É bom que se diga que o próprio Abel Ferreira já havia falado há alguns meses atrás que esperava oscilações mais fortes do seu Palmeiras. As atuações mais abaixo da média na vitória sobre o Ceará (pelo Brasileirão) e no empate com o Atlético-MG (pela Libertadores) confirmam a tese do treinador português. No entanto, o escrete alviverde conta com um grande trunfo para se manter competitivo mesmo em dias ruins: a força mental. O Palmeiras pode até passar a impressão de que está batido em alguns momentos, mas os jogadores sempre se mantém concentrados nas orientações de Abel Ferreira. É a consolidação do lema “cabeça fria e coração quente” na sua essência.
Falando sobre o jogo desta quarta-feira (3), precisamos reconhecer que o Atlético-MG realizou uma das suas partidas mais consistentes em toda a temporada. Mesmo com as dificuldades que este colunista apontou antes da bola rolar no Mineirão, o time comandado por Cuca se impôs com encaixes individuais, marcação alta e muita intensidade nas transições com Jair se somando a Zaracho no meio-campo e empurrando os volantes Zé Rafael e Danilo para trás. Com Ademir e Keno buscando o espaço às costas de Marcos Rocha e Piquerez a todo momento e Hulk bastante móvel no comando de ataque, o Galo fez um primeiro tempo muito bom e poderia ter ido para o intervalo com uma vantagem maior.
É interessante notar que o Palmeiras não demonstrou muitos sinais de abatimento. O time “assimilou o golpe” e voltou com outra postura para a segunda etapa após ouvir as orientações de Abel Ferreira. Mesmo com Raphael Veiga jogando muito abaixo do que já jogou em 2022 e José López “encaixotado” por Nathan Silva e Junior Alonso, a equipe alviverde se manteve concentrada diante de todo o volume ofensivo que eu e você sabemos que o Atlético-MG de Cuca impõe contra seus adversários. E por mais que se diga que o Galo baixou demais a guarda, há que se perceber também que o Palmeiras conseguiu transformar esse cenário e controlar mais as ações do jogo no segundo tempo.
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Por outro lado, é bom que se diga que os jogadores se mantiveram fieis ao plano de Abel Ferreira mesmo numa noite não muito feliz no Mineirão durante TODA A PARTIDA. O início do lance que originou o gol anulado por Piquerez é um bom exemplo disso. Dudu recebe a bola pelo meio e vê Gustavo Scarpa se lançando às costas de Rubens. A sequência da jogada nos mostra Piquerez entrando na área em diagonal, José López arrastando a zaga adversária para trás e Zé Rafael atacando o espaço. O Galo não conseguiu se encontrar mesmo com o recuo de Otávio para junto da última linha. A força mental desse Palmeiras também tem relação direta com a execução das jogadas de ataque.
Quem acompanha o espaço aqui no TORCEDORES.COM sabe que este que escreve já mencionou mais de uma vez a importância desse elemento no futebol de alto rendimento. E pelo que eu e você temos visto no Palmeiras desde que Abel Ferreira assumiu o comando da equipe (no segundo semestre de 2020), é possível dizer que a concentração, o “jogar de memória” e a frieza são algumas das características mais marcantes desse elenco. Prova disso está na forma como o time se comportou depois do gol contra de Murilo logo no início do segundo tempo e como o Palmeiras retomou o foco pouquíssimo tempo depois e conseguiu se impor diante de um Atlético-MG que fazia sua melhor partida no ano.
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As entradas de Mayke, Gabriel Menino e Rafael Navarro nos lugares de Marcos Rocha, Raphael Veiga e José López reorganizaram o Palmeiras em algo próximo de um 4-3-3/4-4-2 de muita imposição física e intensidade quase insana nas transições ofensivas. Gustavo Scarpa (o melhor em campo) explorava bem o espaço às costas de Rubens, Dudu fazia o “facão” para a área e Danilo ganhava mais liberdade para chegar no ataque. Tudo para bagunçar a defesa do Atlético-MG e conter os avanços do forte setor ofensivo adversário. É verdade que o Galo caiu um pouco de produção depois que Zaracho e Keno sentiram o cansaço, mas a dinâmica do time de Abel Ferreira com a posse da bola seguia impecável.
Força mental, concentração e comprometimento com cada ação do jogo sempre foram imprescindíveis no futebol em todos os tempos. Com o avanço da tecnologia, tudo isso ficou mais evidente. Entender suas capacidades, limitações e trabalhar todas as potencias de cada atleta se transformou numa das principais tarefas de uma comissão técnica. Abel Ferreira entendeu bem isso e vem agindo de acordo num Palmeiras que sempre consegue surpreender mesmo nos cenários mais adversos e contra os adversários mais fortes. Foi assim contra o Chelsea na final do Mundial, contra o Athletico Paranaense na Recopa Sul-Americana e contra o São Paulo na decisão do Campeonato Paulista.
E o mais interessante é que Abel Ferreira nunca prometeu títulos ou “futebol bonito”. O treinador português sempre deixou claro que faria de tudo para transformar o Palmeiras numa equipe altamente competitiva. E essa postura compromissada aliada à uma força mental impressionante são as razões desse sucesso do escrete alviverde nesses últimos meses.