Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as estratégias de Luís Enrique e Hans-Dieter Flick no jogaço deste domingo (27)
Antes de mais nada, é preciso deixar claro que o título desta humilde análise não é nenhum exagero. Espanha e Alemanha realmente nos brindaram com o jogo mais emocionante e mais estratégico dessa Copa do Mundo até o momento. Não foi por acaso que a partida disputada no Al Bayt Stadium terminou com a igualdade no marcador. Ainda que o contexto colocasse a pressão sobre os ombros da equipe comandada por Hans-Dieter Flick e aliviasse mais a barra do escrete de Luís Enrique, o domingo (27) “gordo” de Copa do Mundo foi encerrado no mais alto estilo e com a disputa pelas duas vagas nas oitavas de final completamente abertas. Bem como os amantes do futebol tanto apreciam.
A escalação inicial das duas seleções indicavam que o controle das ações no meio-campo e a posse da bola ia ser a tônica do jogo. Luís Enrique manteve a Espanha jogando no seu 4-3-3 preferido, mas sacou Azpilicueta para a entrada de Carvajal (talvez de olho nas descidas de Musiala pelo setor). Do outro lado, “Hansi” Flick apostou num 4-2-3-1 com Goretzka e Kehrer entrando nos lugares de Havertz e Schlotterbeck. Com isso, Thomas Müller assumiu o comando de ataque, Süle foi deslocado para a zaga e Gündogan foi jogar como “10” à frente dos volantes.
A pressão no portador da bola era um ponto fundamental nessa história toda. Gündogan fechava em cima de Busquets, Kimmich e Goretzka encaixavam em Gavi e Pedri e os pontas Gnabry e Musiala auxiliavam Thomas Müller na pressão em cima dos zagueiros da Espanha. No entanto, “La Furia” conseguia sair dessa pressão com certa facilidade por conta da movimentação de Asensio como “falso nove” atrás dos volantes. Süle até saltava da última linha para perseguir o camisa 10, mas abria o espaço que Dani Olmo aproveitava com ótimas descidas da esquerda para dentro.
A Alemanha tentava repetir a estratégia do seu adversário e sair com passes curtos desde seu campo, mas só conseguiu levar perigo ao gol de Unai Simón quando buscou o passe direto para o ataque. Thomas Müller recebia e passava para Gündogan, Musiala ou Gnabry. Mesmo assim, o placar continuou zerado no primeiro tempo. Ciente de que Asensio já não encontrava tanto espaço por dentro, Luís Enrque sacou Ferran Torres e mandou Morata para o jogo no início do segundo tempo. Com mais presença de área, a Espanha chegou ao primeiro gol em belo cruzamento de Jordi Alba para o camisa 7 quase na linha da pequena área. Um segundo de hesitação de Süle foi suficiente para Morata.
A mexida de Luís Enrique foi estratégica ao extremo. O treinador espanhol percebeu que sua equipe precisava de mais presença ofensiva e que ganharia mais movimentação às costas de David Raum com Asensio jogando pelo lado direito junto a Gavi e Carvajal. Pouco antes do gol de Morata, o goleiro Unai Simón já havia salvado “La Furia” numa finalização de Kimmich. E o camisa 23 trabalharia novamente em finalização de Musiala após assistência de Leroy Sané. Aliás, a entrada do atacante do Bayern de Munique foi fundamental para que a Alemanha voltasse a incomodar.
Isso porque o camisa 19 trouxe ao time de Hans-Dieter Flick a dose certa de explosão e de improviso que faltava na partida. Inicialmente, Sané foi jogar logo atrás de Füllkrug no mesmo 4-2-3-1 do início da partida, mas com muito mais intensidade e movimentação ofensiva. Aos 37 minutos do segundo tempo, a Alemanha aproveitou passe errado de Laporte para Pedri e iniciou a jogada do gol de empate. Klostermann recebeu e passou para Sané. Dele, a bola foi para Musialia que atacava as costas da zaga que passa pela marcação e deixa a bola com Füllkrug.
Impossível não perceber que a entrada dos “centroavantes de ofício” mexeu completamente com o jogo deste domingo (27). Por mais que Espanha e Alemanha tivessem a proposta de ocupar espaços e ir progredindo através dos passes curtos, a necessidade de se entrar na área adversária foi ficando cada vez mais clara conforme o tempo foi passando. Não foi por acaso que Morata e Füllkrug foram os autores dos gols da partida disputada no Al Bayt Stadium. Por outro lado, difícil não notar também que “La Furia” não tem substitutos para Gavi e Pedri à altura. Koke entrou no lugar do camisa 9 espanhol e acabou envolvido pela intensidade do escrete de Hans-Dieter Flick na segunda etapa.
Quem gosta do “jogo de posição” e de duas das escolas mais imitadas e inspiradoras de futebol de todo o planeta deve ter ficado plenamente satisfeito com o espetáculo proporcionado por espanhóis e alemães neste domingo (27). Duas seleções que querem ficar com a bola, propor o jogo e amassar seus adversários com toques rápidos e muita intensidade. Características diferentes na essência, mas com vários pontos em comum. Acabou que o resultado no Al Bayt Stadium deixou a Espanha numa boa. Já a Alemanha viu a pressão diminuir um pouco, mas não a ponto de relaxar completamente. O time de Hans-Dieter Flick ainda precisa mostrar a que veio nessa Copa do Mundo.
Seja como for, o embate entre “La Furia” e “Die Mannschaft” esteve recheado de vários outros elementos que fazem a alegria dos amantes da estratégia no futebol. E só mesmo a competição mais importante do planeta para proporcionar jogos como esse. E conforme mencionado anteriormente, ainda tem muita coisa pra acontecer nesse Grupo E do Mundial do Catar. Inclusive a lógica. Nada mais delicioso do que um duelo tático numa tarde de domingo (27).