Em abertura morna, Equador aproveita nervosismo do Catar e estreia na Copa do Mundo com o pé direito
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Gustavo Alfaro e Félix Sánchez no primeiro jogo do Mundial
É verdade que a qualidade do jogo apresentado neste domingo (20), no estádio Al Bayt, esteve bem abaixo da expectativa. Mais do que isso. É possível dizer sem medo de errar que a partida de abertura da Copa do Mundo foi marcada pelo amplo domínio do Equador, que se transformou na primeira seleção da história dos Mundiais a vencer o país anfitrião num jogo de estreia. E a vitória de “La Tri” nasceu a partir do nervosismo e da falta de organização do Catar em vários momentos e em vários setores do campo. Na prática, o que a equipe de Gustavo Alfaro fez foi colocar a bola no chão e aproveitar os espaços generosos que apareciam pela frente.
A fragilidade da seleção do Catar já ficou evidente aos três minutos do primeiro tempo, quando Enner Valencia (o nome da partida) teve gol anulado por conta de impedimento do zagueiro Félix Torres (que participou do começo da jogada). Difícil não notar a “paçocada” do goleiro Saad Al-Sheeb na saída de sua baliza e na orientação do sistema defensivo dos anfitriões. Aliás, é plenamente possível afirmar que o time de Félix Sánchez tem tudo para se tornar o “fiel da balança” no Grupo A por conta do futebol pobre em ideias e (principalmente) em qualidade.
Mas o Equador tem seus méritos na construção do resultado deste domingo (20). Isso porque Gustavo Alfaro preferiu adotar a prudência e controlar o nervosismo dos seus jogadores na abertura da Copa do Mundo com uma postura mais cautelosa do que o esperado, mas que rendeu bons frutos. Ao invés da marcação sufocante no campo adversário, “La Tri” marcava a partir da intermediária num 4-2-3-1 de muita força pelos lados com Preciado, Estupiñán, Ibarra e Gonzalo Plata às costas dos alas Pedro Miguel e Homam Ahmed no espaçado 5-3-2 do Catar.
Muito dessa facilidade encontrada por “La Tri” veio da forma como o escrete catari saltava para a pressão. O trio de meio-campistas formado por Al-Haydos, Hatem e Boudiaf desprotegia demais a última linha e os alas avançavam e demoravam demais para fazer a recomposição. O lance do primeiro gol da partida (esse sim validado) nasceu de uma bola roubada no meio-campo em que estrada recebeu às costas dos volantes adversários e teve todo o tempo do mundo para ajeitar o corpo e fazer o lançamento para Enner Valencia sofrer a penalidade clara do afobado goleiro Saad Al-Sheeb. A ausência quase total de uma pressão pós-perda no Catar era outro problema grave.
Conforme mencionado anteriormente, boa parte da estratégia do time de Gustavo Alfaro passava pela postura mais cautelosa na marcação e pelas marcação em bloco médio. Com isso, o Equador encontrava espaço suficiente para avançar com a bola e criar as jogadas de ataque. Duas linhas com quatro jogadores na frente da área, olho nas linhas de passe e muita intensidade na retomada da posse e nos contra-ataques. Ibarra e Plata recuavam e deixavam Enner Valencia e Estrada mais livres para fazer a primeira pressão em cima do trio de zagueiros do Catar. Tudo para atrair os alas e volantes para frente e aproveitar o espaço aberto no meio-campo.
Acabou que a emoção ficou mesmo na primeira etapa com os dois gols de Enner Valencia (que se junta ao seleto grupo de jogadores que marcaram cinco vezes em Copas do Mundo). O Equador seguiu dominando a partida e controlando as ações repetindo toda a estratégia dos primeiros quarenta e cinco minutos. Já o Catar não conseguiu melhorar seu jogo nem mesmo com as substituições e com o relaxamento da marcação adversária no final da partida. A chance mais clara saiu dos pés do atacante Muntari num chute de que parecia despretensioso, mas que levou perigo ao gol de Galíndez. “La Tri” fazia história na Copa do Mundo e com toda a justiça, diga-se de passagem.
Não se sabe até onde o Equador vai chegar nessa Copa do Mundo, mas o que se viu neste domingo (20) foi suficiente para mostrar que Gustavo Alfaro tem em mãos um time bastante organizado e que sabe o que deve fazer com e sem a posse da bola. Por mais que o Catar tenha facilitado demais as coisas no estádio Al Bayt com um esquema de jogo frágil e problemas crônicos na cobertura defensiva, a impressão que fica é a de que “La Tri” conseguiu controlar o nervosismo da estreia e fazer aquilo que se esperava que ela fizesse. São sim três pontos valiosíssimos num grupo que parece ser bastante equilibrado do que muita gente pensa.
Ao Catar deve restar a missão de ser o “fiel da balança”. Há como se compreender o nervosismo da estreia e as cobranças das autoridades que estavam presentes e desejavam ver os anfitriões da Copa do Mundo saindo de campo com a vitória. Faltou organização tática, disciplina e uma vivência maior de torneios internacionais. E como eu e você sabemos, não é tudo que o dinheiro consegue comprar, não é mesmo?