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Apesar da eliminação, Tunísia deixa a Copa do Mundo de cabeça erguida e liga o alerta na França

Luiz Ferreira analisa a partida desta quarta-feira (30) e as ideias de Jalel Kadri e Didier Deschamps na coluna PAPO TÁTICO

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

A Tunísia foi gigante nesta quarta-feira (30). É verdade que a França (já classificada para as oitavas de final da Copa do Mundo) entraram em campo com uma equipe repleta de reservas (e também com o ar “blasé” que vira e mexe dá as caras no time de Didier Deschamps), mas nem isso tira o brilho ou diminui o feito das “Águias de Cartago” no Estádio Cidade da Educação. O time de Jalel Kadri jogou o que ainda não havia jogado no Catar e superou os franceses pela primeira vez na história das duas seleções. O dia só não foi perfeito para os tunisianos porque a Austrália venceu a Dinamarca no outro jogo do Grupo D e acabou ficando com a vaga na segunda fase do Mundial.

Mesmo assim, precisamos aceitar que o feito da Tunísia é enorme. Pela história das duas seleções e também pela diferença técnica entre os dois elencos. Por outro lado, o resultado desta quarta-feira (30) deixa a impressão de que o elenco francês não tem lá tantas opções no banco de reservas como o Brasil, a Inglaterra ou a própria Argentina. A diferença da equipe titular para a reserva era gritante. Muito por conta das improvisações que Didier Deschamps teve que fazer na sua seleção para o confronto contra a Tunísia. Apenas Varane e Tchouaméni foram mantidos na equipe.

Com tantas mudanças, é difícil não perceber que a França teve certa dificuldade para encaixar seu jogo diante de uma Tunísia acesa e ligada em cada lance. Do outro lado, o técnico Jalel Kadri também fez uma série de mudanças na sua equipe por conta do desempenho ruim na derrota para a Austrália. O 3-4-2-1 básico do treinador foi mantido, mas apenas o goleiro Dahmen, os zagueiros Malbi e Meriah e os meio-campistas Laïdouni e Skhiri foram mantidos entre os titulares. Com isso, as “Águias de Cartago” ganharam mais fôlego e mais dinâmica nas transições para o ataque.

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Formação inicial das duas seleções. Muitas mudanças dos dois lados, mas era a Tunísia quem criava mais lances de perigo com a posse da bola.

É preciso dizer também que a França encontrava sim espaços generosos entre as linhas da Tunísia (por conta da postura mais agressiva da equipe), mas parecia estar com o “freio de mão puxado” em alguns momentos. O 4-4-2 de Didier Deschamps teve Camavinga improvisado na lateral-esquerda, Guendouzi jogando como meia pela esquerda e poucas ideias além das bolas lançadas para frente buscando Coman ou Kolo Muani. Muito pouco mesmo para uma equipe reserva. Na melhor chance francesa no primeiro tempo, o camisa 20 perdeu o controle da bola cara a cara com o goleiro Dahmen e finalizou para fora. Faltava criatividade e um pouco mais de vontade por parte de “Le Bleus”.

Fofana puxou o contra-ataque e passou para Coman o espaço entrelinhas da Tunísia na melhor chance da França no primeiro tempo. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Vale lembrar que a Tunísia já havia tido um gol de Ghandri anulado por impedimento logo aos sete minutos de partida. É verdade que o contexto que se apresentava às “Águias de Cartago” exigiam ousadia e agressividade da equipe africana e permitiam que a França adotasse um ar mais “blasé” nesta quarta-feira (30). Isso ajuda a explicar a partida no Estádio Cidade da Educação. Ainda que faltasse um pouco de qualidade e mais acerto nas tomadas de decisão, as melhores chances eram do time de Jalel Kadri. E sempre explorando os espaços às costas de Camavinga e as dificuldades de Varane e Konaté no controle da profundidade. Parecia questão de tempo até que o gol finalmente saísse.

Khazri aparece às costas de Camavinga e Slimani faz o passe em profundidade. A França sofreu com as investidas da Tunísia. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

O panorama não mudou no segundo tempo. Tanto que o mesmo Khazri aproveitou bola roubada de Skhiri no meio-campo e belo passe de Laïdouni entrelinhas para se livrar da zaga francesa e marcar um belo gol aos 12 minutos. Didier Deschamps respondeu com as entradas dos titulares Mbappé, Griezmann, Dembélé e Rabiot e a mudança para um 4-2-4 bem ofensivo. No entanto, a Tunísia se fechou ainda mais na frente da sua área num 5-4-1 que sofreu para conter tanta qualidade no ataque, mas se saiu bem dentro das suas possibilidades. Embora não tenha levado a vaga, a Tunísia encerrava sua participação na Copa do Mundo de cabeça erguida e com o maior resultado de sua história.

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Depois do gol de Khazri, a França mandou os titulares para o jogo. A Tunísia se fechou num 5-4-1 bem fechado na frente da área. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

É verdade que a França ainda teve um gol de Griezmann anulado aos 56 minutos de jogo em lance bastante discutível. Só que isso não diminui o feito das “Águias de Cartago” e nem apaga a atuação coletiva ruim dos comandados de Didier Deschamps. Mesmo já classificada para as oitavas de final por conta das vitórias sobre Austrália e Dinamarca, “Le Bleus” podem estar vivendo o início de um dilema. A derrota para a Tunísia deixou bem claro que o banco de reservas não possui peças de reposição adequadas para substituir os titulares numa eventual contusão ou suspensão. Além disso, o ar “blasé” ficou evidente mesmo com a entrada de Mbappé e companhia em determinados momentos.

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Pode não parecer nada de muito importante à primeira vista. Mas é sempre bom lembrar que cada jogo deixa lições importantes para jogadores e comissão técnica. A Tunísia entendeu o que precisava ser feito na partida desta quarta-feira (30) e jogou de acordo com aquilo que o campo pedia. Já a França pode ser vítima do ar “blasé” que tanto a perseguiu na última Eurocopa e nessa edição da Liga das Nações da UEFA. Mesmo com os titulares em campo e disponíveis para Didier Deschamps, é bom abrir o olho de verdade agora que a Copa do Mundo chega numa fase altamente decisiva.

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