Este que escreve nunca gostou de ser “engenheiro de obra pronta” ou “comentarista de resultados”. Analisar um jogo depois que ele se encerra e entender os motivos de uma vitória e uma derrota requer muito mais do que um simples “eu disse” ou um “eu avisei”. Seja como for, a eliminação da Seleção Brasileira da Copa do Mundo não deixa de doer. Podemos questionar uma série de coisas. Por que Neymar não abriu as cobranças de pênalti? Por que Tite não reforçou o meio-campo ainda no tempo normal? E por que Casemiro não fez a falta no meio-campo no lance que originou o gol de empate da Croácia? Perguntas que todos estão se fazendo. Mas que não vão mudar em nada o resultado final.
Eu e você sabíamos que a equipe de Zlatko Dalic tem a melhor trinca de meio-campistas dessa Copa do Mundo. Brozovic, Kovacic e (principalmente) Modric deram aula de controle das ações no jogo e sempre pareciam estar um passo à frente da Seleção Brasileira. É compreensível que Tite tenha mantido a equipe que goleou a Coreia do Sul com Lucas Paquetá ao lado de Casemiro na proteção da zaga, Danilo e Éder Militão nas laterais e Neymar se juntando ao ataque. No entanto, o adversário desta sexta-feira (9) exigia algo além do que esses jogadores podiam dar.
Isso porque o primeiro tempo da partida disputada no Estádio Cidade da Educação nos mostrou uma Croácia que conseguia fugir da pressão pós-perda da Seleção Brasileira com uma facilidade até impressionante, já que esse quesito era um dos pontos fortes da equipe comandada por Tite. Mas o que se via era um time com dificuldades gigantes para encaixar a marcação no campo de ataque e para manter a posse da bola. Não foram poucas as vezes em que Modric, Brozovic, Perisic e companhia encontravam verdadeiras crateras no meio-campo brasileiro. Faltava concentração.
Com todas as dificuldades para encaixar a pressão na Croácia, a última linha de defesa brasileira ia ficando sobrecarregada e Casemiro se via obrigado a correr por ele e por Lucas Paquetá e Neymar. Além dos problemas na defesa, o Brasil pecava pela lentidão nas transições para o ataque por conta da organização do seu forte adversário (lembrem-se de que o time de Zlatko Dalic é o atual vice-campeão mundial) e pela falta de mobilidade de Vinícius Júnior, Richarlison e Raphinha. Neymar, por sua vez, estava encaixotado no lado esquerdo e pouco participava da construção das jogadas. Do outro lado, a Croácia baixava o bloco até a linha da sua área e via o Brasil rodar a bola sem objetividade.
A Seleção Brasileira voltou mais arrumada para o segundo tempo, mas Tite percebeu logo que Vinícius Júnior e Raphinha não conseguiuam vencer a marcação da Croácia e nem fechar o corredor. As entradas de Rodrygo e Antony (gostem ou não) melhoraram o desempenho da equipe canarinho, mas ainda faltava aquele ingrediente, aquele “algo mais”, o improviso e o drible para furar a retranca imposta pelo técnico Zlatko Dalic. A Croácia colocava até nove jogadores na entrada da área e encaixotava os atacantes brasileiros. Não por acaso, as melhores jogadas do time comandado por Tite surgiram do drible e das descidas até a linha de fundo. Mesmo assim, ainda faltou calma para vencer Livakovic.
Na prática, uma das únicas vezes em que a Seleção Brasileira realmente conseguiu encaixar seu jogo durante os 120 minutos de bola rolando no Estádio Cidade da Educação foi no lance do gol marcado por Neymar já no último minuto do primeiro tempo da prorrogação. Aliás, essa foi uma das poucas vezes em que o camisa saiu do lado esquerdo e procurou Paquetá por dentro (em jogadas vistas várias e várias vezes nesse ciclo até o Mundial do Catar). Neymar recebe de Rodrygo no espaço entrelinhas da Croácia, faz a tabela, entra na área e se livra de Livakovic antes de estufar as redes da Croácia. Golaço que teve a marca indelével do toque de bola tão característico dessa Seleção Brasileira.
No entanto, se faltou tranquilidade para furar a defesa da Croácia, falou controle das ações no meio-campo e um pouco de paciência para “cozinhar” o jogo até o final da prorrogação. Difícil entender o salto que Fred fez do meio-campo até a linha de fundo adversária e a forma como Casemiro se comportou no contra-ataque puxado por Modric desde o meio-campo. Foram dez segundos de um apagão tático praticamente impossível de se explicar. Ainda mais vindo de uma equipe que sempre foi reverenciada por sua organização defensiva. De Modric para para Vlasic e deste para Orsic no lado esquerdo. Bastou levantar a cabeça para ver Petkovic se desgarrando da marcação e atacando o espaço na entrada da área.
Na decisão por penalidades, acabou pesando demais a falta de concentração e de força mental para superar um adversário cascudo e com a confiança na estratosfera. Rodrygo e Marquinhos desperdiçaram as suas penalidades e a Seleção Brasileira viu a Croácia comemorar a sua classificação para as semifinais da Copa do Mundo. Neymar ou outro jogador mais experiente poderiam ter assumido a bronca e abrir as cobranças. No entanto, como dizem os antigos, “Inês é morta”. Faltou ao Brasil controlar mais o jogo no meio-campo (um dos problemas dessa equipe) e também mais controle dos próprios nervos para segurar a onda na marca de cal. Exatamente como o time de Zlatko Dalic fez nesta sexta-feira (9).
Este que escreve já abordou alguns problemas da Seleção Brasileira e criticou algumas das ideias de Tite. Mas não existe isso de chamar o trabalho de “ruim” ou “péssimo”. Os números falam por si só. E é mais do que certo que ele deixa um legado imenso para quem for assumir o comando do escrete canarinho em 2023. Mas que fique registrado que a falta de força mental fez diferença em mais uma eliminação em quartas de final de uma Copa do Mundo. Que aprendamos com as lições deixadas. Em 2026 estaremos de volta.