É verdade que a Seleção Brasileira fez um jogo mais duro do que o esperado contra a Suíça nesta segunda-feira (28). Por outro lado, a equipe comandada por Tite teve maturidade suficiente para superar as dificuldades impostas pelo seu forte adversário no Estádio 974. E com autoridade também. As soluções vieram do banco de reservas. Rodrygo, Bruno Guimarães, Antony e companhia provaram que podem ser extremamente úteis a curto prazo nessa copa do Mundo. A vitória (suada) veio com um gol de Casemiro aos 37 minutos do segundo tempo em jogada iniciada por Marquinhos e que passou pelos pés de Vinícius Júnior e Rodrygo antes do camisa 5 vencer o bom goleiro Sommer.
Sem Danilo e Neymar (ambos lesionados), Tite optou pela manutenção do seu desenho tático básico e pelas entradas de Éder Militão na lateral e Fred no meio-campo, com Lucas Paquetá fazendo a função que era do camisa 10. Do outro lado, Murat Yakin mandou a Suíça para o jogo desta segunda-feira com o jovem Rieder na lateral-direita e (surpreendentemente) deixou o experiente Shaqiri no banco de reservas. Mas a estratégia bem conhecida da “Squadra Nazionale” foi mantida: muita marcação na frente da área para acionar Embolo e Ruben Vargas com bolas longas.
Apenas dizer que a Seleção Brasileira não fez um bom jogo diante dos suíços é fechar os olhos para tudo que o campo mostrou nesta segunda-feira (28). A movimentação do meio-campo até que funcionava, mas a equipe comandada por Tite sentia sim a falta das doses de improviso e dinâmica que Neymar coloca nas jogadas quando está jogando. Vale lembrar que sempre que Neymar baixava para buscar o jogo junto dos volantes, ele arrastava a marcação de dois ou três jogadores e criava o espaço para que seus companheiros de equipe pudessem chegar no ataque.
No entanto, a ausência do camisa 10 não era o único problema do escrete canarinho. Na prática, todo o time encontrou muita dificudlade para furar a defesa suíça. Fred parecia nervoso em campo e não conseguiu dar a consistência defensiva de outros tempos na Seleção Brasileira. Fora isso, Lucas Paquetá estava sumido novamente, Raphinha errava demais pela direita e Richarlison estava isolado no ataque. Não foi por acaso que Vinícius Júnior (o único jogador brasileiro com explosão para tentar o drible em velocidade) foi acionado à exaustão com bolas longas e inversões de jogo. Mesmo assim, a Suíça se mantinha firme no 4-4-2 proposto pelo técnico Murat Yakin.
Que fique bem claro que o Brasil não foi uma equipe estática, de uma formação só. No entanto, por mais que Casemiro trocasse de posição com Lucas Paquetá e até se projetasse mais na direção do campo adversária, faltava a dose de improviso e o drible por dentro num jogo truncado ao extremo. Do outro lado, a Suíça tentava se impor na base da força física pra cima do time mais leve da Seleção Brasileira. Mas nada além disso. O escrete comandado por Murat Yakin fazia as “dobras” na marcação pelos lados e congestionava a entrada da área com Xhaka e Freuler.
O intervalo (exatamente como aconteceu na partida contra a Sérvia) seria determinante para que Tite corrigisse o posicionamento da sua equipe e encontrasse soluções. E elas vieram do banco de reservas. Rodrygo entrou no lugar de Lucas Paquetá e deu mais movimentação ao setor ofensivo. Bruno Guimarães e Antony também foram para o jogo e deram ainda mais consistência ao 4-2-3-1 usado por Tite. Mais atrás, o sistema defensivo dava aulas de cobertura e de botes certos com Thiago Silva, Alex Sandro, Marquinhos e Éder Militão. O desempenho impressiona de verdade.
As entradas dos reservas no segundo tempo deixaram Casemiro ainda mais próximo do gol da Suíça. O camisa 5 deixou a proteção da zaga com Bruno Guimarães (que deu outra dinâmica ao meio-campo brasileiro com ótimos passes e muita intensidade na construção das jogadas) e se transformou num “box-to-box”, o volante que vai de área a área. E foi ele o “elemento surpresa” da Seleção Brasileira no segundo tempo. Aos 37 minutos, Vinícius Júnior recebeu de Marquinhos, cortou para dentro e achou Rodrygo. O camisa 21 apenas escorou para Casemiro acertar o ângulo de Sommer. Era o gol da vitória e da classificação para as oitavas da Copa do Mundo. E com toda a justiça.
É interessante notar que o jogo deixou algumas lições importantes. Diante do que o treinador brasileiro deseja dos seus volantes, ficou mais do que provado que Bruno Guimarães é o nome certo para jogar ao lado de Casemiro e talvez até para permanecer no time até o final da participação do Brasil nessa Copa do Mundo. Ao mesmo tempo, até que Neymar se recupere totalmente de lesão, não existe outro nome que possa exercer a função do camisa 10 dentro de campo que não seja Rodrygo. O atacante do Real Madrid saía da esquerda e ia para o meio do campo com muita desenvoltura. Além deles, Antony mostrou personalidade ao puxar a marcação pela direita e criar espaços.
A Seleção Brasileira chega nas oitavas de final da Copa do Mundo sem ter sofrido um único chute a gol sequer nas duas partidas que disputou. Se isso não é uma demonstração de autoridade e de consistência, eu não sei mais o que é. O Brasil agora volta a campo na sexta-feira (2) para confirmar o primeiro lugar do Grupo G contra Camarões. Mas o campo deu seu recado. Tem muito jogador vindo do banco de reservas que está entregando mais do que os titulares.