Toda convocação de Seleção Brasileira para Copa do Mundo vai gerar polêmicas de todos os tipos. E com a lista divulgada por Tite no último dia 7 de novembro não poderia ser diferente. Houve quem protestasse contra a presença de Daniel Alves entre os 26 atletas chamados para o Mundial do Catar. E houve quem apontasse a ausência de nomes como Gustavo Scarpa e Gabigol como erros imperdoáveis. Seja como for, a Seleção Brasileira está pronta e reunida para tentar a conquista do tão sonhado hexacampeonato. E diante de todas as polêmicas, críticas e protestos causados pelas escolhas de Tite, fica a pergunta: o que podemos esperar do Brasil nessa Copa do Mundo?
Não é algo fácil de ser respondido. Ainda mais diante da complexidade e das variáveis quase infinitas bem características do velho e rude esporte bretão. Por outro lado, é possível sim entender quais são os caminhos que a Seleção Brasileira pode seguir nesse Mundial tomando como base os 26 jogadores convocados por Tite. É óbvio que nenhuma lista vai contar com a unanimidade que já foi chamada de burra por Nelson Rodrigues. Só que é mais do que necessário entender o que se passa na cabeça do treinador antes de qualquer outra coisa.
Está bem claro para este que escreve que Tite tem sim um plano. Podemos não concordar com ele ou com a forma como ele elaborou a sua lista de 26 jogadores e isso faz parte do jogo. No entanto, precisamos concordar que estes nomes que irão representar a Seleção Brasileira no Catar são sim excelentes. Quem acompanha o trabalho do treinador sabe que ele tem seus “preferidos” e isso pode ser notado na numeração dos atletas. Geralmente, a numeração de 1 a 11 indica os titulares. Mas sempre há alguma margem para mudanças nessa Copa do Mundo.
O fato de um treinador de qualquer seleção do mundo ter seus jogadores “preferidos” não é nenhum crime inafiancável. Muito pelo contrário! A história mostra que essa confiança pode gerar ótimos frutos quando bem administrada. É baseado num modelo de jogo muito claro que Tite escolhou seus “eleitos”, por assim dizer. A Seleção Brasileira foi escalada por muito tempo no 4-4-2 ou no 4-3-3, mas eu e você nos acostumamos a vê-la jogando num 3-2-5 com a posse da bola e sem laterais que avançam até a linha de fundo (característica bem comum dos jogadores da posição aqui no Brasil). No Brasil de Tite, um deles se alinha aos zagueiros e outro se junta a Casemiro no meio-campo.
Basta rever os jogos da Seleção Brasileira nas Eliminatórias para entender que Tite sempre procurou mais laterais que sejam bons passadores do que apoiadores (ainda que Guilherme Arana tenha sido bastante utilizado em outros contextos). E diante dessa formação e da forma como a Seleção Brasileira se comporta com e sem a bola, não fica difícil entender a convocação de Daniel Alves. Não seria um dos nomes escolhidos por este que escreve. Mas dentro do modelo de jogo, não há outro lateral que possa exercer essa função com tanta familiaridade.
A goleada sobre o Paraguai (em jogo válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo) nos mostrou exatamente o que Tite pretende que Daniel Alves faça em campo. Se um deles avança mais para o ataque (caso da partida contra o escrete guarani), o outro permanece mais contido no apoio e jogando como uma espécie de “armador” junto dos outros meio-campistas. Esse é o papel que o treinador da Seleção Brasileira pretende que seus laterais exerçam dentro de campo. Ainda mais sabendo que a tendência é jogar com uma linha de cinco atacantes lá na frente.
Também é evidente que nenhum sistema de jogo está isento de falhas. Ao mesmo tempo, a escolha por este ou aquele jogador implica em consequências. Se Daniel Alves é hoje um dos poucos laterais que consegue compreender o modelo de jogo de Tite, podemos colocar no treinador brasileiro a culpa por não ter dado mais oportunidades para outros ou até tentar outras formações. Mas sempre vai existir o receio de que o próprio Daniel Alves (caso seja utilizado na Copa do Mundo) apresente os mesmos problemas na defesa que apresentou nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020. Mesmo sabendo de sua importância para o grupo, o veterano era o ponto mais fraco do time de André Jardine.
Toda convocação é feita de escolhas. Tite, Didier Deschamps, Hans-Dieter Flick, Luís Enrique, Lionel Scaloni e todos os outros treinadores sabem muito bem disso. Enquanto alguns são chamados de “preferidos”, outros entram no grupo dos “injustiçados”. Sempre foi e sempre será assim em qualquer seleção do planeta que for convocada para uma Copa do Mundo. Podemos falar nas ausências de Rodinei, Gabigol, Gustavo Scarpa, Firmino, Matheus Cunha, Ibañez e outros que ficaram pelo caminho e apontar soluções para problemas que ainda não surgiram na Seleção Brasileira. Mas não há como negar que o time é forte e que ele tem tudo para brigar pelo hexacampeonato.
Tite foi bastante criticado em 2018 pela insistência num único plano de jogo. Suas escolhas para 2022 parecem indicar que ele pretende ter todo tipo de carta na manga para descomplicar as coisas dentro de campo para a Seleção Brasileira. Há uma ideia de jogo muito clara e muito bem elaborada. E isso é meio caminho andado para se levantar taças.