Com sua morte na última quinta-feira (29), o legado de Pelé está sendo debatido em diversos nível e um deles é sua importância na luta antirracista, não apenas no Brasil, como em todo o mundo.
Esse foi um ponto levantado pelo cônsul da Costa do Marfim do Brasil, Tibe bi Gole Blaise, que exaltou o papel do Rei do Futebol para todos os países do continente africano, durante sua visita ao velório, nesta segunda-feira (2).
“Você não imagina o que o Pelé representa para a África. O racismo é menor porque Pelé existiu. Se não tivesse existido o Pelé, nenhum negro estaria jogando. Então, Pelé é tudo”, explicou o diplomata.
Controvérsia sobre Pelé parar uma guerra
Uma das histórias mais clássicas que envolvem Pelé e a África versa sobre a paralização de uma guerra civil na Nigéria para o Santos poder jogar no país.
A partida aconteceu no dia 4 de fevereiro de 1969 e, para o Santos jogar em segurança, seria necessário um cessar-fogo entre as partes conflituosas, o que teria acontecido e o Peixe ganhou o jogo da seleção nigeriana por 2 a 1.
O Santos lançou até uma camisa preta com motivos africanos, no último mês de setembro, para comemorar o feito, como afirmou o presidente do clube, Andrés Rueda.
“Essa camisa é uma referência direta à grandiosa história do nosso clube, um momento que ficou marcado até hoje e confirma como um esporte promove ações que podem mudar o mundo”, explicou em entrevista ao portal UOL.
A guerra terminou cerca de um ano depois com a derrota dos separatistas igbos da região de Biafra e um saldo de cerca de 2 milhões de mortos.
Porém, essa versão é contestada por alguns historiadores, como José Paulo Florenzano. O estudioso explica que a partida do Santos de Pelé ocorreu na cidade de Benin, cerca de 130 quilômetros de distância do local do conflito. Além disso, a correlação de forças já era muito favorável ao governo nigeriano à época.
“Com efeito, em fevereiro de 1969, quando o time do Santos aterrissa na guerra civil da Nigéria, a correlação de forças então existente era amplamente favorável às tropas federais”, explicou o historiador em artigo publicado em 2019.
Para Florenzano, o cessar-fogo era totalmente desnecessário para a realização da partida.
“Soa-nos inverossímil a narrativa que atribui a Pelé a ‘façanha’ de fazer com que ‘as facções rivais responsáveis pela sangrenta guerra civil nigeriana concordassem com um cessar-fogo durante a visita do Santos ao país’. Ele simplesmente não era necessário, como as fontes documentais consultadas indicam de forma clara”, explicou Florenzano.