A despedida da Seleção Feminina da temporada de 2022 foi marcada por mais uma atuação razoável do escrete de Pia Sundhage e pela implementação de mais algumas das ideias da treinadora sueca. A vitória por 2 a 1 sobre o Canadá (com gols de Bia Zaneratto e Ana Vitória) nesta terça-feira (15), no entanto, não esconde o fato de que ainda há muitas perguntas sem resposta na equipe brasileira. Por mais que o ano tenha sido de bons resultados e de taças levantadas, a proximidade da Copa do Mundo Feminina em 2023 ligou sim o alerta sobre a competitividade do time e as reais chances do Brasil no Mundial da Nova Zelândia e da Austrália.
Vale lembrar que as escolhas de Pia Sundhage para as últimas partidas da Seleção Feminina (e de qualquer outro treinador de qualquer outra equipe do mundo) são condicionadas pelo contexto. Luana ainda não recuperou o futebol dos tempos de Paris Saint-Germain, Angelina se recupera de grave lesão no joelho e Duda Sampaio não participou das partidas contra o Canadá. Pensar o time sem ao menos uma das suas volantes titulares é algo complicado de se fazer e explica a opção de Pia pela entrada de Kerolin e Ary Bogres na “volância” da equipe.
Não foi por acaso que a Seleção Feminina entrou em campo nesta terça-feira (15) com praticamente a mesma formação da derrota da semana passada. As únicas mudanças foram as entradas de Bruninha, Kathellen e Geyse nos lugares de Fê Palermo, Lauren e Ludmila respectivamente. O meio-campo manteve a mesma formação com o 4-4-2/4-1-3-2 de Pia Sundhage com as já mencionadas Kerolin e Ary Borges ajudando na saída de bola com as duas bem próximas e buscando vencer a pressão alta implementada pelo escrete comandado por Bev Priestman.
Este que escreve já mencionou isso anteriormente aqui neste espaço. A adaptação de Kerolin como meio-campista interior é notável e não parece exagero nenhum afirmar que ela pode e deve ser testada contra adversários mais fortes. A camisa 10 não só fez a jogada do primeiro gol da tarde (marcado por Bia Zaneratto) como se movimentou por todo o campo dando opção de passe e descomplicando as coisas na saída de bola. É possível pensar na Seleção Feminina jogando com mais uma volante atrás de Kerolin e Ary Borges para dar mais sustentação na saída de bola, por exemplo. Ou até mesmo numa mudança mais radical para um 4-1-4-1 ou um 4-3-3.
A formação com duas jogadoras de muita velocidade pelos lados do campo (Geyse e Adriana) facilitava bastante o jogo de transição da Seleção Feminina. Antes mesmo do gol de Bia Zaneratto (jogadora que teve uma Data FIFA consideravelmente boa no que se refere ao trabalho sem a bola), o Brasil conseguiu encaixar alguns bons ataques com a defesa saltando para a pressão e a retomada da posse para atacar novamente. Notem que não estamos falando de retranca, mas de um estilo que privilegia a velocidade e a troca de passes no campo adversário.
Quem viu o jogo desta terça-feira (15) percebeu que não foram poucas as vezes em que a Seleção Feminina conseguiu encontrar a defesa canadense desarrumada depois de encaixar a roubada de bola. Aconteceu com Kerolin, com Ary Borges e até mesmo com Tainara. Muito desse estilo de jogo trabalhado por Pia Sundhage (mais baseado em transições rápidas) depende do passe correto no campo de defesa e das tomadas de decisões corretas quando a bola chega no ataque. Não é por acaso que a treinadora sueca bate tanto nessa tecla nas suas entrevistas coletivas.
No entanto, a necessidade de ajustes finos na Seleção Feminina ainda é urgente. Isso porque o jogo de transição pede muita concentração para fechar espaços entrelinhas e muita intensidade das jogadoras para “ler” cada movimento adversário. As melhores chances do Canadá nos dois jogos surgiram quando a última linha de defesa da Seleção Feminina acabou exposta por conta da distância que existia entre volantes e zagueiras. Fora isso, o time ainda sente demais a ausência da zagueira Rafaelle, talvez o grande pilar defensivo da equipe comandada por Pia Sundhage. As claras dificuldades da equipe brasileira nas bolas aéreas falam por si só.
É verdade que o contexto permite que Pia Sundhage faça suas experiências na equipe e busque soluções para os problemas causados pela ausência das jogadoras consideradas titulares. Por outro lado, a proposta de jogo da treinadora sueca pede elementos que esse time já demonstrou ter dificuldades em criar com e sem a bola. Até porque o Brasil vai encontrar adversários muito mais ligados e muito melhor preparados do que enfrentou nessa série de amistosos após a conquista da Copa América. A exigência física e mental será incrivelmente maior e ainda há dúvidas sobre o real potencial do time dentro de campo e algumas jogadoras parecem longe do ideal.
As dúvidas sobre o futuro sempre vão existir quando o assunto é Seleção Feminina. E como este que escreve mencionou certa vez, o trabalho de Pia Sundhage está sim deixando um legado imenso para a modalidade no país. Questionar, perguntar e entender o que se passa no campo é do jogo. O que não se pode fazer é analisar com o fígado e guardar a cabeça debaixo da cama.