Apesar da vitória sobre a Costa Rica, Alemanha é punida pelos erros e está fora de mais uma Copa do Mundo
Na coluana PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a eliminação do time de Hans-Dieter Flick e a goleada desta quinta-feira (2)
Não foi acidente de percurso ou “capricho” dos deuses e deusas do velho e rude esporte bretão. Por tudo que mostrou no Catar, a Alemanha mereceu (e MUITO) ser eliminada na fase de grupos da Copa do Mundo pela segunda vez consecutiva. Nem mesmo a goleada sobre a Costa Rica foi suficiente para colocar a equipe comandada por Hans-Dieter Flick nas oitavas de final. Acabou que a derrota para o Japão, a fragilidade defensiva e a falta de efetividade nas conclusões foram determinantes em mais uma campanha ruim em Mundiais. “Los Ticos” bem que tentaram tornar a tarde do brasileiro ainda mais divertida com uma virada inesperada, mas faltou qualidade para segurar o resultado.
Qualidade essa que a Alemanha tem de sobra no seu elenco. No entanto, o time de “Hansi” Flick ficou marcado pelo desequilíbrio. Falando do jogo desta quinta-feira (2), o treinador germânico apostou num 4-3-3 com Kimmich na lateral, Gündogan, Goretzka e Musiala no meio e Sané se juntando ao experiente Thomas Müller e ao habilidoso Gnabry no ataque. A necessidade de golear a Costa Rica fez com que a Alemanha se lançasse ao ataque e criasse quatro chances claras e balançado as redes com Gnabry após belo cruzamento de David Raum do lado esquerdo.
Do outro lado, o técnico Luis Fernando Suárez apostou num 5-4-1 para bloquear a entrada da sua área, mas viu sua equipe ser engolida pelos alemães no primeiro tempo. Juan Pablo Vargas entrou no lugar do suspenso Francisco Calvo na zaga, Gerson Torres e Anthony Contreras foram sacados para as entradas de Johan Venegas e Brandon Aguilera. No entanto, o que se via no Al Bayt Stadium era uma Costa Rica que não conseguia trocar nem três passes seguidos no seu campo e que estava completamente acuada na frente da sua área por conta da pressão da Alemanha.
No entanto, apesar de dominar completamente a partida, a Alemanha não conseguia transformar as chances que criava nos gols que tanto precisava para igualar melhorar seu saldo. Ou Keylor Navas salvava “Los Ticos” com defesas milagrosas, ou o escrete germânico falhava nas tomadas de decisão. A equipe seguia amassando a Costa Rica e explorando bem os espaços que a linha de cinco defensores oferecia com ótimas bolas para Musiala, Goretzka, Sané e Gnabry. Muita pressão em cima de um adversário que sequer conseguia respirar na partida, mas seguidos da queda brusca na concentração e muitas tomadas de decisões erradas que resultaram num jogo mais truncado pelo meio.
Aos poucos, o escrete comandado por Hans-Dieter Flick voltou a cometer os mesmos erros da derrota para o Japão e no empate contra a Espanha. A desconcentração do sistema defensivo quando a Costa Rica finalmente conseguia vencer a pressão dos jogadores de frente foi gritante. Principalmente quando Fuller recebeu lançamento da defesa e aproveitou o vacilo impressionante de David Raum e Rüdiger e só não empatou a partida porque Neuer estava atento. Mas o filme era o mesmo: volume de jogo na estratosfera e verdadeiros latifúndios nas costas da defesa.
A virada do Japão em cima da Espanha complicou ainda mais a vida da Alemanha. Era necessário golear a Costa Rica para não depender de outros resultados. “Hansi” Flick voltou com Klostermann no lugar de Goretzka e deslocou Kimmich para o meio-campo. Do outro lado, Luis Fernando Suárez respondia com a entrada de Youstin Salas no lugar de Aguilera e adiantou Fuller foi jogar mais à frente. Mas a impressão que ficava era a de que o escrete germânico já havia se perdido completamente. Nem mesmo a entrada de Füllkrug conseguiu evitar o que estava por vir.
O desequilíbrio defensivo da Alemanha foi exposto aos 12 minutos da segunda etapa. Raum e Musiala perderam a bola e Watson puxou o contra-ataque que terminou com Tejeda aproveitando rebote de Neuer após cabeçada do mesmo camisa 19 da Costa Rica. Mesmo com Musiala carregando o time de “Hansi” Flick nas costas e criando boas chances de voltar à frente no placar, o problema continuava gritante na defesa. Aos 24 minutos, o zagueiro Vargas aproveitaria nova bobeira coletiva do escrete germânico para virar a partida no no Al Bayt Stadium. Até Havertz (que havia entrado no lugar de Thomas Müller) empatar o jogo novamente, o mundo viu Espanha e Alemanha sendo eliminadas ainda na fase de grupos.
O mesmo Havertz e Füllkrug (herói do empate contra a Espanha) ainda marcaram mais duas vezes, mas viram o Japão segurar o ímpeto da Espanha e comemorar a classificação para as oitavas de final na liderança do Grupo E. Com isso, a Alemanha amargava a sua segunda eliminação consecutiva na fase de grupos de uma Copa do Mundo. E não há como terceirizar a culpa. Os comandados de Hans-Dieter Flick não fizeram partidas completamente ruins. O time dominou quando manteve a concentração e a intensidade, mas pecou nas conclusões a gol e nas tomadas de decisão. Mas o grande problema estava realmente no desequilíbrio do elenco. Ótimos atacantes e zagueiros medianos e inseguros. Não tem jeito.
Que fique bem claro que a Alemanha tentou sim jogar futebol. Ao contrário do que alguns imbecis dizem por aí, a tetracampeã mundial não foi eliminada porque resolveu protestar contra uma série de incoerências e hipocrisias que viu no Catar e na organização da Copa do Mundo. Mas a campanha ruim também deixou bem claro que o tempo em que as principais seleções do planeta venciam apenas com o “nome” já passou há muito tempo. O vencedor é aquele que erra menos e trabalha mais.