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Copa do Mundo 2022: França se garante na grande final na base da adaptação e da versatilidade

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Didier Deschamps montou sua equipe para travar o Marrocos de Walid Regragui

Por Luiz Ferreira em 15/12/2022 11:22 - Atualizado há 10 meses

Reprodução / Twitter / Equipe de France

É verdade que a valente equipe do Marrocos fez uma grande Copa do Mundo e mostrou condições de chegar ainda mais longe na competição. Só que a França comprovou que ainda é uma das fortíssimas candidatas ao título com a vitória por 2 a 0 no Al Bayt Stadium. Mais do que mostrar a conhecida frieza nos momentos decisivos, “Les Bleus” superaram os “Leões do Atlas” aliando uma capacidade incrível de adaptação a cada cenário que a partida desta quarta-feira (14) apresentou com uma impressionante versatilidade tática. E não é exagero afirmar que essa é um dos pontos mais fortes da equipe comandada por Didier Deschamps. Adaptar-se ao jogo e criar alternativas para atingir seus objetivos.

Pode não parecer nada, mas a França vem jogando dessa forma nessa Copa do Mundo. Ora adianta a marcação e pressiona a saída de bola do adversário, ora baixa suas linhas e abre mão da posse para aproveitar os espaços no contra-ataque. Tudo para que seu oponente se sinta o mais desconfortável possível dentro de campo. E isso foi visto na partida desta quarta-feira (14). Na prática, Didier Deschamps (mesmo com os desfalques importantes de Upamecano e Rabiot) obrigou o time comandado por Walid Regragui a sair da sua “zona de conforto” e propor mais o jogo.

O técnico francês manteve seu 4-2-3-1/4-2-4 habitual com Konaté na zaga e Fofana no meio-campo. “Les Bleus” ganharam mais força na marcação com o camisa 13 em campo e Griezmann mais solto para ocupar o espaço entrelinhas do seu adversário. Já Walid Regragui optou por uma linha de cinco jogadores na frente da área de Marrocos com Dari na zaga (substituindo Nayef Aguerd, que sentiu no aquecimento), Mazraoui e Hakimi nas alas e o conhecido tripé ofensivo formado por En-Nesyri, Ziyech e Boufal. O ótimo Amallah virou opção no banco de reservas.

Formação inicial das duas equipes no Al Bayt Stadium. Konaté e Fofana entraram nos lugares de Upamecano e Rabiot e Walid Regragui apostou numa linha com cinco defensores.

Sempre que a França tinha a posse da bola, os jogadores tentavam ocupar os espaços que apareciam da melhor maneira possível. Lembrem-se de que o futebol é um esporte de cobertor curto e que é impossível cobrir o campo todo. Theo Hernández e Dembélé abriam o campo, Mbappé se aproximava de Giroud e a última linha avançava para participar da construção das jogadas. Foi numa dessas que Varane encontrou Griezmann na intermediária. O camisa 7 aproveitou o bote errado de El Yamiq e iniciou a jogada que terminou com Theo Hernández balançando as redes. Bastaram cinco minutos para que a França tirasse Marrocos da sua “zona de conforto” e condicionasse toda a partida no Al Bayt Stadium a seu favor.

O bote errado de El Yamiq e a movimentação de Griezmann e de todo o ataque francês venceram a marcação marroquina no lance do gol de Theo Hernández. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

Difícil não concluir que todo o plano de Walid Regragui para o jogo desta quarta-feira (14) caiu por terra logo nos primeiros minutos. O bom zagueiro Saïss (que entrou no sacrifício) não aguentou e foi substituído por Amallah. Com isso, o treinador dos “Leões do Atlas” retornou ao seu 4-1-4-1 costumeiro com Ounahi, Boufal e Ziyech se movimentando muito na intermediária e obrigando Lloris a trabalhar. Por mais que o adversário impusesse respeito, Marrocos não se dava por vencido e mostrava que ainda havia muita coisa pela frente no Al Bayt Stadium.

Mas a França ia se adaptando ao que o jogo pedia. O time de Didier Deschamps alternava a marcação mais baixa com a valorização da posse de bola para ganhar fôlego. Duas linhas com quatro jogadores bem próximos uns dos outros com ótima coordenação dos movimentos. Se Tchouaméni saía do centro para fechar o lado esquerdo (onde Ziyech fazia ótima dupla com Hakimi), Griezmann ocupava o espaço que era do camisa 8 quase como um volante. Tudo para liberar Giroud e Mbappé das obrigações defensivas e deixá-los prontos para iniciar o contra-ataque.

Com Amallah no lugar de Saïss, Marrocos voltou ao 4-1-4-1, mas a França se fechou na defesa com duas linhas. Giroud e Mbappé ficavam mais à frente. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

Conforme o tempo ia passando, a França ia se adaptando a cada cenário e a cada nova investida de Marrocos na partida. Com isso, as variações táticas de Didier Deschamps iam aparecendo e dando conta do recado. Se Mbappé se aproximava de Giroud mais por dentro, Theo Hernández se transformava em ala pela esquerda. Se Koundé se comportava como “lateral-base”, Dembélé abria o campo pela direita. E tudo isso era feito naturalmente, quase que “de memória”. Mas talvez o grande nome dessa equipe francesa nessa Copa do Mundo seja Griezmann. O camisa 7 entendeu sua função em campo e a executa com uma perfeição incrível. Ele é atacante, é meia de criação, é volante. Tudo ao mesmo tempo.

Walid Regragui sacou Mazraoui (outro que entrou sem muitas condições físicas) e mandou Attiat-Allah para o jogo. Marrocos seguiu pressionando bem a posse de bola e encaixou ótimos contra-ataques que foram travados por Konaté (um dos melhores em campo na opinião deste que escreve). Deschamps respondeu com a entrada de Marcus Thuram no lugar de Giroud e reequilibrou a marcação pelo lado esquerdo. Mas coube aos volantes Tchouaméni e Fofana iniciar a jogada que resultou no gol de Kolo Muani aos 34 minutos do segundo tempo com ótima leitura dos espaços no ofensivo 4-2-4 marroquino e a movimentação correta dos atacantes. Tudo na base da adaptação e da versatilidade de um elenco altamente talentoso.

Tchouaméni intercepta o passe, Fofana se lança ao ataque e inicia a jogada que vai resultar no gol de Kolo Muani. Adaptação e versatilidade tática. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

É bem verdade que Marrocos poderia até ter criado mais problemas para a França. El Yamiq acertou a trave de Lloris com uma bicicleta no final do primeiro tempo e o trio ofensivo pecou demais em algumas tomadas de decisão depois de vencer a última linha adversária. Por outro lado, o time comandado pro Walid Regragui mostrou que não chegou nas semifinais da Copa do Mundo por obra do destino. Os “Leões do Atlas” competiram demais e mostraram toda a força do futebol africano. Se a França teve que se adaptar a cada cenário e usar variações táticas para chegar à vitória, muito disso se deve às dificuldades impostas pelo seu valente e organizado adversário no jogo desta quarta-feira (14).

A França tem agora a oportunidade de se juntar à Itália de Vittorio Pozzo e ao Brasil de Vicente Feola e Aymoré Moreia como os únicos bicampeões consecutivos de uma Copa do Mundo. Só que o adversário do domingo (18) é a cada vez mais vibrante Argentina de Lionel Messi. A decisão do Mundial do Catar vai exigir do escrete comandado por Didier Deschamps uma capacidade de adaptação que ainda não foi mostrada nessas últimas semanas. É também o grande teste da geração de Mbappé, Griezmann e companhia.

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