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Copa do Mundo: relembre a campanha do Brasil em 1970

Seleção brasileira que conquistou o tricampeonato e a posse definitiva da Taça Jules Rimet é um dos maiores esquadrões da história do esporte

Por Marco Maciel em 21/08/2022 08:32 - Atualizado há 2 anos

Divulgação

Nem todos os 90 milhões em ação firmaram a corrente para frente. E só pareceu mesmo que todo o Brasil deu a mão. Afinal, a famosa canção de Miguel Gustavo que atravessou gerações era mais uma das tantas músicas ufanistas em defesa do regime vigente. Era o auge dos anos de chumbo, da forte repressão comandada pelo governo Médici nos mais sombrios porões. Então, para muitos, torcer pela seleção brasileira na Copa do Mundo era apoiar a sangrenta ditadura, que naturalmente se ampararia no escrete canarinho para propagandear o poder militar.

Por ironia do destino, coube a um comunista conduzir o Brasil ao Mundial de 1970. Afinal, João Saldanha comandou a Seleção nas Eliminatórias, assegurando a vaga no triunfo sobre o Paraguai no maior público pagante da história do futebol. Foram 183.341 presentes no abarrotado Maracanã para ver Pelé marcar o gol da vitória naquele 31 de agosto de 1969.

João Saldanha dá lugar a Zagallo na Copa do Mundo

Porém, o comentarista que aceitou o desafio da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) não resistiria até a Copa do Mundo. A ideologia oposta, a implicância com a vista de Pelé, a recusa em convocar Dario a pedido de Médici (“nem eu escalo o ministério e nem o presidente escala time”) e um melancólico empate em 1 a 1 num jogo-treino com o Bangu causariam a dissolvição da comissão técnica. “Eu não sou sorvete para ser dissolvido”, respondeu Saldanha a João Havelange, presidente da CBD, no momento da demissão.

Mário Jorge Lobo Zagallo assumiria a Seleção Brasileira ainda como um técnico com carreira curta, iniciada quatro anos antes. Mas já ostentava uma Taça Brasil (1968) e dois estaduais (1967 e 68) pelo Botafogo. Mesmo que tenha estreado a menos de três meses antes do início da Copa do Mundo do México, o Velho Lobo conseguiu colocar o seu estilo na equipe. Assim, escalou cinco camisas 10 no time titular, adequando o quinteto ao esquema.

Dessa forma, Gerson foi recuado para segundo volante, Jairzinho deslocado para a ponta-direita, Rivellino na esquerda e Tostão como falso 9. Pelé, é claro, faria sua função original: a de ponta-de-lança. Nesse sentido, as improvisações seguiram na defesa, com o meio-campista Piazza recuado para a zaga e abrindo espaço para Clodoaldo. Portanto, a Seleção Brasileira já estava definida para a Copa do Mundo: Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gérson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino. A declamação do inesquecível esquadrão soa como poesia. Ah, e Zagallo levou Dario para o México, atendendo ao pedido do General.

A Copa do Mundo quase assiste a uma pintura do meio-campo na estreia

O Brasil atuaria do primeiro ao penúltimo jogo da Copa do Mundo de 1970 no estádio Jalisco, em Guadalajara. Na difícil estreia do Grupo C contra a Tchecoslováquia, Petras botou o adversário em vantagem logo no início da partida e fez o sinal da cruz. Contudo, a reza não faria muito efeito. Em seguida, Rivellino soltou a patada atômica cobrando falta, empatando o jogo. Então, o planeta viria o primeiro dos “quase-gols” de Pelé que entraram para a história. Assim, do meio-campo, viu o goleiro Viktor adiantado e arriscou da linha divisória. Por um puro capricho dos deuses do futebol, um efeito próximo da trave esquerda desviou a bola, que passou a centímetros do poste.

A equipe de Zagallo chegaria naturalmente à vitória e à goleada, com dois lançamentos de Gérson. O primeiro encontrou o peito do camisa 10, que matou com categoria, antes de emendar para as redes. A segunda bola precisa do Canhotinha viu Jairzinho partir sozinho em posição legal. O camisa 7 não tomou conhecimento do goleiro, lhe aplicou um chapéu e, ao invés de dar um toque sutil para o gol vazio, preferiu soltar a bomba. O mesmo Jairzinho enfileiraria vários tchecos no campo de defesa, driblando um a um antes de bater cruzado e decretar os 4 a 1. Estreia com pé direito na Copa do Mundo.

