A Fifa (Federação Internacional de Futebol) é a entidade máxima do futebol mundial. Fundada em 1904 numa simplória sala de um prédio comercial em Paris, atualmente possui sede em um amplo empreendimento localizado na cidade de Zurique, Suíça. Após sucessivos fracassos na elaboração de torneios entre seus filiados, eis que o ano de 1928 reserva a aprovação do “Primeiro Campeonato Mundial” de futebol, ocorrido em 1930. Aquela modesta competição recebeu o nome de Copa do Mundo e será disputada pela 22ª vez neste ano de 2022. O Catar será a sede do evento.
Ao longo do tempo, o órgão ampliou seus meios de atuação. Controla não somente o futebol de campo como também o futsal e o futebol de praia (ou futebol de areia). Seu quadro de associados possui 211 países, mais até do que a ONU (Organização das Nações Unidas), que soma 193.
O zelo pelas regras é compartilhado com o comitê da International Football Association Board (Associação Internacional das Regras do Futebol).
A despeito de inúmeros casos sórdidos de corrupção, a associação permanece forte. Há confederações espalhadas pelos continentes para auxilia-la em sua gestão.
Pela América do Sul, a responsável é a Conmebol. A Uefa representa a Europa. Concacaf (América do Norte, América Central, Caribe, Guiana e Suriname), AFC (Ásia), CAF (África) e a OFC (Oceania) complementam os órgãos competentes.
Fundação de uma entidade visava a união e o fomento do esporte pela Europa
A ideia de fundar uma entidade internacional pretendia disseminar o futebol pelo continente europeu. Membros de federações nacionais se juntaram e propuseram uma aliança aos ingleses vislumbrando a criação de regulamentos e competições periódicas. Berço do futebol, a Inglaterra já possuía uma federação desde 1863, a FA (Football Association) e um órgão responsável pelas regras, a International Football Association Board, fundada em 1882.
Carl Anton Wilhelm Hirschmann, secretário-geral da Associação Holandesa de Futebol, realizou a primeira investida em outubro de 1901. A cúpula da FA, todavia, alegou que uma parceria não traria benefícios e encerrou as negociações em maio de 1902. Apesar do fracasso, alguns diretores de outras federações participantes das tratativas mantiveram seus ideais e não desistiram do projeto.
O surgimento da Fifa
Após anos de planejamento e a recusa de cooperação da principal associação de futebol, o sonho se transformou em realidade. A Fifa surgiu oficialmente no dia 21 de maio de 1904 em Paris, na Rua Saint Honoré, 229, em uma sala da sede da União das Sociedades Francesas de Esportes Atléticos, federação responsável pelos esportes na França. Ainda esperançosos pela mudança de ideia dos ingleses, os dirigentes basearam suas regras pela International Football Association Board e nomearam a entidade utilizando dois idiomas: a primeira metade “Fédération Internationale” é de origem francesa e a segunda, “Football Association”, inglesa.
Inicialmente, a reunião constituiu-se por sete membros-fundadores representando sete países diferentes.
A Bélgica foi homologada por Louis Muhlinghaus e Max Kahn. Dinamarca e Suécia por Ludwig Sylow.
Robert Guérin e André Espir foram os representantes da França. Espir, inclusive, foi autorizado por procuração a representar a Espanha através do Madrid FC, clube que viria a ser renomeado para Real Madrid, em 1920. O país, naquela época, não possuía uma federação de futebol. Esta fora constituída no ano de 1909.
Um dos integrantes mais ativos para a criação do órgão, Carl Hirschmann representou a Holanda e Victor Ernst Schneider, a Suíça.
A Alemanha mandou um telegrama solicitando sua filiação neste mesmo dia e recebeu a aprovação em 1º de setembro.
Robert Guérin, 28 anos, jornalista francês do “Le Matin” e secretário do Departamento de Futebol da Union des Societes Françaises de Sports Athletiques (União das Sociedades Francesas de Esportes Atléticos), foi aclamado por unanimidade como o primeiro presidente da história da Fifa.

