Ser capaz de tomar uma decisão drástica no auge da carreira não é uma tarefa das mais simples, e dificilmente se concretiza pelo medo da mudança. Indo na contramão deste cenário e buscando novos horizontes, a jornalista Natalie Gedra optou por dar uma “revolucionada” em sua vida no ano de 2016. O pedido de demissão da Globo surpreendeu, e o desejo de deixar a profissão, se especializando em gestão esportiva em outro país, ainda mais.
A mudança para Londres, no entanto, reservava um momento de ascensão ainda maior, e isso dentro do próprio jornalismo. Correspondente da ESPN, a repórter que despontou no rádio é querida por nomes como Jürgen Klopp, Guardiola, Pochettino, tem uma abertura ímpar nos grandes clubes da Terra da Rainha, e hoje é referência e consolidada na profissão.
Em entrevista exclusiva ao Torcedores.com, Natalie Gedra trouxe detalhes sobre a vida no Reino Unido, dificuldades de bastidores nas viagens e entradas ao vivo, diferenças no jornalismo britânico e brasileiro, e a boa relação nos bastidores da Premier League com astros do futebol.
MUDANÇA RADICAL
Descontente com algumas situações no jornalismo, Natalie Gedra abriu mão da emissora carioca, e resolveu mudar seu destino, indo realizar uma pós-graduação na Inglaterra, desligando-se assim da profissão por algum tempo, mas um convite irrecusável estaria por vir meses depois de sua chegada no país europeu.
“Na verdade, eu sempre quis foi morar fora, eu queria voltar a estudar, queria fazer uma pós, mudar algumas coisas na carreira. Eu estava contestando algumas coisas no jornalismo, e decidi morar fora, mas vim sem nada. Não vim com nada fechado. Sem emprego. Dois meses depois veio o convite da ESPN, que tinha adquirido os direitos da Premier League para o Brasil”, revelou a correspondente.
Antes do convite ser feito, Natalie trabalhava em um café como garçonete, no objetivo de cobrir os gastos dos estudos. Uma semana depois do “sim” lá estava ela cobrindo nada menos do que Real Madrid x Barcelona, uma espécie de “esquenta” para seu início de trajetória internacional.
JORNALISMO: BRASIL x INGLATERRA
Questionada sobre o preconceito no âmbito do jornalismo esportivo para com as mulheres no comparativo Brasil e Inglaterra, Natalie aponta diferenças cruciais. Embora o volume britânico seja menor, a correspondente citou uma situação que não se vê nas emissoras da Terra da Rainha.
“Olha, eu acho que no Brasil existem mais mulheres trabalhando. Mas ao mesmo tempo, eu acho que são aspectos diferentes. Por exemplo, aqui eu acho que a gente vê muito mulheres mais velhas no vídeo. No Brasil, parece que você tem que ter uma determinada aparência e idade. Acontece muito o ‘ela está ficando velha demais’. Aqui isso não existe”, revela a correspondente.
CONFIANÇA DOS GIGANTES
Na Premier League, Natalie passou a se notabilizar pelo trabalho executado que aliado ao seu carisma brasileiro abriu “portas” com grandes nomes, sendo a “queridinha” dos principais treinadores do futebol mundial. Em termos de relacionamento, a jornalista aponta Pochettino como o mais próximo pela questão sul-americana, mas destaca o quanto Klopp e Guardiola são receptivos e “humanos”.
“Tenho boas relações com os dois. O Klopp é um cara que eu entrevistei muito no início, agora tenho entrevistado menos, porque tenho falado mais com os brasileiros do Liverpool. Agora no começo da temporada, eu fui fazer a Supercopa da Inglaterra, e ele saiu do túnel, ele veio me deu um abraço, e eu o parabenizei pela conquista. Ele sempre costuma vir e conversar, puxar papo. E o Guardiola é um estilo mais reservado, só que quando você senta com ele… Ele é muito legal. Sempre foi nota 1.000 comigo, me trata super bem. Vinha, perguntava da família, e até depois de entrevistas ele é muito simpático, mesmo quando ele perde (risos). Acabei desenvolvendo boa relação com os dois, e isso é fruto da convivência, que podem confiar em você, e também dessa informalidade que a gente tem que é mais natural. Acho que eles gostam disso”, aponta Natalia Gedra.
Klopp fala sobre possível saída de Coutinho do @LFC e até sugere tema para entrevista com Natalie Gedrahttps://t.co/quhEtnaQsT pic.twitter.com/I3AAblZrSj
— ESPN Brasil (@ESPNBrasil) August 19, 2017
INÍCIO DE CARREIRA
“Adorava fazer rádio, o rádio me ensinou muito. Foi um período muito feliz e muito intenso também, porque o pessoal trabalha para caramba. Depois fui para a Band (televisão), fiquei três anos, e depois o pessoal da Globo me chamou, onde fiquei mais três anos”, disse Natalie.
DIFICULDADES DOS BASTIDORES
Para muitos, correspondentes esportivos têm o “trabalho dos sonhos”, afinal cobrem as principais ligas e estão sempre nos bastidores tendo contato direto com astros do mundo da bola. Mas para se produzir um conteúdo de qualidade há muito sacrifício e o enfrentamento de alguns perrengues, algo que Natalie Gedra já se familiarizou.
Sozinha, ela percorre a Inglaterra de Norte a Sul em viagens de trem conduzindo um grande volume de material para entrevistas e links ao vivo. Às vezes, alguns torcedores dão aquela “forcinha”, mas isso é longe de uma prática diária.
“Essa temporada eu estava até falando para a minha produtora que eu preciso escrever um livro somente dos perrengues que eu passo por aqui. Quase toda semana. Como a gente trabalha sozinha é muita coisa que pode dar errado. O trem é um clássico. Trem cancelado, sem marcação de assento. Você tem que correr com todos os equipamentos. Pegar trem errado. Equipamento que não funciona, daí você tem que fazer funcionar. E ao mesmo tempo você está se descabelando e em 10 minutos tem que estar pronta, serena, tranquila, com todas as informações na cabeça. É muita coisa que acontece, e que dá errado para no fim dar certo no ar. Esse é o grande desafio”
“Aqui tem muitas restrições, às vezes você monta todo o equipamento, aí chega alguém ‘não, você não pode estar aqui, porque era é área privada’, você está de frente ao estádio, mas a rua de frente ao estádio é uma área privada, então tem que pagar para estar lá”, detalha Natalie Gedra.