando ativamente da saída de bola. Ponto para a lateral do NJ/NY Gotham FC.

Aos 22 minutos do segundo tempo, Pia Sundhage sacou uma já exausta Bia Zaneratto para a entrada da nossa Rainha Marta. A camisa 10 vinha afastada dos gramados por conta de uma grave lesão no joelho fazia seu retorno triunfal e dava à Seleção Feminina um elemento que ela não tinha: criatividade e improviso. Quatro minutos depois de entrar em campo, Marta tabelou com Debinha e esperou o momento certo de servir a camisa nove no lance do único gol da partida. É interessante notar que o início da jogada mostrava o Brasil organizado numa espécie de 4-1-3-2, com Marta e Ana Vitória centralizando um pouco, Adriana mais adianta com relação a Kerolin e Debinha alinhada a Nycole no ataque.

A variação para o 4-1-3-2 com Adriana alinhada a Ana Vitoria e Marta e Debinha mais próxima de Nycole deixou a Seleção Feminina mais móvel. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

Vale lembrar que essa foi a formação da Seleção Feminina na goleada sobre a Noruega ainda no ano passado (com Duda Sampaio mais recuada e Ary Borges mais adiantada). Yasmim já havia entrado no lugar de Tamires e ainda haveria tempo para Gabi Nunes substituir Debinha antes do Japao aproveitar os lapsos de concentração do time de Pia Sundhage (outro problema já mencionado pela própria treinadora sueca) e encaixar bons contra-ataques explorando o espaço às costas de Adriana (que realmente não estava num bom dia) e Kerolin no meio-campo brasileiro. Lorena esteve segura debaixo das traves e o Japão bem infeliz nas finalizações a gol. Sorte da Seleção Feminina e de Pia Sundhage.

Adriana e Kerolin sofreram para fechar os espaços às suas costas na partida desta quinta-feira (16). A linha de defesa ficou desprotegida várias vezes. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

Apesar da atuação de razoável para boa e dos erros mencionados anteriormente, o resultado conquistado diante do Japão pode e deve ser comemorado sim. Primeiro pelo alto nível de competitividade implementado pelas comandadas de Pia Sundhage em quase todo o jogo. Há um amadurecimento das jogadoras enquanto equipe e essa talvez seja a grande notícia desse início de She Believes Cup. E depois pelo retorno triunfal de Marta. É possível que nossa Rainha não jogue pelo lado do campo diante de tudo que já vimos nesse ciclo. Mas ver nossa camisa 10 em campo novamente (jogando em qualquer lugar) e descomplicando as coisas na base do talento e da criatividade é simplesmente sensacional.

A tendência é que Pia Sundhage siga fazendo mais testes na Seleção Feminina. É possível que Ary Borges, Kathellen e Ludmila ganhem minutos em campo. E pelo que se vê até o momento, é possível traçar um caminho bem claro do que ela quer que sua equipe faça com e sem a bola. É preciso rodar o elenco e encontrar as opções certas para as situações certas dentro de campo. Ainda mais sabendo que a Copa do Mundo vai exigir um nível absurdo de competitividade e entrega física. Testar e buscar soluções é fundamental nesse momento.

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