Home Futebol Copa do Mundo 2022: organizado e agressivo, Marrocos escancara apatia da Bélgica com ótima atuação coletiva

Copa do Mundo 2022: organizado e agressivo, Marrocos escancara apatia da Bélgica com ótima atuação coletiva

Luiz Ferreira explica como Walid Regragui e Roberto Martínez montaram suas equipes na coluna PAPO TÁTICO

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Muita gente classificando a vitória (justíssima) de Marrocos sobre uma apática Bélgica está sendo classificada por muita gente como mais uma “zebra” dessa Copa do Mundo. Por outro lado, quando se nota o que o campo nos mostrou neste domingo (27) e na vitória magra e “mentirosa” sobre o Canadá, fica bem claro que os “Diabos Vermelhos” já andam tropeçando numa pasmaceira do tamanho do Al Thumama Stadium não é de hoje. Melhor para a seleção comandada por Walid Regragui. Os “Leões do Atlas” mostraram uma ótima proposta de jogo, exploraram muito bem as fragilidades do seu adversário e saíram de campo com uma daquelas vitórias que serão lembradas por muito tempo.

Ao mesmo tempo, ficam os questionamentos sobre as escolhas de Roberto Martínez na partida. Há como se compreender as mudanças de um jogo para outro (Dendocker, Carrasco e Tielemans deixaram o time para a entrada de Meunier, Thorgan Hazard e Onana), mas impressiona a forma como a Bélgica “competiu” nesse domingo (27). Mesmo jogando com uma linha de quatro defensores e com De Bruyne buscando sempre o espaço para atacar, os “Diabos Vermelhos” estavam completamente passivos diante das transições rápidas e na pressão do escrete de Marrocos.

Thorgan Hazard ainda deu alguma agressividade pela esquerda e Meunier sempre foi perigoso quando jogou mais espetado no outro lado. Mas o jogo belga não passou disso e das bolas longas para Batshuayi brigar contra a sempre bem posicionada defesa marroquina. Aliás, Walid Regragui foi inteligente ao manter o 4-1-4-1 nos “Leões do Atlas”, congestionar o setor da bola e os passes do zagueiro Aguerd buscando Ziyech (um dos melhores em campo), En-Nesyri e Boufal voando no espaço nas costas da última linha de defesa belga. O jogo de Marrocos estava encaixado.

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Formação inicial das duas equipes. Roberto Martínez apostou numa linha de quatro na defesa e Walid Regragui manteve o 4-1-4-1.

É interessante notar que o 4-4-2/4-2-3-1 inicial da Bélgica tinha uma pequena variação dependendo do posicionamento de Castagne. Era ele quem fechava pela esquerda na saída de bola dos “Diabos Vermelhos”. Com Onana baixando bastante pela direita, Witsel tinha que se virar para vencer a forte pressão marroquina e acionar o trio ofensivo. Do outro lado, Marrocos fechava bem os espaços do seu 4-1-4-1 e aproveitava bem a falta de movimentação dos atacantes belgas. Retomada a posse, Amrabat (que vigiava Eden Hazard e De Bruyne de perto) fazia a distribuição do jogo com muita qualidade e o auxílio luxuoso de Ounahi e Amallah na marcação e na construção das jogadas.

Castagne e Onana fechavam pelos lados, mas a Bélgica seguia estática e facilitava a marcação de Marrocos. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

A Bélgica só teve uma única boa chance de gol no primeiro tempo com Batshuayi parando no goleiro Munir El Kajoui. Já a equipe de Marrocos mostrou mais força ofensiva e criou mais oportunidades fazendo ligações rápidas com os atacantes (e também com a chegada forte do lateral Hakimi pela direita). Walid Regragui soltou ainda mais a sua equipe no segundo tempo. No entanto, apesar de levar perigo com Ziyech e Boufal, os “Leões do Atlas” também abriram espaços. Munir El Kajoui foi bem em finalizações de Eden Hazard e Mertens (substituto do camisa 10).

Mas o que realmente chamava a atenção era a forma como Marrocos jogava sem ser muito incomodado. A apatia da Bélgica na marcação era facilmente perceptível no Al Thumama Stadium. Na prática, os “Diabos Vermelhos” se fechavam na defesa com apenas sete jogadores, visto que Eden Hazard e De Bruyne pouco participavam dos momentos defensivos. Aos 27 minutos do segundo tempo, Sabiri cobrou falta da esquerda, Saïss atrapalhou Courtois e a bola morreu nas redes. Lance muito semelhante ao gol de Ziyech anulado no primeiro tempo por impedimento.

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Marrocos voltou mais agressivo para o segundo tempo e aproveitou bem a falta de combatividade da Bélgica. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Mesmo com a vantagem no placar, os “Leões do Atlas” mantiveram a estratégia. Bolas longas às costas da zaga da Bélgica, viradas rápidas de jogo e muita compactação no setor da bola. Roberto Martínez apostou num Lukaku completamente sem ritmo no lugar de Meunier para tentar o empate, mas acabou desprotegendo ainda mais a sua última linha. O lance do segundo gol marroquino (marcado por Aboukhlal aos 46 minutos) nasceu de mais uma bola longa escorada para Ziyech carregar de um lado para outro e servir o camisa 14 dentro da área. Gol que mostra que o ímpeto de Marrocos sempre foi grande e que a apatia da Bélgica conseguiu até mesmo apagar os grandes talentos do time.

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Munir El Kajoui inicia a jogada do segundo gol de Marrocos. A Bélgica não conteve Ziyech e Aboukhlal. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

É preciso dizer também que uma das poucas coisas que a Bélgica conseguiu depois da entrada de Lukaku foi uma cabeçada de Vertonghen à esquerda do gol marroquino. Muito pouco para quem prometia talento e bom futebol e entregou apenas atuações burocráticas nessa Copa do Mundo. Também é possível questionar a saída de Eden Hazard para a entrada do veterano Mertens. Não que o camisa 14 fosse uma alternativa ruim, mas o jogador do Real Madrid era um dos únicos que tentava fazer algo de diferente no setor ofensivo dos “Diabos Vermelhos”. E também fica a crítica para o Mundial de Kevin de Bruyne. Nem o mais pessimista dos torcedores belgas esperava atuações tão burocráticas.

É preciso dizer que Marrocos fez um grande jogo. Daqueles que serão lembrados por muito tempo. Mas é a forma como os “Leões do Atlas” encararam o confronto deste domingo (27) que deve servir de lição para a “Geração Belga” e para todas as outras seleções que estão disputando essa Copa do Mundo. Não basta apenas talento. É preciso dar um chute na apatia e na pasmaceira pra longe e se dedicar em cada lance.

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