Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória do Brasil sobre o Uruguai e as ideias de Ramon Menezes
Depois de um longo e tenebroso jejum que já durava 12 anos, a Seleção Brasileira voltou a se sagrar campeã do Campeonato Sul-Americano Sub-20 num jogo que exigiu de tudo um pouco. Concentração para não cair na pilha do ótimo time do Uruguai, inteligência para encontrar os espaços e entender o que o jogo pedia e muita raça para resolver as coisas quando (apenas) a técnica não dava conta. Um verdadeiro “combo” de qualidades unidas ao talento individual do time de Ramon Menezes. Os gols de Andrey Santos e Pedrinho e a forma como a equipe brasileira conduziu as ações do jogo no El Campín falam por si só numa noite inesquecível para todos os presentes na partida deste domingo (12).
Vale lembrar que o Campeonato Sul-Americano Sub-20 é uma competição de tiro curtíssimo e exige demais dos jogadores física e mentalmente falando. Além disso, Ramon Menezes teve que lidar com os desfalques de última hora. Foram lesões e negativas de vários clubes do país na liberação dos jogadores que fizeram parte da preparação. Falando do jogo contra o Uruguai em si, no entanto, é preciso reconhecer que a equipe teve um início nervoso. Isso porque Jean, Arthur e Marlon Gomes (todos suspensos) faziam muita falta no Brasil diante de um adversário difícil.
Isso porque estava claro que a Celeste Olímpica havia entrado em campo com o regulamento debaixo do braço e a clara intenção de aproveitar os contra-ataques. Com André Dominque, Luis Guilherme e Douglas começando de início, a Seleção Brasileira Sub-20 encontrou uma certa dificuldade para conter o ímpeto do time comandado por Marcelo Broli. Com Andrey Santos e Alexsander na “volância” e Luis Guilherme mais próximo de Vitor Roque no 4-4-2/4-2-4 escolhido por Ramon Menezes, o time demorou um pouco para fechar os espaços na frente da última linha.
Aos poucos, a capacidade de adaptação da Seleção Brasileira (que é o resumo perfeito do “combo” que faz parte do título desta humilde análise) começou a se fazer presente. Com as linhas mais compactadas e Geovani e Guilherme Biro sendo mais acionados, não demorou muito para que Ramon Menezes percebesse que o Uruguai marcava mal pelos lados do campo. Principalmente à direita, onde Sánchez e Ponte concederam espaços generosos para as chegadas do ataque brasileiro. No entanto, ainda faltava o capricho necessário para trabalhar melhor as jogadas, acertar o último passe e “colocar a bola na casinha”. Mesmo assim, o time já jogava melhor do que jogou contra a Colômbia.
Também é preciso dizer que o intervalo fez bem ao Brasil. Não somente para que Ramon Menezes corrigisse os problemas da sua equipe, mas para que os jogadores pudessem entender os caminhos que precisariam seguir. É a tal capacidade de adaptação mencionada anteriormente. Com as linhas de marcação mais altas e Andrey Santos mais próximo do ataque, as jogadas começaram a fluir com mais frequência. E contra o “ferrolho” montado pelo técnico Marcelo Broli (com o recuo do volante De Ritis para a última linha), a Seleção Brasileira fez a inversão para o 3-2-5 com Guilherme Biro e André Dominique abertos, Luis Guilherme vindo por trás e Vitor Roque e Geovani arrastando a zaga para trás.
O alívio veio depois das mexidas ousadas de Ramon Menezes. Diante de um adversário que se recusava a atacar e sabendo que a Seleção Brasileira ganhavca todos os rebotes, sacou Guilherme Biro, Geovani, Patryck, Luiz Guilherme e André Dominique para as entradas de Pedrinho, Renan, Kaiki Bruno, Ronald e Stênio. O time ganhou ainda mais presença ofensiva e foi empurrando seu adversário para trás. O gol do alívio veio aos 38 minutos da segunda etapa (num momento em que o Uruguai praticamente estacionou um ônibus na frente da área) com a belíssima jogada de Kaiki Bruno e o cruzamento perfeito na cabeça de Andrey Santos que se posicionava atrás da linha defensiva uruguaia. Golaço.
Ainda haveria tempo para Pedrinho aproveitar a afobação do Uruguai na tentativa do empate, se livrar do goleiro e marcar o gol da vitória e do título Sul-Americano Sub-20. Nem mesmo a confusão do final da partida e os protestos sem sentido da Celeste Olímpica diminuíram a festa do escrete canarinho. A campanha invicta na Colômbia já havia concedido a vaga no Mundial da categoria (que tem sede na Indonésia e está marcado para o mês de maio) e agora premia todo o trabalho da comissão técnica e dos jogadores da Seleção Brasileira. O elenco enfrentou as adversidades com inteligência, talento e muita força de vontade. Bem ao gosto do torcedor que já se empolga com essa nova geração.
Esse “combo” de qualidades coloca sim o Brasil na rota do título Mundial na Indonésia. A confiança adquirida com a conquista do Campeonato Sul-Americano Sub-20 e a consolidação do trabalho de Ramon Menezes devem dar ainda mais consistência para o elenco que pode ganhar alguns reforços importantes nos próximos meses. Mais uma prova de que o Brasil ainda produz grandes jogadores. Andrey Santos, Alexsander, Marlon Gomes, Vitor Roque, Pedrinho, Arthur, Robert Renan e companhia estão aí para comprovar essa tese.