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As lições que a campanha na Copa do Mundo de 1994 deixam para a Seleção Brasileira e seu futuro técnico

Luiz Ferreira destaca o processo de construção do grupo vencedor do tetracampeonato mundial na coluna PAPO TÁTICO

Por Luiz Ferreira em 17/12/2022 01:22 - Atualizado há 11 meses

Rafael Ribeiro / CBF

Carlo Ancelotti, Dorival Júnior, Mano Menezes, Fernando Diniz, Rogério Ceni, Abel Ferreira, Jorge Jesus e Pep Guardiola. Os nomes ventilados para substituir Tite no comando da Seleção Brasileira quase enchem os dedos de duas mãos. É natural que especulações desse tipo tomem conta do noticiário do futebol nacional nesse final de 2022 por conta da campanha decepcionante na Copa do Mundo do Catar. Só que o passado recente nos mostra que defender o discurso de “terra arrasada” não é uma escolha lá muito sábia. É nesse sentido que a campanha vitoriosa do Mundial de 1994 traz lições valiosas a Seleção Brasileira e seu futuro treinador (seja ele quem for).

A ideia aqui não é realizar uma ode ao passado, mas entender como os protagonistas de décadas passadas conseguiram superar todos os obstáculos até atingir o objetivo principal ao se depararem com um cenário semelhante ao atual. Em 2026, o Brasil vai igualar o jejum de conquistas da Copa do Mundo que Romário, Bebeto, Carlos Alberto Parreira e companhia tinham em 1994, nos Estados Unidos. Estamos falando de 24 anos sem conquistas da maior competição de futebol do planeta. A construção do grupo que finalmente nos deu o tão sonhado tetracampeonato é um ótimo exemplo de como é preciso ter calma, tranquilidade e prudência na condução de qualquer time.

Quatro anos antes dos Estados Unidos, no entanto, a Seleção Brasileira vinha de uma eliminação doída para a Argentina de Maradona nas oitavas de final da Copa do Mundo da Itália. A equipe jogou num 3-5-2 com Jorginho e Branco soltos nas alas e fez jogos ruins contra Suécia, Costa Rica e Escócia na fase de grupos, mas teve sua melhor atuação justamente na derrota por 1 a 0 para a Albiceleste. Ao final da partida, o discurso era o de “terra arrasada”, de “crise” e de responsabilização de Sebastião Lazaroni e de boa parte do grupo que entrou em campo. Principalmente Dunga, que acabou virando “símbolo” de uma geração considerada fracassada por muita gente.

A Seleção Brasileira fez a sua melhor partida na Copa do Mundo de 1990 na derrota para a Argentina. O 3-5-2 de Sebastião Lazaroni foi alvo de várias críticas durante o Mundial.

Notem como esse discurso se repete sempre que o resultado não é esperado. Há a caça às bruxas e o desejo de se apagar tudo e começar do zero sem tentar ao menos perceber o que o ciclo passado deixou de bom. E acreditem: sempre há coisas boas a serem resgatadas. E foi o que Carlos Alberto Parreira e sua comissão técnica fizeram depois de assumirem a Seleção Brasileira após a passagem irregular de Paulo Roberto Falcão e o vice-campeonato na Copa América de 1991. Vale destacar também que o grupo ainda contava com Taffarel, Mazinho, Ricardo Rocha e Branco, remanescentes da Copa do Mundo de 1990 e outros que fariam parte do grupo vitorioso em 1994.

Parreira reuniu os jogadores que considerava fundamentais e implementou um sistema de jogo altamente eficiente, baseado no toque de bola e na valorização da posse. Apesar dos tropeços(incluindo a derrota para a Bolívia em La Paz, a primeira do Brasil nas Eliminatórias), o comandante se manteve firme no seu projeto e viu sua equipe recuperar a confiança após uma verdadeira sapatada sobre a mesma Bolívia no Arruda. E para completar, Carlos Alberto Parreira ainda contornou a crise envolvendo Romário (que já jogava pelo Barcelona naquela época). O retorno do “Baixinho” se mostraria fundamental para que o Brasil conquistasse o tetra nos Estados Unidos.

Ainda haveria tempo para mais um resgate. Considerado o símbolo do fracasso em 1990, Dunga retornou para a Seleção Brasileira depois que Parreira o testou ao lado de Mauro Silva na goleada sobre a Venezuela em San Cristóbal. Seu 4-4-2 ganhou mais consistência e os laterais Jorginho e Branco (os mesmos da Copa da Itália!!!) ganharam mais liberdade para subir ao ataque. Ganhou a faixa de capitão e se transformou num dos jogadores mais importantes daquela Seleção Brasileira. Era ele quem dava o tom na saída de bola e quem levava a bola ao ataque com ótimos passes e boa condução pelo meio-campo além (é claro) da conhecida força na marcação.

Mesmo indo contra boa parte da imprensa esportiva da época (que pedia um time mais solto no ataque), Carlos Alberto Parreira manteve sua aposta naquilo que acreditava que era o certo. A única vez em que cedeu foi na entrada de Mazinho no lugar de Raí a partir das oitavas de final (como Zagallo revelou em conversa com os colegas de TV Brasil há alguns anos). A Seleção Brasileira venceu Rússia e Camarões e empatou com a Suécia na fase de grupos. Superou os Estados Unidos no dia 4 de julho, venceu a poderosa Holanda de Bergkamp, Koeman, Overmars e Rijkaard e passou pela Suécia nas semifinais na melhor atuação coletiva da equipe na Copa do Mundo.

E na final, a Seleção Brasileira superou a Itália num jogo truncado, cheio de alternativas e que só foi decidido nas penalidades. Romário e Dunga (dois dos personagens principais na nossa análise) converteram suas cobranças, Taffarel (outro nome bastante contestado pela imprensa) defendeu a penalidade de Massaro. O grito de tetracampeão (como todos nós sabemos) veio com Roberto Baggio mandando seu pênalti pra longe da baliza. E tudo isso com uma equipe que, embora bastante criticada por boa parte da imprensa da época, ganhou a admiração de nomes como Pep Guardiola pela valorização da posse da bola e pela solidez defensiva apresentada naquela Copa do Mundo.

Carlos Alberto Parreira manteve suas convicções e montou uma Seleção Brasileira altamente competitiva em 1994. Até mesmo Pep Guardiola se mostrou admirador do futebol daquele time.

Conforme mencionado anteriormente, a ideia aqui não é fazer uma ode ao passado e reforçar o discurso que defende que “antigamente é que era bom”. O objetivo é mostrar que há como se tirar coisas boas de um cenário desfavorável e aproveitar peças de equipes que passaram longe de encantar. Do time que entrou em campo na grande final contra a Itália, Taffarel, Jorginho, Branco, Dunga, Aldair, Mazinho, Bebeto e Romário fizeram parte do grupo que disputou o Mundial de 1990 (na Itália). E o grande acerto de Carlos Alberto Parreira foi perceber que havia potencial no grupo de Sebastião Lazaroni e acomodar os jogadores dentro da sua proposta de jogo. Sem essa de “terra arrasada”.

É verdade que muita coisa aconteceu de 1994 até aqui. Mas as lições ficam para sempre. E seja quem for que vá assumir o comando da Seleção Brasileira precisa ter em mente que Tite deixou sim um legado que pode ser muito bem aproveitado em termos de nomes usados nos dois ciclos e até mesmo modelos táticos. E este que escreve só espera que a história de 1994 se repita novamente em 2026. Com Neymar, Vinícius Júnior ou quem quer que esteja vestindo a amarelinha.

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