Retorno de Marcelo tem tudo para elevar ainda mais o nível de competitividade do Fluminense
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como o camisa 12 pode se encaixar no time comandado por Fernando Diniz
A volta de Marcelo ao Fluminense depois de 17 anos já é uma das grandes contratações do futebol brasileiro abaixo apenas da chegada de Luís Suárez ao Grêmio por uma série de fatores. Além da clara identificação com o Tricolor das Laranjeiras, o jogador de 34 anos retorna ao Brasil como o jogador que mais levantou taças pelo Real Madrid e um dos maiores laterais da década passada. É lógico que a idade e o físico mais desgastado já não permitem que Marcelo realize suas famosas arrancadas e dribles com a mesma qualidade dos velhos (e ótimos) tempos. Por outro lado, ele tem qualidades suficientes para elevar ainda mais o nível de competitividade de um Fluminense já bastante forte.
Aliás, uma das perguntas da coletiva com o técnico Fernando Diniz após a vitória sobre a Portuguesa da Ilha do Governador neste sábado (25) foi sobre o encaixe de Marcelo na equipe. Ele será lateral? Vai jogar no meio-campo? Ou mais próximo da área? Apesar do presidente Mário Bittencourt ter afirmado que trouxe o camisa 12 para jogar na lateral, o treinador acabou desconversando: “Onde vai jogar vamos ver com o tempo, não vou fazer nenhuma afirmação. Poder contar com ele é motivo de alegria, satisfação, orgulho. É curtir esse momento”, afirmou Diniz.
Eu e você sabemos que a lateral-esquerda é uma das grandes dores de cabeça do Fluminense nesses últimos meses. Caio Paulista, Cristiano, Pineida, Calegari, Jorge e Guga foram alguns dos jogadores testados no setor e o jovem Alexsander foi o escolhido neste sábado (25) contra a Portuguesa da Ilha (pela Taça Guanabara). É verdade que a necessidade leva a crer que Marcelo será o titular absoluto na lateral apesar de já não ter o mesmo vigor físico de outros tempos. No entanto, a forma como Fernando Diniz pensou sua equipe na vitória sobre a Lusa Carioca já deixou algumas pistas sobre esse assunto.
Antes de mais nada, precisamos diferenciar o que é posição do que é função. Esse tópico pede até uma análise muito mais profunda. A grosso modo, se trata do que cada jogador vai fazer com e sem a bola. Se um lateral vai se comportar como ala, se um zagueiro terá liberdade para subir ao ataque ou se um atacante vai se comportar mais como “10” ou como um homem de referência. No caso em questão, Alexsander foi um típico lateral que fechava a linha com quatro defensores pela esquerda sem a bola, mas que se projetava ao ataque de duas maneiras distintas. Quando André afundava entre Nino e David Braz, o camisa 5 abria o campo pelo seu lado. O comportamento era mais agressivo e mais vertical.
Só que eu e você sabemos bem que Fernando Diniz não é o tipo de treinador cujo estilo pode ser definido em poucas palavras. Ele bebe de várias fontes para criar um estilo de jogo bastante autoral, de aproximação, toques rápidos e passes em profundidade para Cano, Arias e Keno. O time pode se concentrar num dos lados do campo para trabalhar as jogadas e inverter o lado para pegar a defesa adversária desarrumada. Ou também pode esgarçar a última linha com jogadores bem abertos e três atacantes se projetando na direção da área. Vimos isso contra a Lusa.
Se Cano e Jhon Arias se projetam por dentro, Ganso busca a entrelinha e Keno e Samuel Xavier dão bastante amplitude pelos lados, Alexsander se transformou em mais um jogador de criação junto de Martinelli e André. Ao invés do 3-4-3 que trazia um dos volantes se alinhando aos zagueiros, temos algo bem próximo de um 2-3-5 incrivelmente ofensivo para abrir espaços e amassar o adversário. Tudo depende da disposição do time com a bola e da maneira encontrada por Fernando Diniz para cada situação dentro de campo. E Marcelo se encaixa bem nesse esquema de jogo.
Não é errado imaginar Marcelo (mesmo aos 34 anos e sem o vigor físico de outros tempos) jogando na lateral e exercendo as mesmas funções que Alexsander teve na vitória sobre a Portuguesa da Ilha. O camisa 12 pode ser o jogador que vai dar a amplitude pelo lado esquerdo ou o responsável pela criação jogando mais por dentro no mesmo 4-2-3-1 inicial usado por Fernando Diniz. Tudo depende da disposição do time com a bola. Se André está alinhado a Martinelli, Marcelo pode vir jogar mais por dentro como mais um armador. Se um dos volantes afunda entre os zagueiros, o camisa 12 pode atuar quase como um ponta (como fez várias e várias vezes na sua passagem pelo Real Madrid). Tudo depende de Diniz.
É óbvio que um dos grandes desafios do time será a busca pelo equilíbrio nas transições e nos momentos em que o adversário tem a posse. Encontrar a dosagem certa de agressividade sem que o setor onde Marcelo irá jogar fique sobrecarregado é algo que Fernando Diniz precisa resolver. Principalmente contra adversários mais fortes e melhor organizados defensivamente falando. Conforme mencionado antes, a necessidade e a lacuna deixada na posição após a séria lesão sofrida por Jorge levam a crer que o camisa 12 irá jogar na lateral. E não custa nada lembrar que Marcelo não era nenhum primor defendendo. Mesmo nos meus momentos mais vitoriosos pelo Real Madrid. Encontrar o equilíbrio é fundamental.
Certo é que estamos falando de uma das grandes contratações do futebol brasileiro na atual temporada. Uma das três maiores com toda a certeza. Não somente pela identificação com o Fluminense, mas por todo o talento que eu e você sabemos que Marcelo tem. Se o camisa 12 recuperar a forma física (um dos pontos que mais prejudicou sua passagem pelo Olympiacos) e se Fernando Diniz achar sua posição e função dentro de campo, o Tricolor das Laranjeiras tem tudo para subir de patamar nessa temporada e brigar por títulos importantes.