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Há 40 anos, o futebol perdia Mané Garrincha, o anjo das pernas tortas

Um dos maiores jogadores de todos os tempos, o eterno camisa 7 do Botafogo e da seleção é um dos símbolos do futebol brasileiro

Por Marco Maciel em 20/01/2023 13:06 - Atualizado há 2 anos

Divulgação

Em 20 de janeiro de 1983, o mundo se despedia de Mané Garrincha. Vitimado por uma cirrose hepática com apenas 49 anos, a bebida alcoólica acabou sendo seu “João” mais implacável. Afinal, foi o único adversário que o eterno camisa 7 não conseguiu driblar. Então, há exatamente quatro décadas, Manoel Francisco dos Santos era sepultado no cemitério de Pau Grande, em Magé, na Baixada Fluminense.

Garrincha ajudou a tornar o futebol mais romântico, de maneira a inspirar inesquecíveis crônicas de Nelson Rodrigues. Afinal, como que aquele jogador, com apelido de passarinho e a perna direita seis centímetros mais curta que a esquerda, conseguia ser tão genial com a bola nos pés? E com uma jogada pela direita que, embora parecesse previsível, sempre o camisa 7 conseguia executar, fingindo ir para um lado e passando pelo adversário pelo outro. Só os deuses do futebol podem responder as façanhas do anjo das pernas tortas.

https://www.youtube.com/watch?v=EDj3iSY_nTY

Garrincha travou duelo com Nilton Santos na chegada ao Botafogo

Quando chegou ao Botafogo em 1953, conta a lenda que, em seu primeiro treinamento, teria dado vários dribles em ninguém menos do que Nilton Santos. Então, o já consagrado lateral-esquerdo implorou para que o ponta-direita fosse contratado. Inicialmente chamado de Gualicho, então o cavalo mais veloz dos páreos de turfe da época, o camisa 7 conseguiria emplacar o nome de Garrincha, enlouquecendo os “Joões”, a quem chamava seus marcadores.

Não iria demorar para Mané receber suas primeiras convocações para a seleção brasileira. Na Copa do Mundo de 1958, não iniciou como titular, bem como um certo camisa 10 de apenas 17 anos. Assim, depois de um começo insatisfatório do escrete canarinho no Mundial da Suécia, lideranças do vestiário como Nilton Santos, Didi e Bellini teriam convencido o técnico Vicente Feola a mudarem a equipe. Dessa forma, Garrincha e Pelé, além de Zito, ingressariam ao time na última rodada da fase de grupos, contra a União Soviética.

https://www.youtube.com/watch?v=3A3YbP9_Ty8

Garrincha nunca perdeu jogando com Pelé

Podemos considerar que uma nova era do futebol despontou a partir daquele 15 de junho de 1958. Afinal, a dupla Garrincha e Pelé, que jamais perderia jogando junta, seria apresentada para o mundo. Nos famosos três minutos mais alucinantes da história do esporte bretão, o ponta-direita entortou o “João” soviético por seguidas vezes, o colocando para dançar e até emendando uma bola na trave. Posteriormente, Vavá abriria o placar no terceiro minuto, abrindo caminho para a vitória por 2 a 0 que fez Feola achar a escalação ideal da seleção brasileira rumo ao primeiro título mundial.

Então, Garrincha contribuiu para a conquista de 1958 com a 11 estampada nas costas, dando duas assistências para Vavá na final vencida contra os anfitriões suecos. Posteriormente, a eternidade da camisa 7 viria na Copa do Mundo de 1962. Com a contusão de Pelé na segunda partida, Mané jogou por ele e pelo Rei. Dessa forma, fez de tudo e mais um pouco em gramados chilenos. Além dos corriqueiros dribles, Garrincha desandou a marcar gols, de cabeça, chutando de fora da área, emendando de canhota… Enfim, sendo o protagonista do bi.

Problemas no joelho prejudicaram a carreira

O Mané ainda disputaria a Copa do Mundo de 1966, marcando de falta seu último gol em Mundiais contra a Bulgária, na última vez em que atuou ao lado de Pelé. Contudo, depois da consagração, começaria a amargar o declínio físico e técnico. Antes mesmo da Copa disputada na Inglaterra, Garrincha sofria com o joelho inchado. Assim, realizava infiltrações para que pudesse jogar, já que a presença do camisa 7 era exigida nas partidas do Botafogo. Logo após uma cirurgia malsucedida na região, o ponta-direita, que teria passagens sem brilho por clubes como Corinthians e Flamengo, realizou amistosos por diversas equipes para se manter.

Entregue à bebida, uma de suas últimas cenas públicas seria comovente. Assim, no desfile das escolas de samba de 1980, Garrincha se apresentou pela Mangueira com efeito de medicamentos depois de uma internação. “Paralisado pelos tranquilizantes, Garrincha se exibe ao mundo como um morto-vivo“, escreveu Ruy Castro na biografia “Estrela Solitária – Um Brasileiro chamado Garrincha”. Enquanto Pelé se mostrou horrorizado com o que viu na Marquês de Sapucaí, Elza Soares, com quem o camisa 7 viveu por anos, tentou tirá-lo da avenida, sem sucesso.

https://www.youtube.com/watch?v=mWlpba4i5Mw

Por fim, hoje também faz um ano que Elza Soares partia. Quis o destino que uma das maiores vozes da história da música brasileira morresse no mesmo dia que seu grande amor, 39 anos depois. Há quatro décadas, Mané Garrincha perdia a batalha contra o alcoolismo, e o anjo das pernas tortas ganharia asas rumo ao céu, se tornando eterno. E agora recebendo o recém-chegado Pelé.

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