Paul Pogba, N’golo Kanté, Presnel Kimpembe, Christopher Nkunku, Boubacar Kamara, Mike Maignan e agora Karim Benzema. A quantidade de desfalques da França às vésperas da estreia da atual campeã na Copa do Mundo pode sim entrar no grupo das maiores assombrações da história dos Mundiais. A ausência do vencedor da Bola de Ouro em 2022 é, com toda a certeza, a ausência mais sentida de todo o elenco francês e não poderia ser diferente. Junto com o senegalês Sadio Mané, o corte de Benzema é talvez um dos mais surpreendentes e decepcionantes dos últimos anos. E justo quando o craque do Real Madrid está num dos melhores momentos da carreira.
Mas será mesmo que a França perde o status de favorita? Não para este que escreve. O escrete comandado por Didier Deschamps está repleto de grandes jogadores e mesmo com a teimosia do treinador em convocar o substituto de Benzema (para finalmente fechar o elenco com 26 jogadores), “Le Bleus” tem sim condições de fazer uma boa campanha no Catar por conta do histórico e da experiência de boa parte dos remanescentes da campanha na Rússia em 2018. O problema maior da equipe, no entanto, parece estar dentro de campo. E é exatamente por isso que Benzema vai sim fazer uma falta absurda na atual campeã mundial.
O escrete francês fez apenas oito partidas na temporada de 2022 (com três vitórias, dois empates e três derrotas, doze gols marcados e dez sofridos) e vem sofrendo com os desfalques desde o início da temporada. Notadamente, Benzema é um dos que mais sentiu as lesões com a maratona de jogos na Liga dos Campeões e no Campeonato Espanhol. Fora isso, a campanha na Liga das Nações de 2022/23 foi terrível e reflete bem o cansaço e a falta de soluções práticas por parte de Didier Deschamps. Contra a Dinamarca (em jogo realizado no final de setembro), o treinador apostou num 3-4-2-1 que trazia Mbappé e Griezmann mais soltos jogando atrás de Giroud.
Vale lembrar que o trio Giroud, Mbappé e Griezmann foi importantíssimo na conquista do bicampeonato mundial há quatro anos e a tendência é que eles devam reassumir o protagonismo no Catar. Apesar dos números ruins na atual temporada e de tantos desfalques, não dá pra tirar a França do páreo por conta da experiência do jogadores que estavam em 2018 e vão estar em campo daqui a alguns dias. Mas sem a qualidade e a dinâmica que Pogba e Kanté dão ao meio-campo e a genialidade de Benzema no ataque (só para ficar nestes três), as coisas ficam muito mais difíceis para Didier Deschamps. Mesmo com tantos bons nomes no elenco.
Voltando à derrota para a Dinamarca na Liga das Nações, o técnico francês mostrou que não está preso a uma única formação. Com as entradas de Nkunku (que poderia ser o substituto direto de Benzema caso não tivesse se lesionado nos treinamentos), Jonathan Clauss, Youssouf Fofana e Adrien Truffert, Deschamps emulou um 4-2-3-1 com Griezmann por dentro e Mbappé saindo da direita para dentro e explorando bem a profundidade. Não deu certo naquele dia 25 de setembro, mas é algo que pode ser usado no Catar para emular o time sólido de 2018 com o mesmo trio ofensivo abusando dos contra-ataques com lançamentos para Mbappé decidir na frente.
Mesmo assim, a missão da França fica sim mais difícil com essa série de desfalques. Principalmente Benzema que, conforme mencionado anteriormente, está numa das melhores fases da sua carreira apesar de sofrer com as lesões na atual temporada. É tanta gente machucada e que ficou de fora que o jornal francês RMC Sport montou uma “seleção” com os desfalques e os jogadores que não foram sequer convocados para a Copa do Mundo. E se formos avaliar os nomes que acabaram da lista final de Didier Deschamps por um motivo ou outro, ficamos com a certeza de que a França vai sim ter que se superar se quiser conquistar o tricampeonato mundial no Catar.
Seja como for, este que escreve não duvidaria do poder da França e da sua capacidade de superar adversidades. Foi assim em 1998 e em 2018, anos dos títulos mundiais dos “Le Bleus”. No entanto, a missão de Didier Deschamps fica ainda mais complicada sem sua principal estrela e vários outros jogadores que poderiam dividir a responsabilidade com os mais jovens. Não será difícil concluir que Camavinga, Tchouaméni, Konaté e Upamecano. Atletas de grande talento, mas que podem sentir a falta de uma referência técnica por perto. É nesse sentido que Benzema vai fazer mais falta. Mesmo com Mbappé, Griezmann e Giroud por perto.
Por que para vencer uma Copa do Mundo é preciso ter numa equipe a união de uma série de fatores como experiência, força de vontade, juventude e a soma certa entre trabalho e um pouco de sorte. Repito: não tiro a França do grupo das seleções que podem conquistar o título no Catar, mas está bem claro que a equipe de Didier Deschamps terá que se superar para atingir seu principal objetivo em todo esse ciclo.