Home Futebol Desempenho da Seleção Feminina contra o Uruguai prova que a equipe ainda não entendeu o que está em jogo

Desempenho da Seleção Feminina contra o Uruguai prova que a equipe ainda não entendeu o que está em jogo

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Pia Sundhage no jogo válido pela segunda rodada da Copa América Feminina

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Eu realmente gostei do resultado, fizemos três gols e não tomamos nenhum. Mas não estou feliz com a nossa atuação, especialmente o ataque. Deveríamos ter sido mais efetivas. Não gostei do jogo, o Uruguai fez o seu trabalho muito bem, tentou dificultar o nosso jogo. Eu não gostei da nossa atuação, temos que melhorar“. As palavras de Pia Sundhage, na entrevista coletiva após a vitória da Seleção Feminina sobre o Uruguai por 3 a 0, resumem bem o que foi o jogo desta terça-feira (12). Embora o Brasil tenha conquistado a segunda vitória na Copa América Feminina na base do talento e do condicionamento físico, a impressão que fica é a de que muita gente ali ainda não entendeu o que está em jogo na competição. Não estamos falando de goleadas, mas de atuações seguras e de um desempenho satisfatório.

Eu e você sabemos muito bem que a Seleção Feminina é uma das grandes favoritas ao título da Copa América e que alguns adversários (por mais que o nível do futebol sul-americano tenha aumentado bastante nos últimos anos) não devem causar muitos problemas para a equipe de Pia Sundhage. Por outro lado, a treinadora sueca sabe que suas jogadoras podem entregar muito mais do que entregaram nesta terça-feira. Ainda que os 3 a 0 sobre o Uruguai tenham sido construídos com certa facilidade, o escrete canarinho como um todo baixou demais o nível de concentração e intensidade. Principalmente no segundo tempo, depois das substituições promovidas pela treinadora sueca e a vantagem no placar.

A partida começou em ritmo lento, com a Seleção Feminina encontrando certa dificuldade para furar o bloqueio defensivo do Uruguai. Estava mais do que claro que o time comandado por Pia Sundhage precisava se movimentar mais para abrir espaços e pisar na área do time comandado por Ariel Longo. As entradas de Antônia e Debinha deram mais mobilidade ao time, mas as coisas só começaram a fluir quando o Brasil começou a fazer o básico. Movimentação correta no terço final, trocas de passe mais precisas e valorização da posse de bola até encontrar o momento certo de atacar a área da boa goleira Sofía Olivera. Exatamente como aconteceu no lance do primeiro gol brasileiro (marcado por Adriana).

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Antônia faz a jogada de ultrapassagem, se livra de duas adversárias e cruza rasteiro. Debinha não alcança, mas Adriana não deixa passar. O primeiro gol da Seleção Feminina foi uma aula de movimentação ofensiva. Imagens: Reprodução / YouTube / Copa América

Vale destacar aqui o fato de que o 4-4-2 de Pia Sundhage só conseguia ser realmente efetivo no ataque quando Debinha e Bia Zaneratto acertava a movimentação ofensiva e buscava o espaço entrelinhas. Nesse ponto, as duas jogadoras são excelentes. Principalmente a atacante do Palmeiras. A construção de todo o lance do segundo gol da Seleção Feminina passa exatamente pelos pontos mencionados anteriormente. Há a troca de posições, a intensidade e a leitura dos espaços tão pedida por Pia Sundhage nos treinamentos e nas entrevistas coletivas. O time também ganhava volume com as subidas de Ary Borges ao ataque (num desdobramento para um 4-1-3-2). Mesmo assim, a sensação que ficava neste que escreve era a de que a Seleção Feminina jogava “para o gasto”. Exatamente como aconteceu contra a Argentina na primeira rodada.

Toda a jogada do terceiro gol (que começou com o passe de ruptura de Rafaelle para Debinha, teve Bia Zaneratto arrastando a marcação e Adriana aparecendo livre na segunda trave para balançar as redes) deixou a impressão de que a Seleção Feminina fosse realmente controlar mais a partida. No entanto, o time inexplicavelmente diminuiu o ritmo e a intensidade nas jogadas de ataque e praticamente parou de jogar. Uma coisa é administrar o placar e guardar fôlego para a sequência da competição. Outra é esquecer as orientações passadas pela comissão técnica e encarar a partida válida pela Copa América como “mais um” amistoso. A maneira como Belén Aquino entrou na área brasileira e encontrou Birizamberri no chute que parou na trave de Lorena é emblemático. E a postura do Brasil no lance diz muito.

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Belén Aquino entra na área e encontra Birizamberri sozinha na altura da marca do pênalti. O chute acertou a trave direita de Lorena, mas o lance como um todo escancarou a falta de concentração da Seleção Feminina. Imagens: Reprodução / YouTube / Copa América

Na prática, a Seleção Feminina só criou mais duas chances claras de gol depois que abriu três gols de vantagem no Estádio Centenário de Armênia. A primeira com um chute de Bia Zaneratto e a segunda com uma cabeçada de Kathellen. Muito pouco para uma equipe que é apontada como grande favorita ao título da Copa América. Está mais do que claro que uma das grandes missões de Pia Sundhage na equipe brasileira tem relação direta com a postura das jogadoras diante de adversários de menor expressão (como o Uruguai) e a maneira como esse time perde a concentração depois de abrir uma certa vantagem no placar. Isso ficou nítido nos amistosos contra França, Dinamarca e Suécia e pode ser um problema sério contra equipes mais qualificadas como a Venezuela (da ótima Denya Castellanos), a Colômbia e o Paraguai.

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E a impressão que fica (apesar da superioridade da Seleção Feminina em todos os aspectos) é a de que muitas ali ainda não entenderam o que está em jogo na Copa América. Por mais que a qualidade de alguns adversários seja duvidosa, é preciso manter o foco, a concentração e a intensidade para sair vitorioso e atingir os objetivos. Fica até complicado falar sobre as formações usadas por Pia Sundhage, os motivos que levaram a treinadora sueca a escolher o time que mandou a campo e a estratégia traçada para derrotar o Uruguai se o desempenho dentro de campo está muito abaixo daquilo que eu e você já vimos contra oponentes muito mais fortes. Parece até que algumas ali pensam que os gols vão aparecer quando elas quiserem. E sabemos que o futebol não funciona assim.

Há como se destacar as atuações de Antônia, Adriana, Rafaelle, Angelina e Ary Borges. Mesmo assim, a Seleção Feminina como um todo segue devendo uma atuação convincente nessa Copa América e um desempenho de acordo com o potencial dessas jogadoras. Corrigir a postura em campo e manter os níveis de concentração e intensidade lá na estratosfera é fundamental para sair vitorioso de qualquer competição. Essa é a grande tarefa de Pia Sundhage e de todas as jogadoras brasileiras.

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