Um novo caso de racismo chamou a atenção no futebol brasileiro neste final de semana. Em duelo do último sábado (27), pela Copa Santa Catarina, entre Joinville x Marcílio Dias, o lateral Victor Guilherme, do Marcílio, foi chamado de “negro filha da p***” por um torcedor adversário.
O lance foi aos 35 do segundo tempo. O jogador conseguiu identificar o responsável pelo crime após alguns minutos e foi comunicar o árbitro, porém, Igor da Silva Albuquerque, comandante da partida, deu cartão amarelo ao atleta por “retardar excessivamente a execução do arremesso lateral”.
O árbitro relatou o caso em súmula, mas disse não ter ouvido a ofensa reclamada por Victor.
“Aos 35 minutos do segundo tempo, fui informado pelo atleta n°2 Victor Guilherme da Silva Cavalcante da equipe Marcílio Dias , veio até mim árbitro da partida, relatou ter sofrido injúria racial por um torcedor que se encontrava junto a torcida do Joinville”, escreveu Igor da Silva Albuquerque.
Marcílio Dias e Joinville se pronunciaram sobre a ofensa racial ao jogador
Clube adversário na partida e dono da casa, o Joinville se posicionou sobre o caso por meio de nota oficial.
“O Joinville Esporte Clube tomou conhecimento e lamenta profundamente o caso de racismo relatado pelo atleta Victor Guilherme, lateral do Marcílio Dias, no confronto pela rodada de estreia da Copa Santa Catarina, neste sábado (27), na Arena.
Já na manhã deste domingo (28), assim que soube do fato, o presidente do JEC, Charles Fischer, entrou em contato com o presidente do Clube Náutico Marcílio Dias, Hercílio Henrique de Mello Tristão, e com o jogador Victor Guilherme, se colocando à disposição para qualquer contribuição e suporte.O Joinville é um clube de todos, e tem muito orgulho disso. Na nossa história estão marcas de povos de várias partes do mundo. Nosso primeiro gol foi marcado por um negro, Tonho “Cabeça de Fé”.
Nossa maior revelação é um negro, o volante Ramires, com participação em duas Copas do Mundo. Além de tantos outros atletas e de etnias diversas que representaram e representam a nossa camisa. Manifestamos total repúdio a qualquer manifestação de cunho racista ou preconceituoso e temos certeza de que a absoluta maioria da torcida jequeana também repudia atos dessa natureza. Preconceituosos não nos representam!”.
O Marcílio Dias, clube de Victor, demonstrou indignação com o caso, e ainda mais com a punição ao jogador no momento da denúncia.
“O Clube Náutico Marcílio Dias encontra-se estarrecido e indignado com mais um ato de racismo durante a prática de futebol profissional, desta vez com um atleta do próprio Clube, o lateral Victor Guilherme.
O atleta alega ter sido ofendido de “negro filho da puta” por um torcedor do Joinville, durante a partida, antes de uma cobrança de lateral. Victor Guilherme levou o fato ao trio de arbitragem, que colocou em súmula (…)
Minutos após o ato, o agressor – que havia se escondido de acordo com Victor Guilherme – voltou ao local das ofensas e foi identificado pelo atleta antes de uma cobrança lateral no mesmo local das injúrias iniciais. O mesmo apontou ao árbitro Igor da Silva Albuquerque, que advertiu o atleta do Marcílio Dias, vítima de racismo, com cartão amarelo, por “retardar excessivamente a execução de um arremesso lateral ou tiro livre”.
Ou seja: ao tentar fazer seu direito de denúncia de um ato de racismo e que o torcedor fosse identificado e levado às autoridades competentes, a vítima do ato racista foi advertida com cartão amarelo.
É estarrecedor que estes fatos continuem acontecendo no futebol, e na sociedade como um todo, e que punições severas aos racistas deixem de acontecer. Racismo é crime inafiançável previsto na Constituição e em leis como a 7.716/89. Cabe a nós reprimir, denunciar e fazer com que o racismo seja eliminado de uma vez por todas do convívio social.”