Antes de mais nada, é preciso deixar bem claro que o Flamengo enfrentou um cenário completamente desfavorável nesta terça-feira (21). Principalmente por conta dos 2.850 metros de altitude de Quito. Queiram ou não, esse fator influencia demais o desempenho de um time que já está cheio de problemas dentro e fora de campo. Dito isto, também precisamos reconhecer que o time de Vítor Pereira não jogou bem mais uma vez. A derrota por 1 a 0 para um Independiente del Valle que apenas fez o simples nesse jogo de ida da Recopa Sul-Americana não deixou de ser um lucro gigante para o Fla. Ainda mais diante de mais uma atuação fraca e bem abaixo do esperado. Mesmo num cenário adverso.
Esse início ruim de temporada do Flamengo pode ser explicado por conta de uma série de fatores (alguns deles já levantados aqui mesmo neste espaço). O que eu e você estamos vendo são os problemas no encaixe das ideias de Vítor Pereira com as características do elenco rubro-negro. Quem acompanha o espaço sabe muito bem que esse entendimento mútuo não acontece da noite para o dia. No entanto, o grande problema do Fla é que todo mundo sabia que o time começaria o ano de 2023 de técnico novo e com três decisões pela frente. Uma aposta altíssima da diretoria.
Seja como for, o jogo desta terça-feira (21) nos mostrou um Vítor Pereira mais disposto a se adaptar às características do elenco rubro-negro. Isso explica a opção pelo 4-3-3/4-3-1-2 bastante semelhante ao utilizado por Dorival Júnior no ano passado para encarar o Independiente del Valle. A ideia era preencher bem a entrada da área e acelerar nas transições para o ataque com Gabigol, Arrascaeta e Pedro. O grande problema, no entanto, eram as enormes distâncias entre as linhas e o 3-4-1-2 montado pelo argentino Martín Anselmi no “Mata Gigantes”.
O Flamengo defendia bem a entrada da área com Thiago Maia afundando entre os zagueiros para formar uma linha de cinco e tirar a superioridade numérica do Independiente del Valle no primeiro tempo. Mas o problema dos espaços entrelinhas persistia. Os alas Matías Fernández e Beder Caicedo subiam como pontas e Sornoza (AQUELE) ocupava bem os espaços que Vidal (o melhor do Fla na opinião deste que escreve) e Everton Ribeiro não conseguiam cobrir. Aos poucos, o cenário foi se desenhando. Enquanto o “Mata Gigantes” acelerava o jogo com bolas longas, os jogadores rubro-negros iam sentindo o cansaço por conta da altitude e das longas distâncias que precisavam ser cobertas.
A ideia de Vítor Pereira até que funcionou na primeira etapa. O Independiente del Valle tinha espaços para finalizar, mas sempre o fazia de maneira desequilibrada (fato que explica os poucos chutes na direção do gol defendido por Santos). Ao mesmo tempo, o Flamengo também encontrava espaços para atacar e criou boas chances de gol. No entanto, o problema das distâncias longas entre os jogadores persistia. Gabigol era um dos únicos que buscava o espaço vazio no 3-4-1-2/5-2-3 de Martín Anselmi para acionar os companheiros de equipe. Numa das poucas jogadas de ultrapassagem realizadas durante toda a partida, o camisa 10 deixou Ayrton Lucas frente a frente com o goleiro Moisés Ramírez.
É verdade que os jogadores do Flamengo sentiram demais a altitude no segundo tempo. Não foi por acaso que o Independiente del Valle passou a acelerar ainda mais as jogadas de ataque contando com esse cansaço. Só que Vítor Pereira acabou “colaborando” com o adversário ao mandar o volante Pulgar para o jogo na vaga de Pedro (lesionado). Além do chileno ter entrado mal demais na partida, a substituição trouxe todo o escrete rubro-negro para trás. O gol de Carabajal (marcado aos 23 minutos da segunda etapa) só fez justiça ao que se via em Quito. O “Mata Gigantes” fazia o simples e só não fez mais gols porque falhou demais nas finalizações diante de um Fla que pouco competiu.
Difícil não concluir que o Flamengo saiu num lucro enorme com essa derrota simples na terça-feira (21). Por conta da altitude, das condições físicas dos jogadores e de todo o contexto já levantado anteriormente. O grande problema está na resposta dada pela equipe dentro de campo. Por mais que o discurso dos jogadores esteja afinado com o da comissão técnica, as dificuldades no encaixe do estilo de jogo de Vítor Pereira com as características do elenco são cada vez mais evidentes. O trabalho no início e a filosofia completamente distinta da adotada por Dorival Júnior tornam esse processo ainda mais complicado. Pelo menos, a impressão é de que existe sim boa vontade de ambas as partes.
Mas o problema é o tempo curto para as adaptações que são necessárias sejam realizadas. Fora a pressão vinda de todos os lados por melhores resultados. O Flamengo tem sim condições de jogar muito mais e muito melhor do que jogou em Quito. O próprio Vítor Pereira parece ter encontrado um caminho a seguir com a manutenção do quarteto ofensivo. Mas precisa corrigir o sistema defensivo e melhorar a movimentação no ataque. O início do trabalho deixa a sensação de que a equipe não tem um rumo definido. E isso é preocupante.