Antes de mais nada, precisamos reconhecer que Neymar e Danilo vão sim fazer muita falta na Seleção Brasileira por conta de tudo que os dois entregaram e entregam dentro de campo. Os dois sofreram lesões na vitória sobre a Sérvia e estão fora das partidas contra Suíça e Camarões. Ausências que preocupam sim. Mas as coisas estão bem diferentes de 2018. Isso porque o elenco comandado por Tite está recheado de ótimas opções para a sequência da fase de grupos do Mundial do Catar. Há como se substituir os dois jogadores sem que a equipe sinta muito a diferença no âmbito coletivo e ainda manter a pegada da ótima estreia da Seleção Brasileira na última quinta-feira (25).
Futebol não é uma ciência exata e todos nós sabemos disso. Não estamos falando de peças de LEGO. Cada jogador tem características únicas que influenciam no jogo. Mesmo que o Brasil tenha uma maneira bem particular de jogo, todos em campo colocam um pouco do seu “DNA” na soma de talentos do escrete comandado por Tite. É importante ter isso em mente antes de falar que é “só trocar seis por meia dúzia” na Seleção Brasileira. O time mostrou sua força contra a Sérvia jogando com Casemiro na frente da zaga, Raphinha e Vinícius Júnior abertos pelas pontas, Danilo chegando por dentro e Neymar recuando para construir as jogadas. Um 4-4-2 com cara de 4-3-3 bem ofensivo.
A mobilidade dos atacantes brasileiros (principalmente no segundo tempo) fizeram com que o time apresentasse um bom número de variações na formação inicial. E o importante aqui não é entender os números (4-4-2, 4-3-3, 4-2-3-1 ou 4-2-4), mas entender como os jogadores se comportam com e sem a bola. Conforme mencionado anteriormente, Neymar é a referência técnica da Seleção Brasileira. É o jogador mais talentoso e (também) por isso é o mais caçado em campo. Com liberdade total para circular pelo campo, é o camisa 10 quem dita o ritmo das jogadas. Mesmo não indo tão bem na estreia, ele sempre deu ao Brasil uma “vantagem psicológica” sobre os adversários.
E também temos Danilo. Embora não apareça tanto quanto Neymar, o camisa 2 é um dos jogadores mais importantes do sistema defensivo da Seleção Brasileira. Vale lembrar que o esquema tático escolhido por Tite pede laterais mais construtores do que apoiadores. Com isso, a tendência é que ele e Alex Sandro tendam a ficar mais contidos na construção das jogadas. Além disso, Danilo tem muita qualidade na marcação e conseguiu segurar o ímpeto do ataque sérvio com muita eficiência nos botes e nas antecipações. Não há como ver nele um dos pilares de um dos setores mais fortes da Seleção Brasileira. E dependendo do ponto de vista, Danilo faz mais falta até do que Neymar.
No entanto, estamos bem longe de classificarmos o cenário como “terra arrasada”. Talvez a grande notícia para a torcida e para Tite seja o fato da Seleção Brasileira não depender tanto de Danilo e até mesmo de Neymar. Além disso, as opções para a sequência da Copa do Mundo são muito boas. Caso Rodrygo (ou qualquer outro jogador mais ofensivo) seja o substituto do camisa 10, a opção pela entrada de Éder Militão na última linha é a mais acertada (pelo menos na visão deste que escreve). Lucas Paquetá seria mantido na “volância” (ao lado de Casemiro) e o time manteria a pegada na marcação com o zagueiro do Real Madrid atuando como “lateral-base” na equipe canarinho.
Existe também uma opção mais cautelosa do que a anterior. Nesse caso, Tite poderia adiantar Lucas Paquetá para a posição de Neymar e entrar com Fred no meio-campo. Isso permite que Daniel Alves entre na última linha sem que a Seleção Brasileira não perca o equilíbrio defensivo. Na prática, a equipe comandada por Tite ganharia muito mais qualidade na saída de bola e na construção das jogadas por dentro e mais compactação no meio-campo com o volante do Manchester United protegendo o veterano lateral da camisa 13. É um time mais forte e mais encorpado, mas que mantém a fluidez nas transições por conta do habilidoso quarteto ofensivo resolvendo as coisas lá na frente.
A entrada de Everton Ribeiro também é uma alternativa interessante, mesmo sabendo que o jogador do Flamengo se destacou na temporada como “volante-meia” no time de Dorival Júnior. Mesmo assim, é algo que pode funcionar com Éder Militão na zaga e Lucas Paquetá mais adiantado. Certo é que Tite tem sim ótimas opções para montar a Seleção Brasileira já para a partida contra a Suíça, marcada para a próxima segunda-feira (28). Ao contrário do que aconteceu em 2018, quando o Brasil sofreu com um Neymar “meia-bomba” e as lesões de Renato Augusto e Douglas Costa, a equipe dá a impressão de estar muito melhor montada e com um jogo coletivo muito mais consistente do que na Rússia.
É verdade que Tite pode pensar numa opção completamente diferente das levantadas aqui. O treinador vive a Seleção Brasileira 24 horas por dia, tem o elenco na mão e sabe muito bem o que cada jogador pode oferecer a ele nas mais diferentes situações. Seja com Daniel Alves, Éder Militão, Rodrygo, Everton Ribeiro ou Fred, o Brasil ainda tem muita qualidade para distribuir. E essa talvez seja a grande diferença para anos passados.