Seleção brasileira responde críticas com goleada sobre a Coreia do Sul e sua melhor atuação na Copa do Mundo
Luiz Ferreira explica o que mudou no Brasil e a estratégia de Tite para o jogo desta segunda (5) na coluna PAPO TÁTICO
A grande maioria da imprensa esportiva abriu suas crônicas e noticiários com frases como “o Brasil finalmente jogou como Brasil” ou “finalmente o verdadeiro futebol brasileiro apareceu no Catar” para falar da goleada sobre a Coreia do Sul nesta segunda-feira (5). No entanto, precisamos sim entender que a Seleção Brasileira jogou como sempre jogou sob o comando de Tite nesse ciclo. A equipe esteve muito ligada em cada lance, o posicionamento de Neymar e Lucas Paquetá FINALMENTE foi corrigido e os gols saíram relativamente rápido. Todas as críticas e todo o caos criado depois da derrota para Camarões foram respondidos com a melhor atuação coletiva da Seleção Brasileira nessa Copa do Mundo.
Tudo bem que a equipe que estava do outro lado era a Coreia do Sul. Não por acaso, muita gente diz que o time comandado por Paulo Bento (que jogou no mesmo 4-4-2 da vitória sobre Portugal) facilitou demais a vida do Brasil no Estádio 974 com a marcação frouxa no meio-campo. No entanto, este que escreve prefere enxergar o jogo sobre um outro ponto de vista. Na prática, foi a Seleção Brasileira quem criou e aproveitou melhor os espaços que apareciam da movimentação constante do quinteto ofensivo. Não era difícil perceber isso durante a partida.
Tomemos o primeiro gol da partida como exemplo. Um dos grandes acertos de Tite foi corrigir o posicionamento dos seus jogadores. Se Neymar se lança na direção da área adversária, Lucas Paquetá volta, dá opção de passe e abre o espaço no corredor para Raphinha. Com todo o time da Coreia do Sul se voltando para o lado direito, Vinícius Júnior ficou mais livre pelo outro lado. Com organização e boa presença ofensiva, a Seleção Brasileira foi construindo a goleada com autoridade e explorando bem a fragilidade defensiva dos “Tigres da Ásia”.
Não é exagero afirmar que essa foi a primeira vez em que toda a estratégia traçada por Tite funcionou por completo. Por mais que a Coreia do Sul seja considerada por muitos uma equipe bem mais fraca que a Seleção Brasileira, lembrem-se que Son Heung-Min e Hwang Hee-Chan fizeram o goleiro Alisson trabalhar com pelo menos quatro grandes defesas. O time de Paulo Bento sabia se lançar ao ataque (mesmo sabendo dos riscos) e não foi por acaso que Tite pede muita concentração dos seus jogadores quando o adversário tem a bola. Principalmente na composição e da compactação das linhas na frente da área brasileira e com os pontas atentos para roubar a bola e iniciar o contra-ataque.
Vinícius Júnior abriu o placar aos sete minutos, Neymar aumentou a vantagem aos treze cobrando pênalti, Richarlison fez o dele aos 29 minutos (em passe de cinema de Thiago Silva na entrada da área) e Lucas Paquetá balançou as redes após belo cruzamento de Vinícius Júnior. Muito da superioridade da Seleção Brasileira passava pelas engrenagens que funcionavam perfeitamente dentro de campo e pela forma como a equipe conseguiu assimilar as lições deixadas na derrota para Camarões (mesmo com boa parte da imprensa criando um caos totalmente desnecessário).
Vale destacar também a postura do Brasil com a bola. Danilo saía da lateral-esquerda se juntava a Casemiro no meio-campo, Vinícius Júnior poderiam abrir o campo ou aparecer por dentro, Lucas Paquetá se revezava com Neymar vindo buscar o jogo e explorando a entrelinha da Coreia do Sul. Mais atrás, Éder Militão fazia mais um bom jogo como lateral-direito e ajudava bastante na saída de bola. Mas o grande diferencial da Seleção Brasileira era a sincronia de movimentos. Por mais que a Coreia do Sul tenha facilitado, o Brasil também teve (muitos) méritos.
A vantagem de quatro gols construída no primeiro tempo fez com que a Seleção Brasileira tivesse um relaxamento natural na partida. Tanto que a Coreia do Sul diminuiu com um golaço de Paik Seung-Ho após bola rebatida pela defesa brasileira. Mas nada que assustasse. Tite, por sua vez, descansou Neymar, Danilo, Thiago Silva e Vinícius Júnior além de dar uma chance a Weverton no gol brasileiro. Com Gabriel Martinelli, Bremer, Rodrygo e Daniel Alves em campo, o Brasil não mudou seu estilo de jogo e nem sua formação. Seguiu mantendo seu 4-4-2 com um dos pontas fechando uma linha de cinco dependendo do setor onde está a bola. O placar não mudou até o apito final e o Brasil pôde comemorar a goleada.
Este que escreve entende perfeitamente que a Coreia do Sul se mostrou muito mais frágil do que o esperado. Ainda mais vindo de uma classificação épica diante da forte equipe de Portugal. Por outro lado, é sempre bom lembrar que foi a Seleção Brasileira quem deixou a partida desta segunda-feira (5) mais tranquila e mais de acordo com aquilo que ela queria. Cenário que será muito diferente daquele que será encontrado na próxima sexta-feira (9), no Estádio Cidade da Educação. A Croácia vai exigir muito mais concentração e uma execução ainda mais precisa de toda a estratégia traçada por Tite. Ainda mais sabendo que o Brasil vai se deparar com uma das trincas de meio-campo mais talentosas do planeta.
A Seleção Brasileira conseguiu vencer seus medos e controlar os nervos para não complicar uma partida tranquila apesar da pressão do jogo único das oitavas de final da Copa do Mundo. Não deixa de ser uma resposta à altura das críticas que já questionavam o trabalho de todo um ciclo. E a vitória desta segunda-feira (5) também pode ser um forte sinal de que as coisas podem melhorar daqui pra frente. Mesmo num confronto contra a atual vice-campeã da Copa do Mundo.