Home Futebol Derrota para Camarões não deixa de ser uma “segunda chance” para a Seleção Brasileira na Copa do Mundo

Derrota para Camarões não deixa de ser uma “segunda chance” para a Seleção Brasileira na Copa do Mundo

Luiz Ferreira analisa as escolhas de Tite e aponta possíveis soluções para os problemas da equipe na coluna PAPO TÁTICO

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

O Brasil entrou em campo nesta sexta-feira (2) já classificado para as oitavas de final da Copa do Mundo por conta das vitórias sobre Sérvia e Suíça. Justamente por isso (e pelos poucos dias de intervalo para as oitavas de final) é que Tite optou pela entrada dos reservas na partida contra Camarões. A Seleção Brasileira não fez uma partida ruim. Criou chances, mostrou boa fluência em determinados momentos, mas acabou falhando demais nas conclusões a gol e sofreu para conter o ímpeto dos “Leões Indomáveis”. O gol de Aboubakar (marcado aos 47 minutos da segunda etapa) foi um balde d’água na equipe brasileira. Mas não deixa de ser uma “segunda chance” para o time nessa Copa do Mundo.

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Isso porque apesar da partida abaixo das nossas expectativas (nove entre dez comentaristas exaltavam a qualidade do banco de reservas da Seleção Brasileira antes da bola rolar no Estádio 974), Tite teve a prova de que algumas de suas escolhas não foram lá muito acertadas. Este que escreve não culpa o técnico por ter escolhido poupar os titulares. Muito pelo contrário. Mas há como se apontar alguns problemas do seu 4-4-2/4-2-4 básico visto na última sexta-feira (2). O problema não estava na maneira de jogar, mas na execução das jogadas ofensivas.

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Do time que venceu a Suíça, apenas Éder Militão e Fred começaram o jogo. Gabriel Martinelli e Antony entraram nas pontas, Dani Alves e Alex Telles entraram nas laterais, Gabriel Jesus no comando de ataque e Rodrygo jogou na função que era de Neymar. Apesar dos bons nomes, a Seleção Brasileira encontrou certa dificuldade para enfrentar um Camarões que também saía para o jogo com Choupo-Moting jogando atrás de Aboubakar no 4-4-1-1 de Rigobert Song. Além disso, as entradas de Ngameleu e Mbeumo deram mais qualidade para os “Leões Indomáveis” na recomposição.

Formação inicial das duas equipes. O Brasil tentou se impor, mas esbarrou no ímpeto de Camarões, que marcava e saía para o ataque com muita força.

Vale lembrar que Camarões entrou em campo precisando vencer a Seleção Brasileira por uma boa diferença de gols para tentar a classificação para as oitavas de final. Isso explica a postura mais agressiva de Choupo-Moting, Aboubakar e companhia nas transições e (principalmente) na marcação. Já o Brasil não tinha contundência suficiente para balançar as redes do goleiro Epassy. A melhor opção do escrete canarinho eram as inversões para Gabriel Martinelli no lado esquero. O camisa 26 até que levava vantagem nos confrontos contra Collins Fai quando recebia a bola, mas esteve isolado na maior parte do jogo por conta da concentração de jogadas pelo lado direito com Daniel Alves e Antony.

Gabriel Martinelli foi boa opção pelo lado esquerdo de ataque com bolas longas e inversões, mas foi menos acionado do que deveria. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

Some a isso a dificuldade de Fred em se livrar da forte pressão que os “Leões Indomáveis” faziam na saída de bola e a pouca movimentação de Rodrygo por dentro. Bem diferente de quando Lucas Paquetá e Neymar estão em campo (mesmo abaixo do melhor rendimento). Com isso, a Seleção Brasileira foi sucumbindo aos poucos e permitindo que Camarões começasse a se arriscar mais com subidas ao ataque. Anguissa e Kunde faziam ótimo jogo com a bola e estavam muito atentos na marcação. Boa parte das jogadas de ataque nasciam dos pés dos volantes dos “Leões Indomáveis”.

Não foi por acaso que as principais chances do time de Rigobert Song foram criadas no lado direito da defesa brasileira, evidenciando os problemas de Daniel Alves e (principalmente) de Antony na marcação. Não demorou muito para que o sistema defensivo ficasse mais sobrecarregado com as investidas em altíssima velocidade de Mbeumo e Ngalemeu procurando Choupo-Moting (que jogava como um “camisa 10”) logo atrás de Aboubakar (esse sim “camisa 10” de fato). Ederson salvou o Brasil com duas grandes defesas, mas o “mapa da mina” estava traçado para Camarões.

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Camarões aproveitou muito a fragilidade da Seleção Brasileira pelos lados do campo. Principalmente no setor de Daniel Alves e Antony. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

O segundo tempo foi marcado pelo número enorme de chances criadas pela Seleção Brasileira e pela intervenção importantíssima do goleiro Epassy em nova finalização de Gabriel Martinelli. Fred, Gabriel Jesus, Alex Telles, Antony e Rodrygo deixaram o jogo para as entradas de Bruno Guimarães, Pedro, Marquinhos (que foi muito bem atuando numa função que não é a sua), Raphinha e Everton Ribeiro. A Seleção até encontrava espaços para criar, mas cometia erros demais para quem queria sair de campo com a vitória. O time sucumbiu com a bela jogada de Ntcham pela direita e com o gol de Aboubakar aos 47 minutos do segundo tempo, em jogada mais do que cantada por Camarões desde o começo da partida.

Ntcham partiu pela direita e viu Aboubakar atacando o espaço atrás de Bremer e Éder Militão. O Brasil pecou demais na recomposição defensiva. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

É lógico que a derrota para Camarões não deve ser encarada como “terra arrasada” como alguns desejam. Por outro lado, o resultado é sim um alerta importante para Tite e toda a Seleção Brasileira e não deixa de ser uma “segunda chance”. Mais do que nunca, é preciso entender que os problemas do escrete canarinho estão no meio-campo. A movimentação dos jogadores que atuam à frente do primeiro volante precisa ser corrigida enquanto os titulares não voltam. Bruno Guimarães poderia entrar no time, mas mostrou nervosismo no jogo contra Camarões. Ao mesmo tempo, o jogo contra a Coreia do Sul vai exigir do Brasil uma consistência defensiva que Lucas Paquetá ainda não mostrou nessa Copa do Mundo.

A questão é que a Seleção Brasileira precisa de soluções e a derrota para Camarões apontou o caminho. Pode ser que os (possíveis) retornos de Danilo e Alex Sandro resolvam um pouco a vida de Tite. E ainda há a chance de se contar com Neymar, ainda o grande jogador dessa equipe e o mais imprevisível. O Brasil pode melhorar seu desempenho com a volta dos titulares. Mas não esperem vida fácil na segunda (5). A Coreia do Sul vai dificultar e muito a vida do escrete canarinho.

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