Todo mundo sabe que a relação do argentino com o futebol já foi tema de crônicas, músicas, filmes e várias outras manifestações artísticas. Existe algo de místico nesse relacionamento, algo que transcende o entendimento do jogo dentro das quatro linhas. Quem viu a Argentina de Lionel Scaloni no primeiro tempo da vitória sobre o México viu uma equipe afobada, desorganizada e que estava prestes a entregar os pontos. Foi aí que surge o grande herói da noite deste sábado. Diante de todas as críticas por conta de sua atuação apagada, Messi chamou a responsabilidade e tirou um peso do tamanho do legado de Maradona das costas da Albiceleste.
Mas é preciso dizer que a Argentina esteve longe de fazer uma boa partida este sábado (26). Muito por conta da derrota para a Arábia Saudita e da pressão que tomou conta dos jogadores portenhos. Lionel Scaloni, por sua vez, fez cinco mudanças com relação ao time que entrou em campo na primeira rodada. Molina, Romero, Tagliafico, Paredes e Papu Gómez saíram para as entradas de Montiel, Lisandro Martínez, Acuña, Guido Rodríguez e Mac Allister. O 4-4-2 básico foi mantido, mas a Albiceleste encontrou muitas dificuldades e parecia afobada.
Do outro lado, Tata Martino apostava num 5-3-2 que trazia Néstor Araújo, César Montes e Hector Moreno formando o trio de zagueiros e Héctor Herrera, Luis Chávez e Andrés Guardado protegendo a última linha e buscando as transições rápidas para Alexis Vega e Lozano. Embora vacilasse na marcação pelo lado direito de defesa, o México acabava beneficiado por conta da forma como seu adversário jogava. Mesmo jogando contra uma pressão de dois jogadores, a Argentina fazia a saída de três com Guido Rodríguez afundando entre os zagueiros e esvaziava o meio-campo.
De Paul e Montiel estavam mal demais na partida e erravam tudo que tentavam, Lautaro Martínez esteve isolado no ataque e Messi se via obrigado a descer até a linha dos volantes para iniciar as jogadas. A Argentina parecia presa dentro da boa marcação do México em bloco mais baixo do que médio num primeiro tempo acabou marcado pelas poucas chances de gol. A melhor de todas veio de cobrança de falta de Alexis Vega que Emiliano Martínez defendeu. Faltava na Albiceleste ao menos um mínimo de tranquilidade para trabalhar melhor as jogadas e ocupar melhor os espaços que “La Tricolor” concedia. Faltava Messi aparecer. E ele apareceu na primeira vez em que teve espaço.
Lionel Scaloni fez sua parte ao sacar Guido Rodríguez, Montiel e Lautaro Martínez para as entradas de Enzo Fernández, Molina e Julián Alvarez. A Argentina ganhou muito mais qualidade na saída de bola e ficou mais dinâmica após as substituições. Do outro lado, o México baixava o bloco até a entrada da área. Mas faltava ele. Com a marcação mais adiantada e um melhor posicionamento do escrete portenho com a bola, Messi parou de baixar tanto e foi jogar mais perto do ataque. Aos 18 minutos do segundo tempo, Di María achou o camisa 10 entre as linhas do 5-3-2 mexicano. Bastou um piscar de olhos para que “La Pulga” mostrasse porque é um dos melhores da história.
Nem é preciso lembrar que o gol desarrumou completamente o México. Tata Martino ainda tentou dar fôlego novo ao time, mas esbarrou nas próprias limitações do elenco que comanda. Do outro lado, Lionel Scaloni desfez seu 4-4-2 e apostou num 3-5-2 com Romero e Palacios nos lugares de Di María e Mac Allister. Com o time mais encorpado no meio e muito intenso nas transições, a Albiceleste conteve o ímpeto mexicano (ainda que na base de um “abafa” que não encaixou em momento algum). Aos 41 minutos da segunda etapa, Enzo Fernández recebeu passe de Messi, se livrou da marcação e acertou o ângulo do goleiro Ochoa. Golaço para fechar a vitória e acabar com o drama.
É verdade que a vitória foi importantíssima para a Argentina e que os três pontos conquistados em cima do México recolocam o time de Lionel Scaloni na disputa por uma vaga nas oitavas de final. Por outro lado, a impressão que fica é a de que a Albiceleste está bem longe no nível apresentado nos últimos meses. Este que escreve entende que o treinador portenho tem suas convicções, mas falta um pouco mais de leitura do que acontece dentro de campo. Foi assim contra a Arábia Saudita e foi assim no primeiro tempo contra o México. E Enzo Fernández não pode ser reserva em HIPÓTESE ALGUMA. A dinâmica e a qualidade que o camisa 24 trouxe falam por si só.
Certo é que eu e você vimos a Argentina se reerguer depois de uma derrota surpreendente na sua estreia na Copa do Mundo. Há quem lembre 1990, quando o time de Carlos Billardo foi derrotado pelo Camarões de Roger Milla, Thomas Nkono e François Omam-Biyik. De fato, a Albiceleste ainda está bem viva na Copa do Mundo do Catar. Mas precisa reencontrar o equilíbrio e colocar os pensamentos em ordem para não depender tanto de Messi.