França confirma o favoritismo na Copa do Mundo mesmo sofrendo mais do que deveria contra a Inglaterra
Luiz Ferreira analisa a partida deste sábado (10) e as ideias de Gareth Southgate e Didier Deschamps na coluna PAPO TÁTICO
Não é de hoje que este que escreve fala sobre a consistência e o alto grau de competitividade da França de Didier Deschamps, Mbappé, Giroud, Griezmann e companhia. Neste sábado (10), “Les Bleus” seguraram uma das melhores seleções da Inglaterra dos últimos vinte anos e se garantiram nas semifinais da Copa do Mundo e seguem firmes em busca do bicampeonato. Dito isto, é preciso dizer que o escrete francês não fez uma boa partida e sofreu mais do que deveria mesmo com a alta qualidade do seu adversário no Al Bayt Stadium. O time de Gareth Southgate fez uma ótima partida e mostrou que é possível sim superar aquela que é uma das principais favoritas ao título no Catar.
Inglaterra e França protagonizaram um dos jogos mais movimentados dessa Copa do Mundo até o momento. O nível de intensidade aplicado pelas duas seleções era insano! Difícil arrumar um espaço até para tomar um gole d’água. O “English Team” entrou em campo usando a mesma formação da vitória sobre Senegal. Phil Foden foi mantido no ataque ao lado de Saka e Harry Kane e Walker se transformou em “lateral-zagueiro” colou em Mbappé e não deu paz ao camisa 10 francês. Notem que esse posicionamento do camisa 2 exigia que Henderson ocupasse o corredor direito.
Do outro lado, Didier Deschamps também não mexeu na sua formação costumeira. O 4-2-3-1/4-2-4 foi mantido com Rabiot fechando mais o lado esquerdo de defesa para deixar Mbappé mais solto para puxar os contra-ataques. Com Walker avançando pouco, Griezmann também não precisou jogar tão recuado como em outras partidas. E mais à frente, Giroud fazia o “trabalho sujo” que poucos dão importância. Era ele quem arrastava e prendia os zagueiros Stones e Maguire e abria espaços para as chegadas de Dembélé e companhia mais por dentro. Até Tchouaméni pisou mais na área.
Mesmo com seu principal jogador bem vigiado, a França não deixou de atacar e chegou ao primeiro gol numa das suas conhedisíssimas transições em alta velocidade. A bola passou por Mbappé, Upamecano, Dembélé e Griezmann antes de ser rolada para Tchouaméni finalizar sem chances de defesa para Pickford. O lance todo mostra como “Les Bleus” usam a movimentação dos jogadores de frente para abrir espaços para quem vem de trás. Giroud prende Walker e Stones, Mbappé fixa Maguire e Luke Shaw e Dembelé arrasta a marcação de Phil Foden. Griezmann vê o camisa 8 chegando na frente da área. E quando Henderson e Bellingham percebem o buraco na frente da área inglesa, já era tarde demais.
É interessante notar que a França estava com a marcação encaixada desde o início da partida. Griezmann (que não precisava voltar tanto) colava em Declan Rice. Rabiot em Henderson. Tchouaméni em Bellingham. Dembélé ficava com Luke Shaw, Koundé com Phil Foden e Theo Hernández com Saka. Não foi por acaso que as melhores chances da Inglaterra no primeiro tempo surgiram da movimentação de Harry Kane entre zagueiros e volantes franceses. Varane e Upamecano vacilaram em alguns momentos e o camisa 9 só não abriu o placar porque Lloris evitou o pior.
Gareth Southgate corrigiu o posicionamento do “English Team” no intervalo e adiantou a marcação. Henderson fazia boa dupla com Saka pelo lado direito e Harry Kane começou a explorar ainda mais os espaços no 4-2-4 de Didier Deschamps (ainda mais sabendo que Mbappé não voltava e obrigava Rabiot a fechar o lado esquerdo de defesa). Aos seis minutos da segunda etapa, Saka (um dos melhores em campo pela Inglaterra) avançou pela direita, tabelou com Bellingham e sofreu a penalidade que o brasileiro Wilton Pereira Sampaio marcou e Harry Kane converteu.
Depois que Maguire e Saka desperdiçaram grandes chances de virar a partida no Al Bayt Stadium, a França chegou ao gol da vitória com Giroud, aos 32 minutos do segundo tempo com Giroud completando cruzamento de Griezmann. Curiosamente, o mesmo camisa 9 quase guardou o seu no lance anterior em jogada muito semelhante (e que demonstra a força da jogada de bola aérea do time de Didier Deschamps). Tudo acontece como já descrito anteriormente. O trio ofensivo prende os zagueiros adversários e um dos jogadores de meio-campo atacam o espaço dentro da área. “Les Bleus” ganharam profundidade e, consequentemente, campo para atacar. Há padrão de jogo e regularidade na França.
Ainda houve tempo para Harry Kane desperdiçar penalidade de Theo Hernández em Mason Mount e para Rashford quase empatar nos últimos segundos da partida em cobrança de falta. Apesar da derrota, precisamos reconhecer que a Inglaterra de Gareth Southgate jogou melhor do que os atuais campeões mundial e indicou os caminhos que podem ser explorados pelos próximos adversários. Walker foi brilhante na marcação a Mbappé e não deixou o camisa 10 francês respirar em campo. Além disso, ficou claro que Didier Deschamps precisa corrigir a cobertura defensiva da sua França. Com Rabiot fechando o lado esquerdo, Tchouaméni fica com uma grande faixa de campo para cobrir.
Mesmo assim, a França mostrou sua força e confirmou seu favoritismo ao título da Copa do Mundo mesmo sem jogar tão bem e sofrendo além do necessário. Apesar da superioridade, o time de Didier Deschamps ainda sofre com o ar “blasé” que contamina o time em determinados momentos dos jogos no Catar. Contra adversários mais organizados (como uma Argentina numa possível final), as coisas podem se complicar de vez. “Les Bleus” são fortíssimos. Mas não são invencíveis. E isso ficou claro neste sábado (10).