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Seleção Feminina alterna bons momentos com velhos erros em derrota justa para os Estados Unidos

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira faz um balanço da atuação da equipe de Pia Sundhage na She Believes Cup

Por Luiz Ferreira em 23/02/2023 01:59 - Atualizado há 11 meses

Thais Magalhães / CBF

Este que escreve já esperava um resultado adverso diante dos Estados Unidos por conta de todo o contexto que envolve a Seleção Feminina. Apesar dos problemas que vão desde os desfalques por lesão até a má fase de algumas jogadoras, o time comandado por Pia Sundhage conseguiu competir e criar vários problemas para a atual campeã mundial nesta quarta-feira (22), em partida realizada no Texas. O Brasil alternou bons momentos de trocas de passe e boa circulação no ataque com os velhos erros nas tomadas de decisão, no controle da profundidade e na compactação das linhas. Mesmo assim, não é errado afirmar que o saldo final da She Believes Cup foi sim bastante positivo.

Isso porque vimos a Seleção Feminina muito mais ligada e muito mais concentrada no jogo. Em parte por conta da qualidade e do poder ofensivo do forte adversário. Pia Sundhage manteve seu 4-4-2 costumeiro com Tainara jogando na lateral, Kerolin e Ary Borges na “volância”, Nycole aberta e Bia Zaneratto formando dupla de ataque com Debinha. O Brasil criou boas chances de gol sempre explorando as transições rápidas para o ataque e buscando os lados do campo para abrir espaços no 4-4-2/4-2-3-1 de Vlatko Andonovski. E a grande missão da equipe brasileira era controlar os espaços às costas da última linha e conter os avanços de Alex Morgan, Trinity Rodman e Mallory Pugh.

Pia Sundhage manteve o seu 4-4-2 trandicional na Seleção Feminina. O desafio era controlar a profundidade e não dar chance ao ataque dos Estados Unidos. Foto: Reprodução / SPORTV

É preciso considerar que um adversário desse porte exige demais em termos de concentração e trabalho sem a bola. Sempre que esteve ligado e intenso nas transições, o Brasil criou boas chances de abrir o placar ainda na primeira etapa. A melhores delas saíram em finalização de Debinha da entrada da área e de um chute cruzado de Kerolin após bela arrancada de Bia Zaneratto do campo de defesa. No entanto, a Seleção Feminina foi sentindo a imposição física dos Estados Unidos e se desarrumando na defesa. Faltou aí um pouco de sabedoria para valorizar mais a posse da bola e dosar o fôlego. Aos poucos, o escrete norte-americano foi tomando o controle das ações dentro de campo.

O Brasil sentiu um pouco o cansaço e acabou se desarrumando na defesa. Os Estados Unidos encontraram espaços generosos entre as linhas da Seleção Feminina. Foto: Reprodução / SPORTV

Mesmo assim, as entradas mais duras do time de Vlatko Andonovski indicavam que o adversário do Brasil nesta quarta-feira (22) não estava nem um pouco à vontade na partida. O gol marcado por Alex Morgan nos acréscimos da primeira etapa, no entanto, já era pedra cantada por muita gente devido ao constante “bate e volta” da bola no campo de defesa. E aí temos um ponto que prejudica demais o trabalho de Pia Sundhage. Não temos aquela jogadora que dê a pausa, que controle a velocidade e cadencie mais o jogo. Ela poderia ser Duda Sampaio, mas ela ainda se recupera de lesão. Ou Luana, mas a volante do Corinthians ainda não recuperou o bom futebol depois de grave lesão no joelho.

Isso ajuda a explicar um pouco as improvisações e testes feitos pela treinadora sueca com Kerolin e Ary Borges na “volância” e Tainara (ou Tarciane) na lateral. E também explica a formação do Brasil no segundo tempo. Com Geyse e Ana Vitória nos lugares de Debinha e Nycole, a Seleção Brasileira chegou a fazer pequenas variações no 4-4-2 tradicional de Pia Sundhage. Adriana recuava para junto de Kerolin e Ary Borges e abria o corredor para as descidas de Tamires pela esquerda. Do outro lado, Ana Vitória abria o campo e se alinhava à dupla de ataque. Isso abria um espaço por dentro que Geyse aproveitou no lance da finalização no travessão de Adriana logo aos três minutos.

Adriana centraliza, Ana Vitória abre o campo e Tamires ataca o corredor. O Brasil mostrou mobilidade depois substituições feitas por Pia no intervalo. Foto: Reprodução / SPORTV

A falha de Tamires no lance que originou o segundo gol estadunidense (marcado por Mallory Swanson aos 17 minutos) tirou um pouco o ímpeto da Seleção Feminina. Marta entrou no lugar de Ary Borges, mas foram Bruninha e Ludmila quem conseguiram mudar um pouco o panorama da partida no Texas. A camisa 2 formou boa dupla com Geyse pela direita e a atacante do Atlético de Madrid teve mais sucesso nas investidas no espaço às costas da última linha adversária. Todo o lance do gol de honra da Seleção Feminina mostra bem como o time conseguiu se livrar dos encaixes na marcação balançar as redes de Alyssa Naeher aos 44 minutos da segunda etapa. Bela jogada de Ludmila, Geyse e Bruninha.

Geyse arrasta a marcação e dá tempo para Bruninha fazer o cruzamento na cabeça de Ludmila. O gol do Brasil nasceu de bela movimentação pelo lado direito. Foto: Reprodução / SPORTV

A derrota para os Estados Unidos nesta quarta-feira (22) não deixa de ser um resultado justo e até mesmo esperado diante de todo o contexto (gostem ou não). Mesmo assim, o balanço dessa She Believes Cup foi sim bastante positivo. Jogadoras como Tainara, Bruninha, Lauren, Kerolin e (principalmente) Bia Zaneratto conseguiram se sair muito bem contra adversários fortes e muito mais organizados e estruturados. Conforme mencionado anteriormente, os testes (absolutamente necessários) feitos por Pia Sundhage nesses últimos dias também visavam encontrar soluções para alguns dos problemas crônicos da Seleção Feminina. As ausências de Duda Sampaio, Antônia e Angelina falam por si só.

Mesmo assim, o Brasil mostrou futebol para ir um pouco mais longe nessa She Believes Cup e potencial para subir mais alguns degraus. E falar que não existe evolução no trabalho feito nesses últimos quatro anos beira a desonestidade. As lesões das suas principais jogadoras e a forma como a CBF se esconde atrás da treinadora sueca também precisam ser levadas em consideração nas críticas. Mas enquanto as análise das atuações da Seleção Feminina continuarem sendo feitas com o fígado e não com o cérebro, dificilmente sairemos do lugar.

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