Analisar taticamente uma partida é algo fundamental no futebol moderno, mas parte da magia desse esporte é justamente quando toda uma argumentação logística é quebrada por lances isolados, e foi o que aconteceu na noite de quarta-feira (24) no Morumbi, com o 3 x 1 do Flamengo sobre o São Paulo na partida de ida das semifinais da Copa do Brasil.
Uma coisa do torcedor são paulino não pode reclamar do time comandado por Rogério Ceni, esse é um plantel que não parar de lutar. Os vários confrontos parelhos com o Palmeiras – com exceção ao jogo de volta da final do Campeonato Paulista – e a soberania de ontem contra o Flamengo em sua melhor fase do ano, são prova disso.
Entretanto, toda a luta e entrega tática não foram suficientes para bater o poderoso rubro-negro carioca. Que, por sua vez, fez uma partida atípica, em que teve menos que a bola, cometeu muitos erros individuais – muitos deles provocados pela marcação alta do tricolor Paulista – mas foi altamente preciso nas poucas chances que teve.
Formações táticas
Sem Miranda, suspenso, o São Paulo saiu do esquema com três zagueiros e jogou com uma linha de quatro atrás. No papel, foi um 4-2-3-1, mas Reinaldo e Patrick faziam fluatações entre o meio e o lado esquerdo, impedindo os avanços do ofensivo Rodinei, bem como Igor Gomes, que ora transitava entre os jogadores para povoar o meio-campo, como também aparecia na entrada da área para atacar o time carioca.
Já o Flamengo foi com seu tradicional 4-4-2, com João Gomes e Thiago Maia no centro e aberto nas pontas, com liberdade para movimentações mais agudas, Everton Ribeiro e De Arrascaeta. Gabi segue atuando como um segundo atacante, que entra na área, mas povoa muito a ponta esquerda e Pedro segue, cada vez mais confortável, atuando como atacante central, fazendo o pivô e construindo jogadas por dentro.
O que deu errado para o São Paulo?
Quando se enfrenta um adversário muito mais forte, mas chances são menores, você parece que tem que fazer o jogo da vida e o rival ter um dia ruim para alcançar o objetivo e isso, basicamente, foi o que aconteceu no Morumbi, com exceção a uma coisa: essa foi a partida mais precisa do Flamengo desde a chegada do Dorival.
Afinal, se a noite foi atípica por ter menos a bola (43% contra 57%) e ter finalizado menos (7, sendo apenas 4 em direção ao gol, contra 26 do time paulista), outro fator estranho entrou em campo, mas dessa vez, a favor do time carioca, foi a precisão das poucas finalizações: das quatro bolas em direção ao gol, três entraram.
Basta analisar todas as últimas partidas da equipe rubro-negra. O Flamengo é um rolo compressor contra seus adversários, geralmente constrói muito mais do que converte. Muitos torcedores, na verdade, até se incomodam com o tanto de gols que o time perde. Só não reclamam mais, porque as vitórias chegam aos montes.
Logo, o placar de ontem foi bastante “mentiroso”. O Flamengo do Dorival, diferente do jogo de volta contra o Corinthians no Maracanã, pela Libertadores, não jogou para o gasto, na verdade, ele foi surpreendido por um São Paulo que foi com tudo para o confronto.
Mas se o Flamengo venceu de forma atípica, o talento dos jogadores rubro-negros só apareceram pelas brechas da equipe paulista. Mesmo explorando pouco as transições rápidas em saídas de bola, em duas delas saíram gols (o primeiro e o segundo), já em uma terceira tentativa, o Flamengo só não marcou, porque o Gabi – mais uma vez – errou o alvo na cara do gol. Junte transições lentas e um adversário com jogadores decisivos e veja uma grande atuação ser desmoronada. Foi isso que aconteceu com o jogo de ida da semifinal da Copa do Brasil, que deixou o Flamengo mais próximo da decisão.
O que esperar do jogo de volta?
Sinceramente, com o calendário, a distância entre o jogo da ida e volta, além das duas outras competições que ambos equipes enfrentam, é muito complicado adiantar qualquer coisa. Mas parece claro que esse é o limite do São Paulo, enquanto mostra maturidade do time de Dorival Júnior, que já mostrou no confronto contra Atlético Paranaense na fase passada da competição.
O Flamengo, que já era o favorito no confronto, segue ainda mais perto da final e o São Paulo pode arriscar tudo num confronto quase perdido. Mas assim como citei no primeiro parágrafo dessa análise, parte da magia do futebol é justamente quando toda uma argumentação logística é quebrada por lances isolados e você pode ter certeza que esse será o fio de esperança para os comandados de Rogério Ceni no Macanã.