O milagre de Gordon Banks

A segunda rodada marcaria o encontro dos dois últimos campeões mundiais. A Inglaterra tinha, para muitos na época, uma equipe ainda melhor do que a campeã em casa quatro anos antes. E Zagallo não poderia escalar Gérson, com problemas na coxa direita. Assim, Paulo César Caju substituiu o Canhotinha. Então, num jogo tenso e equilibrado, os dois times construíam oportunidades. O ponteiro Francis Lee atingiu em cheio o rosto do goleiro Félix num pontapé ao tentar pegar o rebote de uma cabeçada desferida pelo próprio.

Como resposta, Gordon Banks faria aquela que é considerada a defesa do século e de todas as Copas do Mundo. Logo após grande jogada de Jairzinho pela ponta-direita, o camisa 7 faz um cruzamento certeiro para Pelé. O Rei cabeceia à queima-roupa, com direito a quique da bola na pequena área. Entretanto, o goleiro inglês consegue impedir o gol espalmando a pelota para cima, num movimento desafiador à física.

O gol da vitória e do alívio viria aos 15 minutos do segundo tempo. Tostão faz uma grande jogada pela esquerda, driblando dois adversários. Logo após girar o corpo, cruza com pé direito para Pelé que, no meio da área, apara e ajeita para a direita, onde está Jairzinho para dominar, chutar forte e vencer Banks. 1 a 0 e o Brasil encaminhava a classificação para as quartas-de-final da Copa do Mundo de 1970, no forte calor de Guadalajara.

Problemas defensivos contra Romênia e Peru

A última partida do Grupo C revelaria uma má jornada do goleiro Félix. Criticado por imprensa e torcida, falharia nos dois gols romenos marcados por Dumitrache e Dembrovschi. Para a sua (e a nossa) sorte, Pelé (duas vezes) e Jairzinho definiram o placar em 3 a 2 para o Brasil sobre a Romênia. Pelas quartas-de-final, a Seleção se manteve no Jalisco e encarou o Peru do técnico Didi, bicampeão mundial em 1958 e 1962. Gérson retornava ao time logo após ficar dois jogos de fora. Assim, tivemos mais uma partida recheada de gols. Desse modo, o escrete canarinho aplicou 4 a 2, com Rivellino, Tostão (duas vezes) e Jairzinho. Para os peruanos, marcaram Gallardo (com nova falha de Félix) e Teófilo Cubillas.

20 anos depois, o Uruguai de novo na Copa do Mundo

O Uruguai estava mais uma vez no caminho do Brasil. Nesse sentido, era impossível não evitar o clichê da lembrança do ocorrido no Maracanã em 1950, quando Obdulio Varela, Schiaffino, Ghiggia e companha silenciaram mais de 200 mil pessoas. Era chegada a hora de espantar o fantasma em definitivo. Porém, o pavor despontou quando Luis Cubilla abriu o placar para a Celeste Olímpica aos 18 minutos de jogo. Mesmo que estivesse sem ângulo, conseguiu pegar Félix mal colocado e a bola entrou mansamente no canto direito.

Assim, os uruguaios mantiveram a vantagem até o último minuto da etapa inicial. Com a forte marcação exercida em Gerson, o Canhotinha inverteu o posicionamento com Clodoaldo, se fixando como primeiro homem de meio. Nesse sentido, o camisa 5 se mandou para o ataque. Então, aos 45 do primeiro tempo, Clodô tocou para Tostão que, na ponta-esquerda, devolveu para o volante que se projetou na grande área para vencer Mazurkiewicz, batendo no canto esquerdo. Dessa forma, os uruguaios não desceram para o vestiário na frente no placar.

A etapa final evidenciaria o protagonismo de Pelé. O camisa 10 testaria o goleiro uruguaio ao emendar de primeira um tiro de meta mal batido que Mazurkiewicz conseguiu encaixar. Desse modo, o 1 a 1 persistiu num jogo muito viril por parte da Celeste até o Brasil realizar uma grande jogada coletiva aos 31 minutos. Jairzinho, o Furacão da Copa do Mundo, arranca do campo de defesa, toca para Pelé, que encosta para Tostão no círculo central. O “Mineirinho de Ouro” devolve para o camisa 7, que arranca em velocidade pela direita, vence o zagueiro na corrida e toca na saída do arqueiro. Era o gol da virada.

