Variações táticas, consistência e gols: seleção brasileira está pronta para a Copa do Mundo 2022
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a goleada sobre a Tunísia e as escolhas de Tite às vésperas do Mundial
A Seleção Brasileira fez aquilo que se esperava dela no confronto contra um adversário mais frágil. Mas a goleada por 5 a 1 sobre uma Tunísia que tentou criar problemas para a equipe comandada por Tite foi muito além do “protocolar”. O time mostrou muita força na marcação, variações táticas interessantes e ainda encontrou tempo para entregar lances que empolgaram o torcedor ávido pelo chamado “futebol-arte”. É lógico que nem tudo são flores e que o trabalho do treinador do escrete canarinho não é perfeito. Mas precisamos admitir que, diante de tudo o que eu e você vimos nesse ciclo, a Seleção Brasileira está sim pronta para a Copa do Mundo.
Mais do que as vitórias tranquilas sobre Gana e Tunísia e a campanha nas Eliminatórias da Copa do Mundo, o desempenho dentro de campo reforça a tese de que o Brasil vem forte para o Mundial do Catar. Ao contrário do que se viu na Rússia, em 2018, vemos Tite procurando encaixar o time mais técnico possível sem que o equilíbrio defensivo seja jogado para escanteio. Isso ajuda a explicar a preferência por Fred ao lado de Casemiro e o posicionamento de Danilo quase como um terceiro zagueiro ao lado de Marquinhos e Thiago Silva.
Por outro lado, o grande legado desse ciclo são as variações táticas. Contra a Tunísia, vimos a Seleção Brasileira ser escalada num 4-2-4 e se organizar numa espécie de 3-2-5 com a posse da bola. Ainda que o setor ofensivo fique um pouco distante do meio-campo, essa formação ajuda na amplitude e possibilita que os atacantes que jogam mais por dentro possam explorar os espaços na última linha adversária. Exatamente como Raphinha fez no lance do primeiro gol da Seleção Brasileira após belo lançamento de Casemiro.
Como era de se esperar, Tite reforçou a ideia de que quer “nove operários” jogando para Neymar. O camisa 10 é o grande articulador de jogadas e principal referência técnica da Seleção Brasileira, mas é bom destacar que o time não depende tanto dele como antigamente. O posicionamento mais recuado e recebendo a bola de frente para o ataque permite que os demais jogadores se lancem no espaço vazio e/ou recuem para participar da construção das jogadas. Embora Tite tenha optado por Lucas Paquetá jogando de início contra a Tunísia, essa formação ajuda a potencializar os “pontas com pés invertidos” da Seleção Brasileira, casos de Raphinha, Antony e Vinícius Júnior.
É verdade que a Seleção Brasileira resolveu o jogo no primeiro tempo e que as coisas ficaram ainda mais fáceis depois que o zagueiro Bronn foi expulso. No entanto, mesmo jogando em ritmo um pouco mais lento do que nos primeiros 45 minutos, o escrete canarinho (que jogou com a sua belíssima camisa azul) manteve o controle do jogo e viu Pedro entrar no lugar de Richarlison e marcar o quinto gol após bela troca de passes envolvendo Marquinhos, Neymar, Vinícius Júnior e Antony. Novamente, as variações no posicionamento permitiram que a Seleção Brasileira pudesse vencer a forte marcação da Tunísia na frente da sua área para chegar ao objetivo final.
Na opinião deste que escreve, essa Data FIFA acabou sendo muito bem aproveitada por dois jogadores. O primeiro deles é Richarlison. Com três gols, muita movimentação e entrega com e sem a bola, o nosso querido “Pombo” se colocou à frente de Gabriel Jesus na briga pela camisa 9 da Seleção Brasileira. E o outro foi Alex Telles. A lacuna deixada por Guilherme Arana (lesionado) permitiu que o lateral do Sevilla pudesse mostrar que pode sim ser o “lateral-base” pela esquerda que Tite tanto procurou nesse ciclo. Ele e Richarlison, inclusive, se encaixaram muito bem no modelo de jogo do treinador do escrete canarinho. E isso conta demais nessa reta final.
É óbvio que o plano de jogo de Tite não está livre de falhas. Mesmo assim, a Seleção Brasileira mostrou mais uma vez repertório ofensivo e variações interessantes na formação e no jeito de jogar e uma capacidade de adaptação interessante. Conhecendo o treinador do escrete canarinho, é muito difícil que ele abra mão de um meio-campo mais forte contra Suíça, Sérvia e Camarões. Primeiro pela característica dos adversários do Brasil na fase de grupos da Copa do Mundo e depois pela segurança que Fred e Casemiro passam no sistema defensivo. Pode não ser a formação preferida de todos, mas precisamos admitir que ela funcionou muito bem quando foi testada.
Certo é que a Seleção Brasileira mostra que está sim pronta para o Mundial do Catar e que vai entrar forte na briga pelo título. A caminhada até o “Olimpo” do futebol não é nada fácil e Tite sabe muito bem disso. E diante do que eu e você vimos nesses últimos meses, é possível sim ficar um pouco iludido com o futebol jogado por Neymar, Casemiro e companhia.