Argentina aproveita a pasmaceira da Polônia e encaixa a sua melhor atuação na Copa do Mundo até aqui
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca o jogo desta quarta-feira (30) e as ideias de Lionel Scaloni e Czeslaw Michniewicz
Sim, podemos dizer que a Argentina “finalmente estreou na Copa do Mundo”. A equipe comandada por Lionel Scaloni simplesmente amassou a Polônia durante todos os noventa (e poucos) minutos de partida, venceu por 2 a 0 e se garantiu nas oitavas de final com sua melhor atuação coletiva até o momento na primeira posição do Grupo C conforme o esperado. No entanto, precisamos relativizar algumas coisas. A começar pela pasmaceira do time comandado por Czeslaw Michniewicz, que dava a impressão de “contar com o ovo na cloaca da galinha” parta se classificar para a próxima fase. E diante do que se via no Estádio Lusail, a Albiceleste fez aquilo que deveria ser feito.
Muita gente se surpreendeu quando Lionel Scaloni divulgou a escalação inicial da Argentina. Molina, Julián Álvarez e Enzo Fernández foram para o jogo nos lugares de Montiel, Lautaro Martínez e Guido Rodríguez com Messi se posicionando como “falso nove” no 4-3-3/3-2-5 do treinador portenho. E o grande mérito dos nossos “hermanos” na partida foi não parar de atacar e de machucar a defesa polonesa. Muito jogo entrelinhas, muitas triangulações e muita intensidade nas trocas de passe com ótimas inversões de jogo buscando o apoio constante de Acuña pelo lado esquerdo.
Do outro lado, o técnico Czeslaw Michniewicz apostava num 4-4-2 de muita compactação na frente da área do goleiro Szczesny (o melhor em campo junto com Enzo Fernández e Messi apesar do pênalti desperdiçado) e que tinha o claro objetivo para atrair a Argentina para seu campo para acionar Lewandowski nos contra-ataques. A ideia em si era boa, mas esbarrava na execução. Isso porque o grande problema da Polônia estava na passividade com que seus jogadores observavam seu forte adversário trabalhar a bola entrelinhas. E isso facilitava demais o trabalho da Albiceleste.
Boa patre da estratégia de Lionel Scaloni também passava pelo posicionamento de Messi nos momentos em que a Argentina tinha a bola. Ao invés de jogar mais à frente, o camisa 10 da Albiceleste tinha liberdade para circular por todo o campo e abrir espaços para as entradas de Mac Allister e Di María em diagonal e até mesmo para as infiltrações do volante De Paul. É interessante notar que o time portenho às vezes se comportava de forma semelhante à Argentina César Luis Menotti (campeã mundial em 1978) com o ataque em “W” e muita qualidade nas trocas de passe. A grande diferença estava na intensidade colocada pelos jogadores. Só mesmo Szczesny para frear Messi e companhia.
Messi perdeu um pênalti, mas foi um dos melhores em campo. O camisa 10 da Argentina jogou demais! Assim como Enzo Fernández, Julián Álvarez e Alexis Mac Allister. Mas é interessante notar que a jogada do primeiro gol (marcado pelo camisa 20 logo no início da segunda etapa) foi toda construída por Molina e Di María em jogada trabalhada pela direita. E temos aí alguns dos princípios básicos de todo time que quer furar uma retranca. Com os jogadores se movimentando para “atacar” o espaço e criando associações para que as tabelas saiam, tudo fica mais fácil. E vale destacar também a corrida em diagonal de Mac Allister para fugir dos volantes Krychowiak e Bielik.
O segundo gol da Argentina (marcado por Julián Álvarez) seguiu o mesmo processo. De Paul inverte a jogada e Paredes aciona Enzo Fernández mais à esquerda. O camisa 24 carrega a bola até a entrada da área e espera o momento certo de fazer o passe para o atacante do Manchester City. Notem como Messi se posiciona mais à frente dessa vez e prende os zagueiros que estão no seu setor. Tudo para que Álvarez pudesse receber a bola em condições de ajeitar o corpo e finalizar sem defesa para Szczesny. Por mais que a Polônia tenha facilitado a vida da equipe de Lionel Scaloni, a Argentina finalmente mostrou o futebol (ou parte dele) que vinha jogando até bem pouco tempo.
Este que escreve entende bem que a equipe de Czeslaw Michniewicz quase não competiu contra a Argentina. Difícil enfrentar um time que se impõe na base da intensidade nas trocas de passe e na aproximação dos jogadores e que possui tanta qualidade individual. Aliás, é preciso deixar bem claro que o time de Lewandowski jogou muito pouco nessa Copa do Mundo. Não que se esperasse tanto do escrete europeu, mas a falta de competitividade e a forma como o time se comportou no jogo mais complicado do grupo beirou a irresponsabilidade. A sorte é que o México não conseguiu vencer a Arábia Saudita por mais de um gol de diferença. A Polônia está devendo e MUITO nesse Mundial.
Certo é que a Argentina fez aquilo que se esperava dela e deu o “recado” para as demais seleções que se classificaram para as oitavas: a Albiceleste chegou e vai dar trabalho. As alterações de Lionel Scaloni surtiram o efeito desejado e o time se comportou bem dentro de campo. É verdade que ainda há um pouco de nervosismo nas tomadas de decisão e nas chances de gol desperdiçadas. Mas todo mundo sabe que não é lá muito prudente duvidar da capacidade de uma das equipes mais qualificadas dessa Copa do Mundo do Catar. Mas não é mesmo.