Drible de Pelé sem tocar na bola

Assim como no primeiro tempo, o Brasil marcaria aos 45 minutos novamente, na etapa complementar. Pelé encara o defensor, invade a área, para e rola para Rivelino encher o pé esquerdo e dar números finais à difícil semifinal. 3 a 1. Brasil na final da Copa do Mundo. Mas ainda daria tempo para a histórica partida emoldurar um dos lances mais repetidos em vinhetas de programas esportivos.

Nos acréscimos, Tostão lança Pelé pela esquerda. O Rei do Futebol entra cara a cara com Mazurkiewicz. Na meia-lua da grande área, o goleiro sai para tentar abafar o ataque do camisa 10. Contudo, a genialidade do maior jogador de todos os tempos ludibria o ótimo arqueiro uruguaio. Sem tocar na bola, Pelé vence a jogada, mas perde ângulo. Ainda assim, emenda o chute. Ancheta, que defenderia o Grêmio no ano seguinte, se joga em direção à trajetória da pelota, despencando próximo da trave esquerda. Desse modo, o chute do Rei caprichosamente sai pela direita, tirando tinta do poste. Novamente, os deuses do futebol pregaram uma peça em Vossa Majestade. Mas o que importava é que o Brasil estava mais uma vez na final da Copa do Mundo.

Um erro que ficou esquecido, para a sorte de Clodoaldo

Logo após cinco partidas no Jalisco, em Guadalajara, a Seleção Brasileira decidiria com a Itália a Copa do Mundo na Cidade do México, no estádio Azteca. Dessa forma, pela primeira vez, em 40 anos do torneio, teríamos um tricampeão mundial. Ou seja, a equipe vitoriosa conseguiria a posse definitiva da Taça Jules Rimet naquele 21 de junho de 1970. A equipe comandada por Zagallo sai na frente em cabeçada certeira numa impulsão impressionante de Pelé, em cruzamento de Rivellino aos 17 minutos de partida.

Porém, 19 minutos depois, Clodoaldo erra na saída de bola ao tentar um passe de calcanhar na intermediária. Nesse sentido, Boninsegna rouba do volante, se livra de Piazza na velocidade e divide, próximo da grande área, com Brito e o goleiro Félix, que sai desesperadamente. Mesmo assim, o italiano consegue manter o controle da bola e manda para o gol vazio da risca da meia-lua, empatando a decisão. Ainda bem que o susto seria passageiro, para alívio de Clodoaldo e dos brasileiros.

A Taça Jules Rimet seria nossa para sempre (pelo menos foi, por 13 anos)

O Brasil só reassumiria a dianteira no placar aos 20 minutos da etapa complementar. Logo após jogada de Jairzinho pela diagonal, Gerson recebe, ajeita a famosa canhota e o chute balança as redes à esquerda de Albertosi. Cinco minutos depois, o Furacão aproveita um lançamento de 40 metros do Canhotinha de Ouro. Então, Pelé ajeita de cabeça para o camisa 7, que domina e, em progressão, dá um toque sutil para tirar do goleiro na pequena área. Sétimo gol de Jairzinho em seis partidas na Copa do Mundo. Aliás, o único da história até hoje a marcar em todas as partidas de um Mundial.

O quarto gol que decreta a goleada de 4 a 1 é um primor de jogada coletiva, com o relógio marcando 41 minutos do segundo tempo. Na intermediária, Clodoaldo distribui dribles em italianos e passa para Rivellino, que lança Jairzinho, deslocado pela ponta esquerda. O atacante vai pela diagonal e toca para Pelé, que com consciência, calma e tranquilidade, enxerga Carlos Alberto Torres caindo com velocidade pela direita. O camisa 10 dá o passe com a cabeça erguida. A bola sobe uma pequena altura num morrinho do gramado. É o suficiente para o Capita pegar de primeira na veia e fuzilar Albertosi no canto direito.

Brasil tricampeão do mundo. Para delírio de 90 milhões em ação… e do regime. A Taça Jules Rimet é nossa para toda a eternidade… Era para ser assim, pelo menos. Até roubarem o mítico troféu da sede da CBF no fim de 1983 e o derreterem “na maior cara de pau”, diria um famoso samba-enredo da Caprichosos de Pilares dos anos 80. Mas isso é outra história…

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