Ingleses impõem condições e se juntam ao quadro da Fifa
No ano de 1905 enfim aconteceu o tão esperado acordo com a federação inglesa. O aceite ocorreu mediante algumas exigências. A principal era o comando da entidade e o direito de regulamentar as regras do jogo.
Durante seu 2º Congresso, realizado em Paris no dia 14 de abril, a Fifa comunicou a aprovação do Comitê Executivo da FA e anunciou oficialmente a adição inglesa ao quadro de associados.
Respeitando tais condições, Daniel Burley Woolfall tomou posse como o segundo presidente. A efetivação ocorreu no decurso do 3º Congresso, realizado no dia 04 de junho de 1906 em Berna, capital da Suíça.

Rapidamente cogitou-se a realização de uma competição internacional. Nenhum país, porém, manifestou interesse até a data-limite, 31 de agosto, por considerar algo ainda prematuro. Oito anos depois, em 1913, o presidente do Comitê Interfederal Francês (embrião da Federação Francesa de Futebol) Jules Rimet repaginou a antiga ideia e sugeriu a criação de um “torneio aberto” internacional que agregaria todos os membros filiados da entidade. A proposta não obteve apoio.
Aproveitando o ensejo, Carl Hirschmann propôs estabelecer o torneio olímpico como o campeonato mundial da época. A parceria entre Fifa e COI (Comitê Olímpico Internacional) perdurou por três edições: Antuérpia-1920, Paris-1924 e Amsterdã-1928.
Os Jogos Olímpicos foi o principal certame do futebol de seleções na época. A competição, entretanto, era disputada somente por atletas amadores, como mandava os preceitos do evento.
Jules Rimet assume a presidência
Nesse ínterim pouco produtivo em questão de elaboração de competições internacionais houve acontecimentos históricos, como a eclosão da Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, a morte do presidente da Fifa Daniel Woolfall, no fim de 1918, e a saída da federação inglesa da entidade. Isso ocorreu porque a FA exigiu a remoção do quadro de filiados os países do Império Central do confronto bélico, no caso Alemanha, Áustria e Hungria. Suécia e Suíça, entretanto, votaram contra. Tal atitude revoltou os ingleses, que não obtiveram amparo das demais federações. Outras nações do Reino Unido (Escócia, Irlanda do Norte e Gales) e o Canadá se desfiliaram como ato de repúdio.
Devido à morte de Woolfall, Carl Hirschmann conduziu a Fifa interinamente por dois anos, a partir de 1919. Jules Rimet tornou-se oficialmente o presidente em 1921 e exerceu a função simultaneamente ao comando da Federação Francesa de Futebol. Seu mandato na Fifa, findado em 1954, é o mais longevo da história.
No ano anterior à sua efetivação, o francês havia ressuscitado o plano de organizar uma competição independente do COI (Comitê Olímpico Internacional). Seu desejo, no entanto, foi novamente descartado.

O jogo virou a partir dos Jogos Olímpicos de 1924, em Paris. A final entre Uruguai e Suíça, vencida pelos sul-americanos por 3 a 0, recebeu 40 mil pessoas. Os dirigentes da Fifa perceberam que um torneio entre seus filiados poderia render um potencial ganho financeiro com o sucesso de público. Além disso, constataram competitividade em seleções de outros continentes. Diante de tais atrativos, enxergaram a necessidade de desarquivar o antigo projeto e tirá-lo do papel.
Após muitas bolas na trave, enfim o gol de placa
Em dezembro de 1926 houve a criação de um comitê de estudos para a viabilização do “torneio aberto”. O intuito era englobar a participação de seleções sem distinção de jogadores profissionais e amadores. Henri Delaunay recebeu a incumbência de elaborar o projeto.
Muito ativo, o então dirigente da Fifa e secretário-geral da federação francesa sempre apoiou Rimet. Paralelamente, em 1927, propôs o surgimento da “Taça da Europa” entre seleções. Criativo, já havia sugerido uma competição entre clubes do continente. Ambas as ideias foram previamente escanteadas, pois o foco daquele momento era um campeonato entre os associados ao redor do mundo.
