Croácia faz o básico, se garante nas oitavas e decreta eliminação melancólica da Bélgica na Copa do Mundo
Luiz Ferreira analisa o empate sem gols desta quinta-feira (1) e as ideias de Zlatko Dalic e Roberto Martínez na coluna PAPO TÁTICO
Se existe uma coisa que as Copas do Mundo nos ensinam é que vitórias e derrotas não acontecem por acaso. A Bélgica, alardeada por muitos como uma das seleções mais talentosas da década passada, está eliminada do Mundial do Catar após empate sem gols contra a Croácia. É verdade que a equipe comandada por Roberto Martínez produziu muito mais nesta quinta-feira (1) do que nas partidas contra Canadá e Marrocos, mas faltou fazer algo além do básico para superar os atuais vice-campeões mundiais. O time de Zlatko Dalic fez o simples e contou com as falhas incríveis dos “Diabos Vermelhos” nas conclusões a gol para se classificar para as oitavas de final.
A Croácia foi para o jogo contra os belgas com a mesma escalação da goleada sobre o Canadá. Livaja ficou mais fixo no ataque com Kramaric mais solto pelo lado direito e Perisic voando da esquerda para dentro no 4-1-4-1 preferido de Zlatko Dalic. Mais atrás, Brozovic, Kovacic e Modric formavam a trinca de meio-campo (uma das melhores do Mundial na humilde opinião deste que escreve) à frente da linha de quatro defensores. Tudo para enfrentar um adversário que prometia se lançar ao ataque desde o começo da partida no Ahmed bin Ali Stadium.
Do outro lado, Roberto Martínez manteve Castagne na lateral-esquerda, sacou Eden Hazard, Onana, Lukaku e Batshuayi e apostou em Trossard, Dendoncker e no veterano Mertens. Na prática, um 4-2-3-1 com De Bruyne e Carrasco pelos lados do campo, Meunier mais solto pela direita e Witsel na proteção da zaga. Os primeiros quinze minutos nos deixaram a impressão de que Bélgica e Croácia fariam um jogo altamente movimentado por conta das duas chances de gol claras e pelo pênalti anulado pelo VAR. No entanto, o ritmo caiu muito e faltou agressividade dos dois lados.
O grande problema da Croácia estava na compactação das linhas do 4-1-4-1 de Zlatko Dalic. Por mais que o time chegasse com muita gente na área de Courtois, o “Time Xadrez” falhava na recomposição e sobrecarregava a sua última linha. Esse panorama ficou ainda mais perceptível após o intervalo com a entrada de Lukaku no lugar de Mertens. Mesmo longe da melhor forma física e quase sem ritmo, o camisa 9 dos “Diabos Vermelhos” foi importante nas jogadas de ataque ao prender os zagueiros Lovren e Gvardiol e abrir espaço para as chegadas de De Bruyne e companhia. O que ninguém esperava era essa quantidade enorme de chances desperdiçadas durante a segunda etapa.
Do outro lado, a Croácia se segurava na base das transições rápidas com Kramaric e Perisic e a dinâmica colocada por Kovacic e Modric no meio-campo. A equipe de Zlatko Dalic ainda levou certo preigo ao gol de Courtois por duas oportunidades e ainda aproveitava a marcação frouxa da Bélgica, que se defendia com apenas sete jogadores. As coisas melhoraram para os “Diabos Vermelhos” com a entrada de Thorgan Hazard no lugar de Trossard, mas o desempenho defensivo não permitia que a equipe exercesse uma pressão ainda mais forte no ataque. E nesse sentido, um grande responsável pelo empate sem gols foi o zagueiro Gvardiol com ótima leitura da movimentação belga.
A Croácia acabou sentindo a forte exigência física da partida e recuou demais no final da partida. Lukaku, por sua vez, desperdiçou pelo menos três chances claras de garantir a classificação da Bélgica para as oitavas de final. Doku e Eden Hazard entraram e os “Diabos Vermelhos” se lançaram na direção da área da Croácia com cinco atacantes (!!!), mas sem a efetividade necessária para chegar ao gol. Tudo por conta das tomadas de decisão erradas nos momentos decisivos. De Bruyne sempre procurou o espaço vazio, mas quase não recebeu passes na frente da área para tentar o chute a gol ou o passe em profundidade para os companheiros de equipe. Aí ficou difícil.
A grande verdade, meus amigos leitores, é que a Bélgica não fez por merecer a classificação. O time de Roberto Martínez acabou sendo notícia mais pelas brigas no vestiário do que pelo futebol apresentado no Catar. Esse também não deixa de ser o capítulo final de uma geração altamente talentosa, mas que deixa a sensação de que o time “bateu no teto” em 2018 com o terceiro lugar na Rússia. A falta de renovação, o péssimo clima nos bastidores e a necessidade de se apostar todas as fichas em jogadores que estão em péssima forma física cobraram seu preço. É assim em qualquer time de futebol do planeta. E não seria diferente com os “Diabos Vermelhos”.
Já a Croácia fez o básico para se classificar para as oitavas de final. E talvez o grande mérito do time comandado por Zlatko Dalic foi o fato de não ter “sentado em cima” do passado. Por mais que o “Time Xadrez” seja o atual vice-campeão da Copa do Mundo, Modric, Perisic, Kovacic, Lovren, Gvardiol e companhia sabem muito bem que a história é completamente diferente da que eu e você vimos há quatro anos. E toda Copa do Mundo exige entrega, dedicação e equilíbrio. Coisas que a Bélgica ignorou completamente nesse Mundial do Catar.