A volta de Cuca ao Atlético-MG quase oito meses depois de uma saída conturbada e confusa não deixa de ser a escolha mais segura depois da demissão do argentino Antonio “El Turco” Mohamed. O treinador campeão brasileiro e da Copa do Brasil em 2021 conhece bem o elenco atleticano e já mostrou capacidade suficiente para tirar o melhor de cada jogador que terá à disposição. No entanto, está mais do que claro para este que escreve que a volta de Cuca ao clube onde conquistou seus títulos mais importantes da sua carreira tem muito da tentativa de se resgatar alguns dos momentos mais vitoriosos da história do Atlético-MG. O retorno pode ter sido a aposta mais óbvia diante de todo o cenário, mas ele (por si só) não é garantia de sucesso, visto que o futebol é dinâmico e muita coisa muda de um ano para outro.
Isso não quer dizer que Cuca seja um treinador ruim e que ele não tem conhecimento. Muito pelo contrário! O Atlético-MG campeão brasileiro e da Copa do Brasil no ano passado foi uma das melhores equipes dos últimos anos e só não levou a Libertadores porque esbarrou no sempre cirúrgico Palmeiras de Abel Ferreira e na falta de sorte de Hulk no jogo de ida (disputado em São Paulo). Mesmo assim, este que escreve mantém o raciocínio por conta de uma palavrinha mágica esquecida por muitos quando o assunto é o velho e rude esporte bretão: CONTEXTO. Cuca retorna ao Atlético-MG num contexto muito diferente daquele de 2021, quando substituiu o argentino Jorge Sampaoli no comando do Galo.
A chegada em março do ano passado indicava um início de trabalho e de implementação das ideias que eu e você vimos em campo. Em 2022, o cenário é diferente. Há quem diga que Cuca retorna ao Atlético-MG para corrigir o rumo da equipe e “salvar o ano” depois da passagem ruim de Antonio “El Turco” Mohamed no clube. Não é preciso ser um gênio para entender que a pressão e a expectativa de torcida e diretoria são consideravelmente maiores do que na última temporada. Vale lembrar também que futebol não é mágica e nem receita de bolo. Há uma série de variáveis que precisam ser levadas em consideração na análise do jogo dentro de campo e no desempenho de cada equipe.
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Antonio Mohamed não deixa terra arrasada para Cuca, mas também não deixa um cenário onde muita coisa pode ser aproveitada. Embora seja mais “adaptável” que a maioria dos treinadores que chegaram ao Brasil no início do ano, “El Turco” tinha preferência por um jogo mais direto com mais ataques rápidos e menos triangulações. Características que iam de encontro ao que Cuca implementou em 2021 no Galo. As dificuldades do elenco na execução dos conceitos começaram a ser mais notadas no Brasileirão e na Copa do Brasil, quando o nível de exigência física e técnica subiu bastante. E o empate com o Cuiabá na última quinta-feira (21) nos mostrou um Atlético-MG sem consistência defensiva e sem muita força no ataque. Justamente dois dos pontos mais fortes que da equipe sob o comando de Cuca.
O problema maior não está em Antonio Mohamed, em Paulo Sousa, em Lisca ou em Renato Gaúcho. Está na maneira como nossos dirigentes contratam treinadores. Se o processo de escolha é baseado em tudo menos nas características do elenco, a possibilidade das coisas em campo darem errado é considerável. Dito isto, precisamos entender que a escolha por Cuca se deu unicamente por conta de seu sucesso recente com o Atlético-MG e da tentativa da diretoria em repetir o cenário vitorioso da temporada passada. Muitos podem não dar importância, mas muita coisa acontece em oito meses no velho e rude esporte bretão. Há jogadores sofrendo com problemas físicos e outros em má fase técnica. Bem diferente do ano mágico de 2021, quando o Galo simplesmente atropelava seus adversários com futebol vibrante e ofensivo.
Apesar dos títulos da temporada passada e do conhecimento tático de Cuca, precisamos reconhecer que seu retorno ao Atlético-MG é baseado numa memória afetiva da torcida (o que é mais do que natural) e não deixa de ser a resposta mais segura para acalmar os ânimos. E é aí que entra a pergunta: até que ponto essa escolha da diretoria atleticana levou em consideração o contexto da atual temporada? Não há como garantir que o Atlético-MG repita as atuações de 2021 quando conquistou o Brasileirão com sobras e levou a Copa do Brasil com duas grandes partidas contra o Athletico Paranaense. No jogo de ida, goleada por 4 a 0 sem contestações. Na volta, em Curitiba, nova vitória por 2 a 1 jogando no 4-4-2 preferido de Cuca, a força na defesa e as triangulações e movimentação ofensiva constante bem conhecidas do treinador.
Cuca retorna ao Galo num momento mais incerto do que em 2021. Este que escreve não duvida da capacidade do treinador e nem do potencial daquele que ainda é um dos melhores elencos do país. Mas é preciso ir além das lembranças afetivas no cenário atual. Além da má fase técnica de alguns jogadores e dos problemas físicos de outros, ainda existe outro ponto importante. Assim como aconteceu com o Flamengo de Jorge Jesus e acontece com o Palmeiras de Abel Ferreira, o Atlético-MG passou a ser um time estudado à exaustão. Além de recuperar a consistência do time, Cuca vai precisar se adaptar a um cenário onde se vê um jogo muito mais reativo do que propositivo (fato que ajuda a explicar o sucesso do Athletico Paranaense de Luiz Felipe Scolari) e pela necessidade quase urgente de conquistar bons resultados logo de cara.
Pode ser que as coisas realmente se encaixem rapidamente e que Cuca lidere o Atlético-MG na conquista do terceiro título brasileiro e da segunda Libertadores. Não é algo impossível de acontecer diante de tudo o que já foi colocado aqui. Mas seu retorno ao Galo por si só não é sinônimo de garantia de sucesso. Ainda mais sabendo que o treinador não foi bem quando trilhou o mesmo caminho no Palmeiras meses depois de conquistar o título brasileiro de 2016.
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