Senegal faz seu melhor jogo na Copa do Mundo, vence o Equador e mantém o sonho dos “Leões da Teranga” bem vivo
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a partida desta terça-feira (29) e as escolhas de Gustavo Alfaro e Aliou Cissé
Senegal já havia feito ótimo jogo contra a Holanda na rodada de abertura da Copa do Mundo e mostrado que tinha muita qualidade apesar do desfalque da estrela Sadio Mané. Nesta terça-feira (29), os “Leões da Teranga” venceram a boa equipe do Equador e garantiram a classificação para as oitavas de final. O jogo disputado no Estádio Internacional Khalifa nos mostrou que Aliou Cissé conhece muito bem o elenco que tem em mãos e conseguiu tirar dos seus jogadores a melhor atuação coletiva nesse Mundial. Ao Equador resta lamentar as chances perdidas e o primeiro tempo muito abaixo dos comandados de Gustavo Alfaro. O sonho senegalês (bem presente em gerações mais antigas) continua bem vivo.
A vitória começou a ser construída a partir das mudanças promovidas por Aliou Cissé. Nampalys Mendy e Diatta deixaram o time titular para as entradas de Ismalia Ciss e Gana Gueye. Com o meio mais reforçado e Ilimar N’Diaye ganhando uma chance no ataque, Senegal se organizou a partir de um 4-2-3-1 de muita imposição física e com o constante apoio dos laterais Youssouf Sabaly e Ismail Jakobs. Os atacantes Ismaïla Sarr e Boulaye Dia incomodavam bastante na saída de bola do Equador e se movimentavam muito no terço final para confundir a marcação.
Do lado equatoriano do confronto, Gustavo Alfaro apostou num 4-3-3 de mais compactação na frente da área com Gruezo ao lado de Alan Franco e Moisés Caicedo para compensar o desfalque de Jhegson Méndez. Mais à frente, Enner Valencia saía da esquerda para dentro para aproveitar os espaços que a movimentação de Estrada deveria abrir na defesa adversária com Gonzalo Plata mais à direita. No entanto, “La Tri” sofreu bastante com a imposição física de Senegal e quase não conseguiu trabalhar a bola no meio-campo por conta das atuações ruins de Gruezo e Alan Franco.
Aliou Cissé colocou sua equipe no ataque desde o começo. A estratégia principal dos “Leões da Teranga” era lançar bolas longas para os pontas explorarem as subidas de Preciado e Estupiñán e entrar em diagonal para a finalização ou o passe para dentro buscando Boulaye Dia. Os volantes também eram presença constante no ataque. À esquerda, Ismaïla Sarr fazia boa trinca com Pape Gueye e Jakobs. Do outro lado, N’Diaye trabahava bem a bola com Sabaly e Gana Gueye. Com isso, o Equador tinha muita dificuldade para sair do seu campo e tentar acionar o trio ofensivo. Foram pelo menos três boas chances antes de Ismaïla Sarr abrir o placar aos 41 minutos do primeiro tempo. Resultado justo.
A estratégia adotada por Aliou Cissé travou completamente o time do Equador. Além de perder os duelos físicos, “La Tri” não mostrava lá muita eficiência na marcação e nem conseguia tirar o espaço entrelinhas. O que se via em campo era uma equipe que falhou miseravelmente quanto tentou igualar a intensidade alta de Senegal. Após o intervalo, o técnico Gustavo Alfaro sacou Gruezo e Alan Franco e mandou Sarmiento e Cifuentes para o jogo. Enner Valencia e Estrada foram adiantados para formar a dupla de ataque de um 4-4-2 mais presente no campo de ataque.
A grande sacada de Aliou Cissé foi baixar as linhas de marcação até quase a entrada da área dos “Leões da Teranga”. Com muita marcação por dentro e com os pontas Ismaïla Sarr e Ilimar N’Diaye ligados nas descidas de Preciado e Estupiñán, Senegal conseguiu travar as principais investidas do seu adversário no começo do segundo tempo. Um dos únicos cochilos da ótima dupla de zaga formada por Diallo e Koulibaly aconteceu aos 21 minutos da segunda etapa. Gonzalo Plata cobrou escanteio da direita, Félix Torres desviou e Moisés Caicedo apareceu na segunda trave.
Três minutos depois do empate, Gana Gueye levantou bola na área equatoriana, Enner Valencia afastou mal e Koulibaly (o melhor em campo) chutou forte e no alto para colocar os “Leões da Teranga” em vantagem no placar mais uma vez. Gustavo Alfaro ainda promoveu as entradas de Porozo no lugar de Preciado e de Djorkaeff Reasco no lugar de Estrada, mas Equador produziu pouco para quem precisava marcar mais um gol e ainda abriu espaços generosos na defesa. Pape Gueye e Boulaye Dia desperdiçaram boas chances na frente de Galíndez antes do zagueiro Pape Abou Cissé entrar no lugar do camisa 9 e fechar a defesa senegalesa com uma linha de cinco jogadores na frente de Edouard Mendy.
Não é fácil disputar uma Copa do Mundo sem seu principal jogador. Ainda mais quando ele é ninguém menos do que Sadio Mané. Mas precisamos reconhecer que Aliou Cissé vem conseguindo manter o sonho dos “Leões da Teranga” bem vivo com ótimas leituras de jogo e boas escolhas para cada situação que o campo apresenta. Os “Leões da Teranga” foram consistentes e organizados na defesa, muito dinâmicos no meio-campo e intensos no ataque. Tudo isso jogando com muita movimentação e explorando os pontos fracos de um Equador que sentiu muito esse estilo. “La Tri” fez ótimo jogo contra a Holanda e poderia até ter saído vencedora se o time não tivesse pecado demais no ataque.
Certo é que o sonho dos “Leões da Teranga” está bem vivo. Assim como o legado de Pape Bouba Diop, craque de Senegal na Copa do Mundo de 2002 e que faleceu há dois anos depois de longa batalha contra a esclerose lateral amiotrófica. O jogo contra a Inglaterra vai colocar todo o trabalho de Aliou Cissé à prova. E talvez pelo fato de entrarem em campo com o favoritismo do outro lado possa fazer com que o escrete senegalês jogue com a leveza que nos acostumamos a ver nesses últimos meses.