Durante o 17º Congresso da Fifa, no quinto mês de 1928, Delaunay apresentou um consistente plano destacando a questão financeira. Houve a proposição de cobrança de ingressos e a distribuição de premiação às equipes proporcionalmente à quantidade de jogos realizados.
23 das 29 federações sinalizaram positivamente. Somente Dinamarca, Estônia, Finlândia, Noruega e Suécia foram contrários e a Alemanha se absteve. Estava aprovado, portanto, o primeiro campeonato internacional da Fifa. O acontecimento histórico foi datado em 28 de maio na capital holandesa Amsterdã.
Seis países prontificaram-se a lançar suas candidaturas: Espanha, Itália, Holanda, Hungria, Suécia e Uruguai.
Disputa entre europeus e um sul-americano foi vencida pela “Suíça da América”
Passado um ano, Barcelona recebeu o 18º Congresso da Fifa, decisivo para a escolha do anfitrião. De maneira surpreendente, o Uruguai foi anunciado oficialmente como a primeira sede da Copa do Mundo. Além do sucesso da seleção nacional, bicampeã olímpica em 1924 e 1928, o ótimo planejamento foi primordial para a escolha.
O governo do país desejava sediar um grande evento para comemorar os 100 anos de independência, em 1930. O comitê uruguaio, respaldado pelas autoridades, ofereceu premiações monetárias e despesas integralmente pagas às delegações participantes. A Fifa, assim, minimizaria seus custos com a organização, algo que seria benéfico no âmbito econômico para a entidade.
Enrique Buero, embaixador do Uruguai na Bélgica e nos Países Baixos, fora nomeado dirigente da Fifa em 1926. Figura importante de todo o processo, o uruguaio era um entusiasta dos antigos sonhos de Jules Rimet. Desde 1925, antes mesmo da criação do comitê de estudos, Buero já havia disponibilizado seu país para acolher um torneio entre seleções. O mandatário da Fifa sempre apreciou tal prestatividade.
Hábil e comunicativo, o diplomata colocou-se em boa posição política para convencer seus companheiros a votarem à favor da “Suíça da América”, como era conhecido o Uruguai devido a sua prosperidade econômica. Todos os seus argumentos apresentados foram considerados plausíveis para a definição.
Ainda naquele Congresso decidiu-se que o torneio seria disputado em anos pares e no intervalo de dois anos divergentes aos Jogos Olímpicos. Isso posto, não haveria conflitos no calendário entre as competições.
O boicote das principais potências europeias
A escolha, entretanto, gerou protesto de alguns representantes europeus. Questionou-se, e muito, sobre as dificuldades logísticas em que as delegações teriam de se submeter. Na época, os principais meios de transporte para uma viagem intercontinental eram navios e barcos. Rumar à América do Sul significaria um longo deslocamento entre 14 e 21 dias, dependendo do local de embarque.
Revoltados, os italianos encabeçaram um boicote ao certame e prontamente obtiveram o apoio de outras federações importantes de seu continente. Para os dirigentes, ceder seus jogadores por dois meses à uma competição recém-criada e sem garantias de sucesso traria um impacto negativo nas finanças e na performance dos clubes profissionais. Além destes agravantes, haveria a dificuldade na liberação de jogadores amadores junto às empresas em que trabalhavam.
Membros da federação uruguaia sentiram-se desprestigiados. Irritados, ameaçaram retirar a candidatura e se desassociarem da Fifa. O órgão máximo manteve-se firme e bancou o sonho do país sul-americano de organizar o inédito campeonato.
Mesmo sem a presença das principais potências europeias como Itália, Áustria e Espanha, a Copa do Mundo de 1930 aconteceu com a presença de 13 países.
Sete representaram a América do Sul: Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Peru e Paraguai.
Estados Unidos e México vieram da América do Norte. Bélgica, França, Iugoslávia e Romênia atravessaram os mares partindo da Europa.
O Uruguai, além de sediar, venceu a edição embrionária daquela que se tornaria a maior competição mundial do futebol.