O Palmeiras completa 108 anos nesta sexta-feira, e durante a maior parte de sua existência o clube foi conhecido menos por revelar talentos em suas equipes de base e mais por lapidar jovens formados em outros clubes, além de investir alto em contratações de peso.
Sua dupla de meio-campo mais famosa nos anos 1960, por exemplo, que atravessou as duas primeiras Academias, era formada por Dudu, revelado na Ferroviária, de Araraquara (SP), e Ademir da Guia, descoberto pelo Bangu.
Nos anos 1990, o esquadrão montado com patrocínio da Parmalat tinha desde craques contratados a peso de ouro, como Edmundo, que já brilhava no Vasco, a jogadores de talento vindos de clubes pequenos, como Roberto Carlos, contratado do União São João, de Araras (SP0.
Nos últimos anos, porém, o jogo virou e o Verdão começou a apresentar talentos fabricados em seu quintal – ou, melhor dizendo, em sua “casa de campo”, o CT das categorias de base, que fica em Guarulhos, na região metropolitana de SP, a cerca de 30 km da Academia, onde a equipe principal treina, ou do Allianz Parque.
De Gabriel Jesus a Endrick
Gabriel Jesus, hoje brilhando no Arsenal, foi o último fruto revelado no primeiro século e parecia ser mais uma exceção que eventualmente criado pelo Verdão, como foram os goleiro Velloso e Marcos ou, nos anos 80, o meia Edu Manga, um dos ídolos do período em que o time passou 17 anos sem títulos, de 1976 a 1993.
Jogadores de idades próximas à de Gabriel Jesus, como os zagueiros Nathan e Thiago Martins, o volante Matheus Sales e os laterais Gabriel Silva e João Pedro, por exemplo, chegaram a ser aproveitados no time principal, mas não vingaram a ponto de encantar a torcida. Quem mais jogou dessa turma foi o lateral-esquerdo Victor Luís, que hoje está no Ceará e nunca foi unanimidade entre os palmeirenses.
O cenário passou a mudar a partir de 2015, quando o então presidente Paulo Nobre contratou João Paulo Sampaio para coordenar a base do Palmeiras. Com experiência em outros clubes, ele reformulou o departamento de formação de jogadores e transformou o Palmeiras num celeiro de talentos.
Já são dessa fase jogadores como Danilo, Gabriel Menino, Wesley, Gabriel Veron e Patrick de Paula, que começaram a ser usados no time principal a partir de 2020 – os dois últimos já negociados com Porto e Botafogo, respectivamente.
Palmeiras prepara nova “fornada” de craques
No começo deste ano, o Palmeiras ganhou pela primeira vez a Copa São Paulo, a mais tradicional competição sub-20. A um time com nomes já conhecidos e com passagens breves pelo time principal, como os laterais Gustavo Garcia e Vandelan, o volante Fabinho e o atacante Gabriel Silva, juntou-se a nova joia: Endrick, então com 15 anos, foi eleito o melhor jogador da Copinha.
Em julho, ele assinou seu primeiro contrato profissional, assim que completou 16 anos, e está na lista de 50 jogadores inscritos na Libertadores, ainda que o técnico Abel Ferreira não dê nenhum sinal de que vá aproveitá-lo ainda este ano.
Mas Endrick é só um dos jogadores da “geração 2006”, uma lista de craques que o Verdão vem preparando. Entre eles estão o meia Luis Guilherme, meia canhoto um mês mais velho que Entrick, e o atacante Estevão, que tenta deixar para trás o apelido de “Messinho” e, ainda com 15 anos, também vem atuando pelo time sub-17 nas competições deste ano.
Onde o Palmeiras busca seus talentos
Levantamento feito pelo ge.globo realizado junto ao Palmeiras mostra que a maior fonte de reforços da base do clube é o interior paulista, origem de 27 dos 83 jogadores hoje com contrato nas categorias sub-17 e sub-20. Depois, vem São Paulo, a capital, com 16.
Fora das fronteiras paulistas, a Bahia é o maior celeiro de craques do Verdão, com 11 jogadores. Foi lá, na periferia da capital Salvador, que o Verdão buscou Danilo, hoje candidato a um lugar na Copa do Mundo 2022.
Ao todo, os jogadores chegam de 17 diferentes Estados, de todas as regiões do país. O clube tem olheiros e observadores nesses locais, que entram em contato com a gestão da base quando veem alguém promissor. Um trabalho que o clube vem tentando aprimorar, com sugestões de Abel Ferreira para reformas no CT de Guarulhos e outras ações para que o Verdao siga vencedor pelos próximos 108 anos ou mais.