Há quem ache este colunista exagerado quando ele afirma que o Palmeiras de Abel Ferreira já é uma das grandes equipes da história do futebol brasileiro. E isso não se deve apenas aos títulos, mas à maneira como esse time consegue se manter frio, calculista e concentrado mesmo nos momentos mais complicados. A classificação para as semifinais da Libertadores nos mostraram um pouco dessa fibra e da tão conhecida filosofia adotada pelo treinador português. Foi preciso ter a “cabeça fria” para suportar a pressão do Atlético-MG de Cuca depois das expulsões de Danilo e Gustavo Scarpa e “coração quente” para não deixar de acreditar que era possível conquistar a tão sonhada vaga.
A partida de ida (disputada no Mineirão) já comprovava a capacidade de adaptação e todo o poder de reação do Palmeiras. O escrete comandado por Abel Ferreira buscou o empate depois de estar perdendo por 2 a 0 para o mesmo Atlético-MG que não conseguiu criar chances de gol claras nem mesmo quando teve dois jogadores a mais em campo nesta quarta-feira (11). É possível apontar alguns dos erros cometidos por Cuca no Allianz Parque, mas é preciso lembrar que o Verdão teve MUITOS méritos nesta classificação épica.
Entender o contexto e se adaptar a ele usando as peças à disposição é o primeiro grande mandamento de qualquer treinador de futebol do mundo. E foi o que Abel Ferreira fez e faz desde que chegou ao Palmeiras. Poucos profissionais conseguiram entender tão bem e tão rápido o futebol brasileiro, como o português, e todos seus problemas. Isso é fundamental para se sair bem aqui por estas bandas e conquistar feitos inesquecíveis como o da última quarta-feira (11). E o melhor: sempre nos dando uma aula de tática.
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A força dessa equipe começou a ser vista com mais clareza a partir dos 28 minutos da primeira etapa, quando Danilo foi expulso de maneira justa. Abel Ferreira desfez seu 4-2-3-1 e fechou a sua equipe numa espécie de 4-4-1 com Dudu jogando mais à frente, Raphael Veiga recuando para junto de Zé Rafael (um dos melhores em campo em companhia de Gustavo Gómez e Murilo) e Rony e Gustavo Scarpa pelos lados. Quando o Atlético-MG tinha a bola, era possível ver um dos jogadores (geralmente Rony) dessa segunda linha palmeirense recuando para se tornar um quinto defensor. O objetivo era povoar a entrada da área e não permitir que Hulk, Nacho, Zaracho e companhia tivessem espaço para atacar a área.
É verdade que podemos falar também de algumas das escolhas de Cuca. É difícil entender o que o treinador do Galo pretendia fazer ao sacar Ademir para a entrada de Nacho Fernández. O camisa 26 era sim necessário diante do contexto que a partida mostrava para o escrete atleticano (principalmente pelo passe certeiro e pela ótima visão de jogo), mas não no lugar do único que poderia dar profundidade e explorar os lados do campo. Ao mesmo tempo, estava nítido que o Atlético-MG precisava de quem povoasse o meio.
As três melhores chances criadas pela equipe comandada por Cuca em todo o jogo nasceram de bolas longas ou cruzamentos para a área. Muito pouco diante da expectativa que ainda cerca a equipe mineira. A entrada de Alan Kardec poderia ser uma opção para segurar mais a bola e prender a marcação por dentro para que Hulk tivesse condição de atacar a área do goleiro Weverton. Difícil entender uma série de coisas. Principalmente o fato de Cuca não ter sacado pelo menos um dos volantes para ser mais ofensivo.
É óbvio que é fácil falar depois que a partida já terminou. Mas este que escreve não é comentarista de resultados. Enquanto Cuca mostrava uma série de dificuldades para criar dinâmicas ofensivas no Atlético-MG, Abel Ferreira tinha o elenco do Palmeiras nas mãos e sabia exatamente quais orientações precisavam ser dadas. A expulsão de Gustavo Scarpa deixou a situação ainda mais complicada, mas o português se manteve fiel aos seus conceitos. Deixou Rony como uma espécie de válvula de escape pela direita, mandou Luan para o jogo (no lugar de Dudu) e ganhou fôlego pelo lado direito com Mayke. Enquanto isso, o Galo (inexplicavelmente) simplesmente não tinha profundidade.
Enquanto o Atlético-MG parecia nervoso e a ponto de explodir emocionalmente, os jogadores do Palmeiras se mantinham concentrados e procuravam executar o plano de Abel Ferreira com afinco e dedicação. Na marca de cal, a estrela de Weverton brilhou mais forte com a defesa da penalidade cobrada pelo jovem Rubens (que poderia não ter cobrado se Eduardo Vargas não tivesse sido expulso de maneira infantil). O Verdão se garante nas semifinais da Libertadores pela terceira vez seguida e mostrando sua capacidade de adaptação aos cenários mais adversos e uma força mental absurda. E vale repetir mais uma vez que o Palmeiras teve MUITOS méritos na condução da partida e na disputa por pênaltis.
É por isso que Abel Ferreira merece mais reconhecimento por parte de alguns colegas de imprensa. Há um trabalho sério, vitorioso e altamente consistente sendo feito aqui mesmo no Brasil. Trabalho de altíssimo nível e que já começou a dar frutos há algum tempo. É sempre muito bom ver o Palmeiras jogar.
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