Home Futebol País de Gales sofre com os contra-ataques do Irã e se complica na Copa do Mundo

País de Gales sofre com os contra-ataques do Irã e se complica na Copa do Mundo

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o jogo desta sexta-feira (25) e as escolhas de Robert Page e Carlos Queiroz

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Não é exagero nenhum afirmar que o Irã teve a sua melhor atuação coletiva nessa Copa do Mundo até o momento. Por outro lado, muito do bom jogo apresentado pelo escrete comandado por Carlos Queiroz se deve também à fragilidade defensiva e à criatividade quase nula da seleção de País de Gales. Não que o time de Robert Page não tenha criado chances e tentado competir no jogo desta sexta-feira (25), no Ahmed bin Ali Stadium. O problema é que os “Dragões” acabaram engolidos pelos contra-ataques do “Team Melli” e não aproveitaram as poucas chances que criaram. Acabou que a vida de País de Gales ficou muito mais complicada por conta de uma série de escolhas ruins.

Robert Page promoveu a entrada do atacante Kieffer Moore no time titular, mas optou por manter o 3-1-4-2 básico do escrete galês. O camisa 13 se juntou a Gareth Bale no ataque e tinha a companhia dos volantes Harry Wilson e Aaron Ramsey nas chegadas na área iraniana. No entanto, era fácil perceber que faltava ao País de Gales a mobilidade que o desenho tático escolhido pelo treinador precisava para funcionar. Tirando um chute de Neco Williams de longe e uma finalização na pequena área de Moore, o escrete galês pouco ameaçou o gol de Hossein Hosseini.

Do outro lado, Carlos Queiroz também fez mudanças. O treinador português abandonou o 5-4-1 da estreia contra a Inglaterra e apostou num 4-5-1 com Taremi voltando pela esquerda e se alinhando a Haji Safi, Ezatolahi, Gholizadeh e Nourollahi na frente da última linha. E o objetivo do “Team Melli” era claro: retomar a bola o mais rápido possível e lançar o atacante Azmoun para atacar a profundidade em alta velocidade em transições rápidas. No entanto, justamente por conta dessas duas estratégias, o jogo ficou muito travado no primeiro tempo.

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Formação inicial das duas equipes. Robert Page manteve o 3-1-4-2 da estreia e Carlos Queiroz mudou o Irã para um 4-4-2/4-5-1.

Em que pese o futebol mais acanhado e mais preso ao “vai e vem” das duas seleções, foi o Irã quem encontrou o “mapa da mina” primeiro no jogo desta sexta-feira (25). Não foram poucas as vezes em que o time comandado por Carlos Queiroz encontrou espaços generosos no meio-campo por conta do posicionamento dos volantes Harry Wilson e Aaron Ramsey, que precisavam avançar para encostar na dupla de ataque. Com isso, o “Team Melli” encontrava espaço para trabalhar a bola e explorar as bolas longas para Taremi, Azmoun e Gholizadeh nas costas do trio formado por Mepham, Joe Rodon e Ben Davies. O lance do gol de Gholizadeh (anulado por impedimento) nasceu de uma dessas jogadas.

País de Gales protegia mal a sua última linha e concedia espaços generosos para as investidas do Irã. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

O segundo tempo teve mais entretenimento do que o primeiro, por assim dizer. Isso porque o escrete comandado por Carlos Queiroz se mandou para o ataque em busca da vitória e criou boas chances a partir das bolas longas e das transições rápidas. O “Team Melli” passou a ter ainda mais espaço quando Robert Page desfez seu 3-1-4-2 inicial e apostou num 4-2-4 altamente ofensivo com as entradas de Daniel James e Brennan Johnson ao lado da dupla de ataque. No entanto o problema da compactação das linhas continuou e o escrete galês acabou facilitando ainda mais a vida de Carlos Queiroz, que foi certeiro ao manter o meio povoado com as entradas de Karimi, Jahanbakhsh e Cheshmi.

O Irã manteve a estratégia e encontrou muito campo pra jogar depois das mexidas de Carlos Queiroz. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

Antes da expulsão (justíssima) do goleiro Hennessey, o Irã já havia acertado a trave duas vezes e obrigado o camisa 1 de País de Gales a fazer grandes defesas em finalizações de Azmoun e Ezatolahi. Com um a menos, Robert Page poderia ter escolhido um caminho mais conservador, mas manteve o quarteto ofensivo e tirou Aaron Ramsey para a entrada do goleiro Ward. Com ainda mais espaço para criar (e mais fôlego também), o Irã chegou à vitória com um gol de Cheshmi (em bela finalização de longe) e com um toque de classe de Rezaeian já aos 55 minutos da segunda etapa. O “Team Melli” levava a melhor porque quis jogar mais futebol do que País de Gales. Simples assim.

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A expulsão de Hennessey acabou condicionando todo o restante da partida e o Irã aproveitou os espaços que teve no campo ofensivo.

É verdade que a expulsão do goleiro Hennessey acabou condicionando todo o restante da partida desta sexta-feira (25). Por outro lado, é bom que se lembre que a única boa chance de País de Gales no segundo tempo foi um chute de Ben Davies da entrada da área defendido por Hossein Hosseini. Muito pouco para quem pensava em voos mais altos nessa Copa do Mundo e até surpreendente para uma seleção que fez campanha honesta na última Eurocopa (chegando nas oitavas de final). Pode ser que tenha faltado um pouco de vivência de competição para um país que voltava a disputar um Mundial depois de 64 anos. Mesmo assim, o futebol apresentado no Catar é bem pobre até o momento.

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País de Gales ainda pode se garantir nas quartas de final da Copa do Mundo, mas depende de uma vitória sobre a sempre perigosa Inglaterra, torcer por um empate entre Estados Unidos e Irã e ainda tirar a vantagem dos seus adversários no saldo de gols. Muita coisa para quem prometeu muito e entregou tão pouco nessas duas primeiras rodadas do Mundial. Não é impossível, mas a julgar pelo que os “Dragões” mostraram até agora, a missão é bem complicada.

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