Não é exagero nenhum afirmar que a França encaixou a sua melhor atuação coletiva nesta Copa do Mundo neste domingo (4), na vitória por 3 a 1 sobre a Polônia. Mas talvez a grande notícia para “Les Bleus” é que ficou mais do que provado que o escrete comandado por Didier Deschamps é muito mais do que “apenas” a soma dos talentos de Tchouaméni, Mbappé, Giroud, Griezmann, Dembélé e companhia. A atual campeã mundial parece ainda mais sólida, mais envolvente e ainda mais disposta a quebrar recordes do que há quatro anos. A Polônia de Czeslaw Michniewicz até que tentou competir, mas esbarrou na altíssima intensidade e no forte jogo coletivo do seu forte e confiante adversário.
Todo time de futebol é a soma dos seus talentos em campo e com a França não é diferente. A questão aqui é perceber como Didier Deschamps conseguiu potencializar todas as qualidades dos seus seus jogadores e transformá-los numa equipe muito difícil de ser batida. Falando especificamente do jogo deste domingo (4), o treinador manteve o seu 4-2-3-1 básico com Dembélé e Mbappé voando pelos lados, Giroud no comando de ataque e Griezmann na criação (junto de Rabiot). Notem que essa formação não é fixa. O escrete francês joga com muita fluidez quando tem a bola.
Do outro lado, o técnico Czeslaw Michniewicz apostou num 4-1-4-1 com Krychowiak na frente da defesa, Zielinski e Szymanski por dentro e Lewandowski mais adiantado no ataque. O problema é que o volume de jogo da França era quase insano e não deixava que a Polônia trocasse mais do que três passes no meio-campo. Quando conseguiu chegar no campo de ataque, o fez por meio de ligações diretas para os pontas Frankowski e Kaminski às costas dos bons laterais Koundé e Theo Hernández. Faltava, no entanto, fôlego, criatividade e concentração ao ataque polonês.
Na prática, “Les Bleus” seguem vários padrões na movimentação ofensiva. Varane recebe a bola na defesa e vai levando até o meio-campo. Ele pode passar para Upamecano, acionar os volantes Tchouaméni e Rabiot, tentar o passe para Mbappé por dentro ou abrir o jogo com Dembélé na direita. Há opções para todos os gostos. E o fato da Polônia novamente ter sido passiva demais na marcação, só facilitou o trabalho da França na construção das suas jogadas. Há espaço de sobra para que Mbappé recue e Rabiot avance, por exemplo. Ou para que Griezmann baixe até os volantes para abrir espaços para as infiltrações dos pontas e dos laterais na direção do gol adversário. Há opções de sobra.
Apesar do amplo domínio, o primeiro gol francês só saiu aos 44 minutos do primeiro tempo e mostra muito bem toda a dinâmica que Didier Deschamps implantou na sua equipe. Koundé e Theo Hernández abrem o campo, Rabiot recua, Griezmann ocupa o espaço mais à frente, Mbappé se desloca para receber o passe de Upamecano e toca para Giroud. O camisa 9 gira em cima da marcação e toca na saída de Szczesny (que fez o que pôde para diminuir o estrago). Notem que há sempre mais de uma opção de passe, um jogador sempre aparece para dar apoio para quem está com a bola no momento. E isso acontece o tempo todo no atual campeão da Copa do Mundo e explica o domínio de “Les Bleus” nas últimas partidas.
O panorama seguiu o mesmo no segundo tempo, mas com algumas mudanças. Talvez com o objetivo de poupar fôlego para a sequência da Copa do Mundo, a França baixou um pouco o bloco e criou o espaço que Mbappé gosta de usar quando parte com a bola dominada em alta velocidade. Com Giroud muito atento no trabalho de pivô e Dembélé muito participativo pelos lados do campo, o camisa 10 partia como um raio da esquerda para dentro sempre com a conhecida habilidade e a capacidade de enganar os adversários num chute ou num drible. E com Dembélé e Giroud temporizando e arrastando a marcação, tudo fica mais fáicl para o agora artilheiro da Copa do Mundo com cinco gols em quatro partidas.
Ainda houve tempo para Lewandowski diminuir o estrago cobrando pênalti duas vezes já nos acréscimos da partida. A França segue firme e forte na sua caminhada rumo ao terceiro título mundial e demonstra uma consistência e um volume ofensivo muito maior do que em 2018. Mbappé parece ainda mais maduro e forte, Griezmann (talvez o principal jogador do escrete de Didier Deschamps na opinião deste que escreve) se transformou no verdadeiro maestro do meio-campo francês e Giroud vai fazendo com que a torcida se esqueça de Benzema. Não somente por ter assumido o posto de maior artilheiro da sua seleção, mas pela forma cerebral com que atua no comando de ataque. Fora Varane, Lloris, Koundé…
O grande mérito de Didier Deschamps foi pegar todos esses talentos e organizar tudo dentro de campo. Engana-se quem pensa que a França se resume ao talento individual. Estamos falando de uma equipe fortíssima taticamente e que parece ter assimilado ainda mais os conceitos do seu treinador. A tática dentro do futebol faz isso que “Les Bleus” fazem dentro das quatro linhas: potencializar o talento e colocá-lo à serviço da coletividade. Grandes equipes se formam desse jeito.