Equador faz jogo de gente grande contra a Holanda e se candidata à sensação da Copa do Mundo
Luiz Ferreira destaca a boa atuação da equipe de Gustavo Alfaro e as escolhas de Louis van Gaal na coluna PAPO TÁTICO
Não é exagero nenhum afirmar que o Equador mostrou uma maturidade e uma consistência muito grande no empate contra a Holanda e que não seria absurdo nenhum se o time de Gustavo Alfaro tivesse conseguido a virada nesta sexta-feira (25). E mais: diante do que se viu no Estádio Internacional Khalifa, podemos colocar “La Tri” como forte candidata ao posto de “sensação” da Copa do Mundo. Tudo por conta da forma como a equipe sul-americana conseguiu dobrar e controlar as ações diante dos comandados de Louis van Gaal. Por mais que a “Laranja Mecânica” esteja um pouco enferrujada, a atuação coletiva do Equador foi sim digna de manual apesar da falta de sorte em alguns momentos.
No entanto, o jogo não começou muito bem para “La Tri”. Muito por conta do vacilo coletivo da defesa equatoriana no lance do gol da Holanda (marcado por Gakpo logo aos cinco minutos da primeira etapa). Nesse momento, já era possível ver o 5-4-1 montado pelo técnico Gustavo Alfaro que tinha Preciado e Estupiñán nas alas, Porozo, Félix Torres e Hincapié formando o trio defensivo e Jhegson Méndez e Moisés Caicedo na proteção da última linha. Mais à frente, Plata e Estrada se juntavam ao veterano (e sempre decisivo) Enner Valencia.
Do outro lado, Louis van Gaal abriu mão do centroavante de ofício (Vicent Janssen) e apostou num meio-campo mais encorpado com Klaassen e Koopmeiners próximos de Frenkie de Jong no 5-3-2/3-5-2 preferido do treinador neerlandês. Só que os problemas vistos na estreia contra Senegal continuavam. Mesmo com a formação mais cautelosa do que na estreia na Copa do Mundo, o time apresentava espaços entrelinhas e sofria para controlar o espaço às costas da defesa formada por Timber, Van Dijk e Aké. Blind e Dumfries sofreram com as investidas de Equador pelos lados.
Com o gol sofrido logo no começo do jogo no Estádio Internacional Khalifa, não restava outra alternativa ao Equador senão se lançar ao ataque. E a equipe de Gustavo Alfaro aproveitou bem os espaços que teve entre as linhas da Holanda para encaixar boas investidas pelos lados do campo. Não foram poucas as vezes em que Moisés Caicedo e Méndez tiveram tempo e campo para pensar nas melhores opções de passe para a correria do trio ofensivo e também dos alas. Um ponto interessante da estratégia equatoriana estava nas ultrapassagens de Estupiñán e Preciado por dentro enquanto os atacantes puxavam a marcação pelos lados. Faltava, no entanto, transformar as transições em finalizações.
A partir do momento em que “La Tri” organizou mais as coisas no ataque, as chances começaram a ficar mais claras. Tudo por conta da movimentação do trio ofensivo e dos alas nas transições ofensivas. E um dos grandes méritos do meio-campo equatoriano foi tirar Frenkie de Jong do jogo. Sempre que o camisa 21 recebia a bola, Enner Valencia, Estrada e companhia faziam a pressão e provocavam o passe para o lado ou a ligação direta. E não demorou muito para perceber que o Equador também se impunha através da força física e da velocidade. Principalmente com as investidas de Enner Valencia pra cima de Van Dijk (surpreendentemente mal nessa Copa do Mundo) e Timber.
O VAR e o trio de arbitragem viram interferência de Perozo no gol anulado de Estupiñán nos acréscimos do primeiro tempo. Lance discutível, mas que comprovava que Equador controlava as ações no campo com ótima atuação coletiva e muita disciplina tática. Logo no início da etapa final, o time de Gustavo Alfaro subiu a marcação e construiu a jogada do gol de Enner Valencia (o terceiro nessa Copa do Mundo) através das transições rápidas já mencionadas por este que escreve anteriormente. Aliás, a postura agressiva foi notada durante quase todo o segundo tempo com o trio ofensivo encaixando a marcação na saída de bola de uma Holanda que mais uma vez mostrou muito pouco.
É verdade que a Holanda poderia ter saído de campo com os três pontos se Gakpo não tivesse desperdiçado oportunidade incrível cara a cara com o goleiro Galíndez. Por outro lado, Plata acertou o travessão no melhor momento de “La Tri” na partida desta sexta-feira (25). Mesmo assim, a impressão deixada pela seleção de Equador foi a melhor possível. Os comandados de Gustavo Alfaro competiram demais contra um adversário tecnicamente superior e mostraram muita disciplina para controlar as ações no campo e se impor no jogo. Ótima atuação coletiva da equipe que, pelo menos para este que escreve, já pinta como forte candidata ao posto de “sensação” da Copa do Mundo.
A classificação para as oitavas de final da Copa do Mundo é um feito perfeitamente possível para “La Tri”. Se repetirem o futebol apresentado contra a Holanda na partida contra Senegal, as chances do time de Gustavo Alfaro aumentam consideravelmente. Ainda mais sabendo que um empate é suficiente para colocar Equador na próxima fase. Difícil não concluir que a equipe merecia melhor sorte no jogo disputado no Estádio Internacional Khalifa.