Futebol é contexto. Quem acompanha o espaço aqui no TORCEDORES.COM já leu essa frase várias e várias vezes. É impossível analisar o que acontece dentro de campo sem se levar em consideração os fatores que influenciam nas atuações deste ou daquele time. O empate entre Botafogo e Ceará tem muito disso. É possível sim dizer que o time de Luís Castro deu alguns passos atrás com relação às últimas partidas, mas também é preciso lembrar os fatores extracampo. Lesões de jogadores importantes, má fase técnica de outros mais badalados e até mesmo um surto de virose gastrointestinal foram alguns dos problemas enfrentados pelo Botafogo nesses últimos dias.
É por esses e outros motivos que o empate deste sábado (6) escancara ainda mais a realidade do escrete comandado por Luís Castro. Por mais que se possa criticar algumas das escolhas do treinador português, é preciso lembrar que ele e todo elenco enfrentam uma série de problemas que vão muito além daqueles que todo time enfrenta quando se pensa em projetos novos. As oscilações vão acontecer. É do jogo! Só que o Botafogo sofre com outras questões ainda mais graves, como reforços que chegam durante o Brasileirão e a falta de tempo e estrutura para encontrar o melhor encaixe das peças na equipe. E isso sem mencionar os problemas médicos.
Como se vê, Luís Castro acabou “fazendo o que dava pra fazer” no jogo deste sábado (6). Apostou num 4-2-3-1 que trazia Daniel Borges improvisado na lateral-esquerda, Eduardo se aproximando de Lucas Fernandes por dentro e muita velocidade com Luis Henrique e (principalmente) Jeffinho pelos lados do campo. Enquanto isso, o Ceará de Marquinhos Santos jogava em algo próximo de um 4-3-3, mas que variava para um 4-3-1-2 conforme a movimentação de Vina por dentro. O camisa 29 era o “falso nove” do Vozão e aproveitava muito os espaços às costas de Tchê Tchê e Eduardo para servir os “pontas” Mendoza e Jhon Vásquez no espaço entre os zagueiros e laterais botafoguenses.
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O gol marcado por Victor Cuesta logo aos oito minutos de partida deixou a impressão de que o Botafogo fosse superar todos os problemas citados anteriormente e se impor dentro de seus domínios. No entanto, o que se viu foi um Ceará que se recuperou rápido e tentou explorar as subidas de Saravia e Daniel Borges ao ataque e a inércia de Tchê Tchê na proteção da zaga do Glorioso. Além disso, mesmo com espaço para pisar a área adversária, o Botafogo não conseguia aproveitar esse cenário por conta da falta de aproximação entre os setores da equipe. Jeffinho, Erison e Luis Henrique estiveram muito isolados e receberam poucas bolas no primeiro tempo.
Por incrível que pareça, as lesões em sequência durante o jogo deste sábado (6) não atrapalharam muito o desempenho do Ceará. Isso porque Zé Roberto e Fernando Sobral entraram bem e conseguiram manter o nível do futebol apresentado pela equipe de Marquinhos Santos. Ao mesmo tempo, o gol marcado por Mendoza logo aos três minutos do segundo tempo (em bobeira de Cuesta e Gatito Fernández) acabaria por causar um efeito devastador no Botafogo. Ainda que Jeffinho tenha criado algumas chances em jogadas individuais, o time de Luis Castro pecou demais pela falta de consistência e de organização ofensiva diante de um adversário mais concentrado e coeso.
Enquanto o Vozão crescia na partida e obrigava Gatito Fernández a salvar a pátria mais uma vez, o Botafogo parecia sem forças para reagir. E é aí que a realidade cai sobre a cabeça de Luís Castro e dos jogadores como uma pedra. O surto de surto de virose gastrointestinal fez com que o Glorioso fosse para o jogo deste sábado (6) apenas com Matheus Nascimento e Vinícius Lopes como opções para o ataque. E os dois acabaram somando muito pouco ao time da Estrela Solitária. A afobação nos momentos decisivos e a falta de concentração foram outros problemas facilmente perceptíveis no Botafogo. E isso explica o fato do Ceará ter ido melhor no jogo deste sábado (6).
A realidade é dura, mas não pode ser desprezada. E quando o assunto é o velho e rude esporte bretão, ela precisa ser compreendida para que se encontrem as soluções necessárias. Parece simples, mas não é. E a situação do Botafogo de Luís Castro é essa. Lidar com todos os problemas que o início de um projeto completamente novo enfrenta e ter que “driblar” lesões, desfalques, falta de entrosamento no time titular e até mesmo um surto de virose gastrointestinal não é tarefa fácil pra nenhum treinador do mundo. Podemos (e devemos) apontar os erros do português no comando do Glorioso (e eles existem sim). Mas isso deve ser feito observando-se todo esse contexto.
Se quiser se recuperar no Brasileirão e encerrar 2022 sem sustos, o Botafogo e Luís Castro precisam compreender todo esse contexto, simplificar as coisas e pensar com objetividade. Só que é extremamente difícil lidar com tantos problemas nesse calendário insano. Some isso à pressão por resultados e teremos o “combo” perfeito de fritura de mais um treinador.