Alguém pode explicar o que foi que aconteceu com o futebol do Uruguai nessa Copa do Mundo?
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as atuações ruins da equipe de Diego Alonso e a derrota para Portugal
A vitória de Portugal no Estádio Lusail e a classificação antecipada da “seleção das Quinas” para as oitavas de final da Copa do Mundo foi um dos principais assuntos do noticiário esportivo e das mesas de debate nesta segunda-feira (28). E com razão. Apesar dos problemas coletivos, o time de Fernando Santos mostrou competitividade e qualidade com a bola no pé. Por outro lado, pouca gente falou sobre o Mundial terrível que o Uruguai vem fazendo. É até difícil explicar o que aconteceu com o futebol forte e vibrante dos comandados de Diego Alonso visto nas Eliminatórias. Um time que tem Varela, Arrascaeta, Valverde, Vecino, Darwin Núñez e Suárez não pode jogar tão mão assim.
Há quem fale na insistência do treinador do Uruguai em determinadas formações e sistemas. No empate sem gols contra a Coreia do Sul, ele apostou num 4-3-3 com Darwin Núñez na ponta (!!!) e simplesmente ignorou o fato de que esse jogo pedia alguém que criasse por dentro. Arrascaeta não saiu do banco e De la Cruz só entrou depois dos 30 minutos da segunda etapa. Para o jogo desta segunda-feira (28), Diego Alonso montou a Celeste Olímpica num 5-3-2 com Coates se juntando a Giménez e Godín na zaga e Varela entrando no lugar de Cáceres na ala.
A ideia em si não era ruim. O problema foi a execução. Sem Pellistri (que foi para o banco de reservas), o Uruguai acabou sem a válvula de escape pelos lados do campo, fato que sobrecarregou demais o trio de volantes. Na prática, o time de Diego Alonso só levava perigo quando Bentancur se impunha no meio-campo e puxava os contra-ataques. Na melhor chance do primeiro tempo, o camisa 6 da Celeste Olímpica fez grande arrancada a partir do campo de defesa, se livrou da marcação e só parou no goleiro Diogo Costa. Mesmo assim, faltava alguma coisa.
E olha que o time de Fernando Santos concedia espaços generosos em todos os setores. Além disso, o Uruguai sempre usava o recurso das faltas para conter o ímpeto lusitano nas tramas ofensivas e também irritar Cristiano Ronaldo e companhia. No entanto, o time de Fernando Santos passou a encontrar mais espaços na segunda etapa. Tudo por causa do excesso de ligações diretas do campo de defesa da Celeste Olímpica buscando Cavani e Darwin Núñez e dos rebotes que ficavam com Portugal. Ao mesmo tempo, a recomposição mais lenta fez com que Bruno Fernandes e João Félix encontrassem espaços generosos na entrelinha do Uruguai. Foi assim que saiu o primeiro gol do jogo.
Notem o espaço que o camisa 8 português teve para circular entre o trio de volantes e a linha de cinco defensores. Além disso, a dupla de ataque permanece lá na frente e não encaixa a marcação em cima de William Carvalho e (principalmente) Bernardo Silva, talvez o melhor jogador lusitano nessa Copa do Mundo. Com o gol sofrido, Diego Alonso finalmente mudou a estratégia. Vecino e Godín saíram do time para as entradas de Pellistri e Arrascaeta. Do outro lado, Fernando Santos respondeu com a entrada de Rafael Leão no lugar de Rúben Neves.
Mas quem estava melhor na partida era o Uruguai. Difícil não notar o crescimento da equipe sul-americana com as substituições. Maxi Gómez e Luis Suárez também foram para o jogo e a Celeste Olímpica praticamente ligou o modo “all in” para tentar ao menos o empate e não se complicar tanto no seu grupo. O problema é todos os jogadores mostravam uma afobação enorme nos momentos de finalizar os lances. Mesmo assim, a melhora no desempenho uruguaio nesse final de partida era nítido. Mesmo com Arrascaeta errando mais do que acertando com a bola no pé.
Com as substituições, Diego Alonso apostou num 4-2-4 com Bentancur e Valverde na proteção da zaga, Suárez saindo da esquerda para dentro (buscando as costas de João Cancelo), Maxi Gómez e Arrasca por dentro e Pellistri mais à direita. Na melhor chance do Uruguai no segundo tempo, o camisa 10 tentou encobrir o goleiro Diogo Costa, mas bateu fraco. Portugal reequilibrou o jogo com as entradas de Matheus Nunes e João Palhinha e conseguiu controlar os avanços do quarteto ofensivo da Celeste Olímpica com mais imposição física e muita qualidade no passe. Bruno Fernandes fecharia o placar aos 47 minutos da segunda etapa cobrando penalidade com segurança e uma certa dose de deboche.
Pode ser o nervosismo dos jogadores, a má fase técnica dos mais experientes ou até mesmo o sistema de jogo escolhido pelo técnico Diego Alonso. Ou tudo isso junto e ao mesmo tempo. Certo é que o Uruguai faz uma Copa do Mundo muito abaixo das suas possibilidades e num grupo que não parecia tão complicado pelo menos num primeiro momento. Também chama a atenção a falta de criatividade da Celeste Olímpica e a insistência do treinador por um time de mais imposição física e de menos toque de bola. Difícil explicar Valverde tão longe do gol e Arrascaeta e De la Cruz no banco de reservas. Ou o posicionamento “esquisito” de Darwin Núñez mais pelo lado do campo do que costuma jogar.
Alguém precisa explicar o que aconteceu com o futebol do Uruguai nessa Copa do Mundo. Diego Alonso tem material humano, mas parece ter receio de soltar mais sua equipe. O jogo contra Gana, marcado para a próxima sexta-feira (2), vai exigir da Celeste Olímpica uma atuação muito mais consistente do que nessas duas primeiras rodadas e também que o time faça uma coisa que ainda não fez no Catar: gols. E de preferência uns três ou quatro para não depender de outros resultados.