Home Futebol Copa do Mundo 2022: ‘Geração belga’ é um fracasso?

Copa do Mundo 2022: ‘Geração belga’ é um fracasso?

Uma das melhores seleções do século realmente fracassou como o dito popular brasileiro afirma?

Guilherme Lopes
Jornalismo, apaixonado pelas estatísticas do bom jogo. Vivo e penso sobre futebol o dia todo.

Na última quinta-feira (1), a Bélgica confirmou uma queda na fase de grupos da Copa do Mundo 2022. Como esperado, a web repercutiu com memes e o dito popular sobretudo no Brasil que desqualifica a chamada “geração belga”. Para muitos, a safra talentosa de jogadores não passou de uma enganação.

Entretanto, será que esse é o sentimento dos belgas? Vale lembrar, que antes da chegada dos ainda jovens craques como Hazard e De Bruyne, o país europeu sequer disputava uma Copa do Mundo há cerca de duas edições.

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Em muitos momentos, principalmente para torcedores de potências como seleção brasileira e francesa, o fato de a Bélgica não ter vencido o principal torneio de futebol do planeta, seria suficiente para denominar a geração um fracasso completo. No entanto, a comparação realizada é de um país sem títulos expressivos, diferentemente dos citados anteriormente, cujo a pressão não se compara.

Início da famosa geração belga

Ao passo que o quarteto Witsel, Eden Hazard, Lukaku e Kevin De Bruyne, ganhavam protagonismo em clubes, a Bélgica começava a despontar como uma nova grande expoente no futebol. A seleção que sequer disputou a Eurocopa 2012, alcançaria a terceira melhor campanha das Eliminatórias para Copa do Mundo 2014. Deixando a Croácia para trás no grupo.

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Iniciava assim a famosa “geração belga”, disputando uma Copa do Mundo depois de duas edições fora do torneio. Na fase de grupos no Brasil, somou 9 pontos, sem sustos. Entretanto, no mata-mata a falta de experiência acabou pesando, com uma queda nas quartas de final para vice-campeã Argentina. Já era, naquele momento, a segunda melhor campanha da história dos belgas.

Para ilustrar os feitos e o sentimento nacional, conversamos com Jules, nascido em Bruxelas, na Bélgica. O mesmo possuí uma página de notícias da seleção intitulada ‘Joueurs Belges’

“Em 2014, foi o início desta magnífica geração de ouro. Esperávamos por um time como esse há tanto tempo que todos estavam totalmente de acordo com o time. Infelizmente, os jogadores ainda eram jovens e nos faltava experiência”.

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A grande coroação em 2018

Na Copa do Mundo da Rússia, uma campanha impecável no Grupo G, superando a Inglaterra, os belgas terminaram na liderança com 9 pontos. Em seguida, as oitavas de finais, confronto eletrizante diante do Japão, contou com uma virada por 3×2.

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No entanto, o grande momento seria diante da seleção brasileira. Nas quartas de final, diante da pentacampeã, para grande parte dos brasileiros, a equipe europeia era o “azarão”, algo que não aconteceu em campo. Por um placar de 2×1, em jogo que contou com atuação primorosa de Courtois, Hazard e De Bruyne, os Red Devils eliminaram o Brasil.

Em seguida, a semifinal contra a França, um duelo bastante equilibrado, deu fim ao sonho dos belgas com uma derrota dolorida por 1×0. Na disputa pelo terceiro lugar, a Bélgica voltou a superar a Inglaterra, alcançando a sua melhor campanha da história na Copa do Mundo, tudo sob os pés da geração belga.

“2018, é o melhor verão da minha vida, que Copa do Mundo… Nos emocionamos até o fim com esse 3º lugar. Primeiro contra o Japão, depois a atuação brilhante de Hazard contra o Brasil. Você pode imaginar? A pequena Bélgica eliminando o grande Brasil… o país ficou orgulhoso demais, que momento! Única vez que chorei de alegria pelo futebol. Contra a França faltou sucesso. Mas tivemos orgulho deles (seleção da Bélgica), este 3º lugar foi festejado como uma vitória, na praça principal de Bruxelas, com os nossos queridos jogadores. Resumindo, falta de sorte, mas muito orgulho”, disse o belga Jules.

Nove anos depois

Após quatro anos da marca histórica em 2018, a Bélgica que chegou no Catar passava longe do brilho de outrora.

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Por analogia, cerca de nove dos onze titulares na estreia da competição, tinham 29 anos ou mais. Uma seleção envelhecida e com grandes nomes em baixa como Mertens e Hazard. Além disso, a troca de farpas com um vestiário estremecido e pouco controlado por Roberto Martínez.

Enquanto De Bruyne criticava a lentidão defensiva na seleção, Vertonghen rebateu o meia falando da escassez de gols no ataque belga. Não deu outra, a Bélgica se despediu da Copa do Mundo 2022, na fase de grupos.

“Em 2022 o sentimento mudou, a euforia de 2018 dá lugar à dúvida de 2022. Dúvidas, muitas, em torno dos nossos experientes defensores, mas também de nossos atacantes Hazard e Lukaku, com falta de ritmo. As críticas a Roberto Martinez que estão ligadas. Resumindo, o povo belga não acredita mais nisso, nossa chance foi em 2018”, finalizou Jules.

A geração Bélgica é um fracasso com a falta de títulos?

A princípio, a memória recente com algumas decepções acaba pesando para o público. De fato, a Bélgica poderia conquistar campanhas melhores na Eurocopa 2016 e na Nations League 2020, por exemplo.

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Ainda assim, ignorar os feitos, sobretudo na Copa do Mundo, pela escassez de títulos seria muito raso para uma análise. É também diminuir a brilhante Laranja Mecânica, seleção dos Países Baixos repleta de craques nos anos 70, que nunca levantou um troféu, contudo, encantou o mundo pelo seu jogo inovador e grandes campanhas precursoras para o país neerlandês.

No tamanho relativo a Bélgica, essa geração também deixa sua marca, apesar do fim dramático. Nomes como Kompany, Hazard, Lukaku e De Bruyne servem de inspirações e incentivo para crianças e adolescentes belgas no esporte. A população do país, em sua maioria tem orgulho do realizado durante esses nove anos.

Talvez, nos livros de história do futebol, algumas décadas depois, essa geração seja aclamada e respeitada mundialmente.

Better Collective