O depoimento emocionado da zagueira Tarciane resume bem o sentimento de todos que estavam torcendo pela Seleção Feminina na noite desta quinta-feira (25). Mesmo com todas as dificuldades, o time comandado por Jonas Urias fez um bom jogo mostrou que tinha condições de sair de campo com a vaga na decisão dessa Copa do Mundo Sub-20. Ainda que o escrete canarinho tenha cometido alguns dos erros já apontados por este que escreve em outras oportunidades, o que se viu lá na Costa Rica foi uma equipe aguerrida, aplicada, altamente comprometida com a proposta de jogo e que tentou de tudo para superar a boa equipe do Japão. E a sensação que fica é a de que o futuro dessas meninas e da Seleção Feminina como um todo pode ser muito melhor o que o presente.
Isso porque jogadoras como a própria Tarciane, Yaya, Lauren, Bruninha, Ana Clara, Dudinha e várias outras mostraram bola suficiente para colocar a Seleção Feminina na decisão da Copa do Mundo Sub-20 e também assumirem o protagonismo num futuro nem tão distante assim na equipe principal. É uma pena que o time de Jonas Urias tenha cometido erros que comprometeram o desempenho contra o escrete nipônico e a vaga na finalíssima da competição. E por mais que se possa apontar erros e decisões erradas, é possível sim afirmar que o Brasil produziu o suficiente para ter virado o placar ainda no tempo normal.
No entanto, o jogo desta quinta-feira (25) nos mostrou coisas interessantes. Há como se compreender a entrada de Kaylaine no meio-campo e o posicionamento mais adiantado de Yaya. É possível que Jonas Urias desejasse que sua jogadora mais habilidosa (e principal articuladora de jogadas) tivesse liberdade para circular na entrelinha japonesa. O problema é que a Seleção Feminina não conseguia fechar a entrada da sua área mesmo com mais uma volante em campo. Com isso, a dupla de zaga formada por Tainara e Lauren precisava saltar mais para a pressão. E isso acabava abrindo espaços na última linha.
O gol marcado por Yuzuki Yamamoto aos 29 minutos da primeira etapa acabou expondo a falta de compactação e a marcação mais frouxa da Seleção Feminina. Estava nítido que Yaya (embora se destacasse com bons passes e muita intensidade) estava sobrecarregada na criação das jogadas. Na segunda etapa, Jonas Urias corrigiu o posicionamento das jogadoras de frente e viu sua equipe empatar a partida com um belo gol marcado por Cris (aos 10 minutos). Com as jogadoras mais próximas umas das outras, fazendo mais as jogadas de ultrapassagem das laterais e colocando muito mais intensidade nas transições ofensivas, o Brasil melhorou seu desempenho, mas ainda pecava nas conclusões a gol. E isso era um problema grave diante de um Japão altamente concentrado.
A Seleção Feminina criava, ocupava o campo de ataque, mas não conseguia ser efetiva mesmo com a entrada de Priscila no lugar de Kaylaine e o recuo de Yaya para a linha de meio-campo na formação mais utilizada por Jonas Urias nessa Copa do Mundo. Conforme o tempo ia passando, o cansaço (físico e mental) ia aparecendo e a falta de concentração causava buracos na defesa. Aos 39 minutos da segunda etapa, a mesma Yuzuki Yamamoto recebeu no espaço entre o meio e a última linha brasileira e viu a ótima Maika Hamano se lançando no espaço deixado por Lauren. E mesmo pressionada por quatro jogadoras, a camisa 9 japonesa deixou a companheira de equipe em condições de fazer o gol da classificação para a decisão. Ao Brasil restou o gosto amargo da derrota.
É possível sim apontar outros erros na partida desta quinta-feira (25). Mas isso seria leviano e até desonesto diante de tudo o que se viu na Costa Rica nesses últimos dias. A Seleção Feminina chegou onde ninguém esperava que ela fosse chegar (incluindo este que escreve) e encheu os nossos olhos com um futebol bem jogado, vibrante e bastante organizado. A derrota para o Japão (ou para qualquer outra equipe nessa Copa do Mundo Sub-20) é do jogo e vai servir de aprendizado para todas elas. Agora, é impossível não encontrar motivos para acreditar que o futuro pode ser melhor do que o presente quando o assunto é a qualidade das nossas jogadoras. Ao mesmo tempo, não é difícil imaginar todas elas brilhando num futuro próximo. Aqui e no exterior.
As palavras de Tarciane foram sinceras e certeiras. Não há dúvidas de que esse elenco ainda vai nos dar muitas alegrias. Agora é corrigir os erros, recuperar a confiança do time e pensar na disputa do terceiro lugar. A Seleção Feminina pode não ter chegado na decisão, mas ela nos deixa um legado importantíssimo para os próximos anos. E mesmo com tão pouco feito pela CBF, Jonas Urias, Jéssica de Lima e companhia conseguiram formar uma equipe altamente competitiva. Imaginem o que poderia ter sido feito se as coisas tivessem sido feitas da maneira correta desde o início.