Home Futebol Mesmo vencendo, Portugal deixa a sensação de que pode fazer mais do que fez contra Gana

Mesmo vencendo, Portugal deixa a sensação de que pode fazer mais do que fez contra Gana

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as ideias de Fernando Santos e Otto Addo no jogo desta quinta-feira (24)

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Não é novidade pra ninguém que estrear numa Copa do Mundo com vitória é importante para ganhar confiança e já confirmar os primeiros três pontos na competição. No caso de Portugal, os 3 a 2 sobre Gana nesta quinta-feira (24), no Estádio 974, colocam a equipe de Fernando Santos na liderança do Grupo H por conta do empate sem gols entre Uruguai e Coreia do Sul. No entanto, a impressão que ficou do jogo não foi boa. A “Seleção das Quinas” foi mal em termos ofensivos (apesar de ter balançado as redes ganesas três vezes) e apresentou vários problemas defensivos. Atuação bem abaixo do esperado dessa que é considerada a melhor geração de Portugal.

Quem viu as escalações iniciais ficou com a sensação de que Fernando Santos finalmente soltaria mais sua equipe no ataque tal como fez no amistoso contra a Nigéria. Danilo Pereira (volante de origem) entrou na zaga ao lado de Rúben Dias, Otávio entrou no meio junto com Bernardo Silva e Rúben Neves e Bruno Fernandes se juntou a João Félix e Cristiano Ronaldo no ataque. No entanto, o que se via era um 4-3-3 que lembrava um 4-3-2-1 por conta do posicionamento mais estático de CR7 e da falta de mobilidade como um todo por parte do escrete lusitano.

Do outro lado, o técnico Otto Addo apostou num 5-4-1 com Amarteu, Salisu e Djiku formando o trio de zagueiros, Partey e Abdul Samed na proteção e Iñaki Williams como o homem mais avançado das “Estrelas Negras”. Pelos lados (e explorando as costas de João Cancelo e Raphaël Guerreiro) André Ayew e Kudus se posicionavam mais próximos do meio. E o objetivo de Gana era claro: negar espaços para Portugal, retomar a posse e acelerar com bolas longas para o trio ofensivo. Tudo isso com o bloco mais baixo e muita marcação na frente da área.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
Formação inicial das duas equipes. Fernando Santos manteve o 4-3-3/4-3-2-1 e Otto Addo apostou numa linha com cinco defensores.

A primeira etapa acabou marcada pelo futebol pobre de ideias por parte das duas seleções. Ainda que Gana se fechasse bem com uma linha de cinco na frente da área e com Kudus um pouco mais recuado para vigiar as investidas de Bruno Fernandes pelo seu setor, o que se via era um Portugal muito pouco inspirado para criar jogadas de ataque. O time estava estático e se movimentava pouco para abrir espaços entre as linhas do seu adversário. Além disso, Cristiano Ronaldo estava completamente encaixotado pela defesa ganesa e teve pouquíssimas chances. Quando teve (em erro na saída de bola adversária), o goleiro Ati Zigi saiu bem e evitou o pior.

João Félix recebe na intermediária e não encontra opções. Portugal pecou demais pela falta de criatividade. Foto: Reprodução / TV Globo

A partida só foi ganhar emoção a partir dos 19 minutos do segundo tempo, quando o árbitro Ismail Elfath marcou penalidade bastante discutível de Salisu em cima de Cristiano Ronaldo. O próprio CR7 bateu e se transformou no único jogador a marcar gols em cinco Copas do Mundo diferentes. No entanto, a partida ganharia contornos ainda mais inesperados quando Kudus aproveitou indecisão de todo o sistema defensivo lusitano e deixou André Ayew apenas com o trabalho de escorar a bola para o gol vazio. O empate de Gana era uma das provas de que Portugal não ia bem no ataque e nem na defesa. A essa altura, William Carvalho já havia entrado no lugar de Otávio.

Mesmo jogando num 4-2-3-1, Portugal deixou espaços generosos na sua defesa. Gana acelerou e criou problemas. Foto: Reprodução / TV Globo

É possível dizer que o técnico Otto Addo se precipitou um pouco quando mandou sua equipe para o ataque e desfez o 5-4-1 inicial. Gana perdeu a proteção que tinha na defesa e se transformou em presa fácil para os contra-ataques lusitanos. Nesse ponto, a grande sacada de Fernando Santos foi a entrada de Rafael Leão no lugar de Rúben Neves e o recuo de Bernardo Silva para junto de William Carvalho num 4-2-3-1 mais nítido. Não é exagero afirmar que esse foi o melhor momento de Portugal na partida mesmo sem apresentar o futebol que eu e você esperamos. Mesmo assim, foi bom ver Bruno Fernandes mais por dentro e João Félix explorando os lados do campo.

PUBLICIDADE
Com Rafael Leão em campo e Bruno Fernandes por dentro, Portugal explorou bem os espaços na defesa de Gana. Foto: Reprodução / TV Globo

João Félix e Rafael Leão marcaram aos 32 e aos 34 minutos em contra-ataques nascidos de erros de Gana. No entanto, para “manter a média”, Rahman Baba escapou pelo lado esquerdo e cruzou para Bukari diminuir. As “Estrelas Negras” ainda tentaram o gol de empate, mas acabaram esbarrando na própria afobação ao invés de explorar mais a fragilidade do sistema defensivo da equipe de Fernando Santos. Duas coisas ficaram bem claras depois da partida desta quinta-feira (24). Primeiro, Rafael Leão não pode, em HIPÓTESE ALGUMA, ser reserva na seleção de Portugal. E a segunda é que o escrete lusitano ainda está muito longe de convencer. Falta muita coisas.

PUBLICIDADE

É por isso que o time de Cristiano Ronaldo, João Félix e companhia deixou a sensação de que poderia ter feito muito mais do que fez contra Gana. Mesmo com os três gols marcados e com a clara superioridade técnica dos seus jogadores. A vitória, conforme mencionado no início desta humilde análise, dá confiança para a sequência da Copa do Mundo. Mas a atuação deixou muita gente de pé atrás. Podem confiar.

Better Collective