Não foi uma grande atuação, é verdade. É possível dizer até que a Seleção Feminina jogou “para o gasto” e não se esforçou muito para vencer a Argentina neste sábado (9), no jogo que marcou a estreia das comandadas de Pia Sundhage na Copa América Feminina. Ainda que algumas jogadoras não rendido o esperado diante do (baixo) nível de dificuldade que a partida exigia por conta de uma série de fatores que iremos abordar no decorrer desta análise, o Brasil quase não sofreu sustos diante de um adversário não mais do que esforçado. Acabou que o escrete de Germán Portanova sofreu para conter o talento de Adriana (a melhor em campo na opinião da Conmebol e deste que escreve), Angelina, Tamires, Bia Zaneratto e Rafaelle. Boa vitória e boa estreia. Mas a Seleção Feminina ainda precisa de alguns ajustes.
Há como se compreender o nervosismo de algumas jogadoras com relação à estreia na Copa América Feminina. Muitas ali estavam disputando a sua primeira partida em competições oficiais com a camisa da Seleção Feminina e a cobrança por uma atuação convincente se tornou mais forte depois das derrotas para a Dinamarca e para a Suécia no mês de junho. Além disso, a Argentina marcava forte e passava do ponto em alguns lances. Não foi por acaso que a equipe de Pia Sundhage demorou um pouco para encaixar seu jogo. Vale destacar aqui a formação escolhida pela treinadora sueca. Ao invés do seu 4-4-2 mais ortodoxo, um 4-4-1-1 que trazia Bia Zaneratto mais solta e Gio mais fixa no ataque.
O objetivo aqui era simples. Com a atacante do Palmeiras jogando como “camisa 10” (ou “segunda atacante”), o Brasil conseguia ocupar o espaço entrelinhas da Argentina com mais facilidade. Ao mesmo tempo, Gio prendia as zagueiras Agustina e Cometti e permitia que Ary Borges, Adriana e Kerolin pudessem atacar o espaço que surgia dessa movimentação. O primeiro gol da Seleção Feminina tem muito dessa estratégia. Bia Zaneratto se livra da marcação, vê Tamires aparecendo às costas da lateral portenha e faz o passe para dentro. Adriana aparece pela direita como um raio e só tem o trabalho de estufar as redes de Vanina Correa. Gol que teve a movimentação tão pedida por Pia Sundhage nos treinamentos.
No entanto, como diria aquele poeta, nem tudo eram flores na partida deste sábado (9). Embora a Seleção Feminina conseguisse impor seu estilo e ficar com a bola, o time concedeu além do aceitável para uma Argentina que até contava com jogadoras interessantes. Florencia Bonsegundo, Yamila Rodríguez e Mariana Larroquette são talentosas e tentaram explorar os lados sempre que a equipe de Germán Portanova tinha a posse. Além disso, não foram poucas as vezes em que o Brasil esteve desarrumado e espaçado no primeiro tempo. Por mais que o 4-4-1-1 escolhido por Pia Sundhage fosse facilmente perceptível, o quarteto ofensivo sobrecarregou Angelina e Ary Borges na marcação em alguns momentos. O chute de Romina Núñez que parou no travessão de Lorena nasceu da desatenção de Kerolin na recomposição defensiva.
É preciso reconhecer também que os gols marcados na primeira etapa deram mais tranquilidade à Seleção Feminina. Conforme mencionado anteriormente, o time mostrou um nervosismo (até certo ponto) natural para a estreia na competição mais importante desse ciclo até o momento. E nesse contexto, a participação das “veteranas” foi fundamental para que o Brasil encontrasse seu jogo e construísse a vitória diante da Argentina. Principalmente na primeira etapa. Após o intervalo, o escrete de Pia Sundhage teve um pouco mais de calma para trabalhar a bola e ganhou consistência com a troca de lado entre Adriana e Kerolin. A atacante do Corinthians, aliás, se tornaria o grande nome da partida deste sábado (9) com boa desenvoltura pelos lados do campo e pisando na área como autêntica ponta à moda antiga.
Estava claro para este que escreve que a camisa 11 da Seleção Feminina tinha papel importante no 4-4-1-1 da treinadora sueca. Era ela quem aparecia no espaço que Bia Zaneratto abria por dentro quando buscava a entrelinha. E vale destacar aqui o papel tático exercido por Gio. Mesmo sem jogar bem e um pouco “sacrificada pelo sistema”, a jogadora do Levante foi importante para prender a dupla de zaga e dar profundidade às jogadas de ataque. Todo o lance do terceiro gol brasileiro tem muito dessa movimentação. Adriana parte em diagonal, Bia Zaneratto temporiza e espera o momento certo de fazer o passe às costas da última linha de defesa portenha. A atacante do Corinthians se livra da goleira Vanina Correa e apenas toca para o gol vazio. Movimentação, leitura dos espaços e boa troca de passes.
Ainda haveria tempo para a jovem Duda Sampaio fazer uma assistência de cinema para Debinha marcar o quarto e último gol brasileiro no Estádio Centenário de Armênia. Mesmo jogando como volante, a jogadora do Internacional mostrou que pode ser útil armando o jogo mais de trás e ainda participando ativamente da marcação nos momentos sem bola. Os 4 a 0 da Seleção Feminina não deixa de ser um resultado esperado por todos (incluindo este que escreve). Mas fica a sensação de que o time de Pia Sundhage sentiu demais o nervosismo da estreia e que o resultado poderia até ter sido mais elástico neste sábado (9). Seja como for, uma vitória a estreia é sempre bom para dar confiança e mostrar as credenciais da equipe que é considerada por muitos como a grande favorita ao título da Copa América Feminina.
Mesmo assim, a própria Pia Sundhage sabe que o Brasil pode e deve jogar mais do que jogou. Ainda mais sabendo que a tendência é que o time consiga se impor na base do talento e do preparo físico. Há como “aliviar” a análise por conta do nervosismo da estreia. Mas é complicado ver algumas jogadoras mais travadas do que o normal. A Seleção Feminina precisa manter a intensidade e o volume de jogo lá no céu. Principalmente se não quiser passar por sustos na competição sul-americana.