Este que escreve entende muito bem que o Flamengo é o favorito na partida contra o Al-Hilal, pelas semifinais do Mundial de Clubes da FIFA. Dito isto, o escrete comandado pelo argentino Ramón Díaz tem suas qualidades e plenas condições de causar problemas para o time de Gabigol, Arrascaeta, David Luiz e companhia. Não que o adversário desta terça-feira (7) seja assim tão complicado (vale lembrar que a atuação contra o Wydad Casablanca não foi das melhores), mas o momento do Fla na temporada e a mudança no comando técnico são pontos que podem sim ser explorados pelo time saudita. Ramon Díaz tem suas armas e não terá medo de usá-las contra a equipe de Vítor Pereira.
A partida contra o Wydad Casablanca deixou algumas pistas de como o Al-Hilal gosta de jogar justamente pelo cenário encontrado no Estádio Príncipe Moulay Abdellah. O time da casa entrou em campo num 4-1-4-1 muito semelhante ao utilizado pela seleção de Marrocos na última Copa do Mundo, não fazia tanta questão de ficar com a bola e criou vários problemas nos contra-ataques bem encaixados para Lamkel Zé, El Hassouni e Bouhra. Do outro lado, o Al-Hilal foi para o jogo organizado num 4-3-3 que trazia Michael mais à esquerda, Marega à direita e Ighalo mais centralizado. O craque Salem Al-Dawsari jogou mais recuado alinhado à Kanno e à frente de Cuéllar no meio-campo.
As grandes dificuldades do Al-Hilal estavam na manutenção da posse da bola e na busca por espaços na defesa adversária. Lembrem-se de que o primeiro tempo da partida deste sábado (4) começou com o Wydad Casablanca ditando o ritmo das jogadas e explorando bem os lados do campo. Tanto que a única válvula de escape do escrete saudita eram as bolas longas para Marega no lado direito e os avanços dos laterais Abdulhamid e Nasser Al-Dawsari (não confundir com o camisa 29 e craque do time). Ighalo fazia um papel semelhante ao de um “falso nove” (buscando mais a entrelinha) e Michael saía da esquerda para dentro. Um ataque mais posicional e que sofria com a falta de movimentação.
Essa falta de mobilidade no Al-Hilal era mais consequência da boa marcação do Wydad Casablanca (que jogou em bloco mais baixo e com muita velocidade nas transições) do que ausência de recursos técnicos e táticos por parte do time de Ramón Díaz. Mesmo assim, as dificuldades do escrete saudita eram claras. Principalmente na defesa e na marcação pelos lados. Não foram poucas as vezes em que Michael e Marega precisaram voltar pelos lados para fazer a “dobra” com os laterais Abdulhamid e Nasser Al-Dawsari. Notem que estes dois últimos são muito ofensivos, mas deixaram a desejar demais na parte defensiva. Pode ser um caminho interessante para o Flamengo na terça (7).
É interessante notar que o início da construção das jogadas ofensivas no Al-Hilal depende justamente de Cuéllar. O camisa 6 afunda entre os zagueiros Jang Hyun-Soo e Al-Boleahi para fazer a conhecida “saída de três”. Kanno recua um pouco mais para dar opção de passe por dentro e os laterais ficam mais espetados. Na prática, é como se o escrete saudita realmente fizesse a variação para um 3-2-5 nos momentos de posse. Contra o Wydad Casablanca fechando a entrada da sua área, não restava outra alternativa ao time de Ramón Díaz senão apelar para as triangulações pelos lados do campo ou para as bolas longas que exploravam a velocidade e a imposição física de Marega.
Na prática, o Al-Hilal só ganhou mais mobilidade e mais presença ofensiva quando Ramón Díaz abandonou o 4-3-3 e voltou ao 4-4-2/4-2-4 com Michael e Salem Al-Dawsari pelos lados e Marega mais próximo de Ighalo no comando de ataque. Com o Wydad Casablanca tão recuado no seu campo para defender a vantagem conquistada no início do segundo tempo (com o gol de El Amloud), não fazia sentido manter três jogadores no meio-campo. E mesmo que o escrete saudita não tenha mostrado assim tanta criatividade, o ataque passou a funcionar mais e a manter mais a posse da bola com Marega circulando mais, Michael dando profundidade pela direita e Salem Al-Dawsari se aproximando de Ighalo.
Com o saudita Al-Shehri, o peruano Carrillo e o argentino Vietto em campo, o escrete saudita ainda ganhou mais variações passando do 4-4-2 para um 4-3-1-2 bem ofensivo. Mesmo assim, o gol de empate só veio em penalidade originada pelo toque de mão do bom lateral Attiyat-Allah dentro da área. Kanno cobrou com confiança e igualou o marcador já nos acréscimos. O elenco mais recheado e com mais opções acabou se transformando no grande aliado de Ramón Díaz na prorrogação, quando perdeu dois dos seus principais jogadores por razões diferentes. Carrillo deixou o jogo lesionado e Kanno foi expulso de maneira tola. Na disputa da marca de cal, no entanto, o Al-Hilal acabou tendo mais sorte.
Certo é que o Flamengo terá um adversário forte e bem treinado na próxima terça-feira (7). Por mais que o favoritismo esteja do lado rubro-negro, a história do Mundial de Clubes da FIFA está repleta de “zebras” históricas. O Raja Casablanca (rival do Wydad) e o TP Mazembe não deixam este que escreve mentir. O Al-Hilal tem sim suas qualidades e um bom repertório tático. Mesmo sem Kanno (suspenso) e Carrillo (lesionado). Mas se o Fla entender o que o jogo vai mostrar, tem boas chances de passar para a final. A conferir.