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Mesmo com o título, Seleção Feminina termina a Copa América com mais perguntas do que respostas

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Pia Sundhage e a atuação da equipe contra a Colômbia

Por Luiz Ferreira em 31/07/2022 13:20 - Atualizado há 11 meses

Thaís Magalhães / CBF

A Seleção Feminina conquistou seu oitavo título da Copa América com seis vitórias em seis jogos, 20 gols marcados e nenhum sofrido. Além disso, o time garantiu vaga direta na Copa do Mundo Feminina e nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Os números da equipe de Pia Sundhage na competição mais importante do continente realmente são incríveis e comprovam a superioridade do Brasil sobre as demais equipes. A vitória magra sobre a ótima e promissora Colômbia (com gol de Debinha) foi muito mais nervosa e complicada do que o esperado até mesmo por se tratar de uma decisão e da pouca rodagem da maioria das jogadoras em competições internacionais. Dito isto, mesmo com o título e com uma campanha de respeito, a Seleção Feminina termina a Copa América com muito mais perguntas do que respostas.

É verdade que é possível (e saudável) olhar o copo “meio cheio” e observar os pontos positivos. A defesa funcionou muito bem (tanto que Lorena se consolidou como titular absoluta no gol), Antônia tomou conta da lateral-direita e Debinha assumiu o papel de referência técnica de um elenco sem tanta experiência internacional. Só que o jogo decisivo contra a Colômbia neste sábado (30) acabou deixando uma sensação estranha no ar. Isso porque Pia Sundhage sempre fazia boas leituras dos problemas da Seleção Feminina nas coletivas após as partidas. A equipe, no entanto, não conseguiu executar as orientações da técnica sueca da maneira desejada.

Falando sobre a decisão em si, precisamos reconhecer que o escrete canarinho sentiu demais a saída de Angelina logo no início de uma partida marcada pela conveniência total da arbitragem com relação às entradas mais duras e desleais das jogadoras colombianas. Por outro lado, a Seleção Feminina (armada no 4-4-2 costumeiro de Pia Sundhage) encontrou sérias dificuldades para impor seu estilo de jogo diante do organizado 4-2-3-1 do técnico Nelson Abadía. Mayra Ramírez, Catalina Usme, Leicy Santos e (principalmente) Linda Caicedo se transformaram em tormento constante para a defesa brasileira. A movimentação desse quarteto ofensivo era constante e intensa.

A Seleção Feminina manteve seu 4-4-2 costumeiro com a entrada de Duda Francelino no lugar de Angelina. No entanto, o time sentiu a saída da camisa 8 e o ímpeto ofensivo do 4-2-3-1 colombiano. Destaque para Linda Caicedo e Leicy Santos.

Este que escreve entendeu o que Pia Sundhage desejava com a entrada de Duda Francelino no lugar de Angelina. A camisa 10 poderia dar mais consistência à Seleção Feminina por conta do porte físico e da vitalidade. O problema é que a equipe seguia cometendo erros bobos nas tomadas de decisão e se transformando em presa fácil para uma Colômbia ligada em todos os lances e disputa de bola. Enquanto a última linha de defesa brasileira conseguia conter o ímpeto ofensivo das donas da casa, o setor ofensivo pecava muito ao não colocar em prática um dos mantras mais repetidos por Pia durante as coletivas: FICAR COM A BOLA. Não é nem um pouco difícil concluir que a Seleção Feminina sempre ia bem e criava boas chances de gol quando valorizava a posse com calma e trabalhava bem as jogadas de ataque.

Debinha recebe a bola na intermediária e aciona Antônia na conhecida jogada de ultrapassagem da Seleção Feminina. A equipe sempre ia bem quando valorizava a posse e trabalhava as jogadas com calma. Foto: Reprodução / YouTube / Copa América

Mesmo assim, a sensação que algumas jogadoras deixaram nessa Copa América é de dúvida sobre a continuidade delas na equipe. A maneira como algumas delas se comportaram nas partidas da decisão contra a Colômbia e em outros confrontos até menos complicados é preocupante. Principalmente no que se refere ao trabalho sem a bola. Nesse aspecto, Bia Zaneratto é o nome que mais chamou a atenção deste que escreve. Ninguém está questionando sua qualidade técnica. Muito pelo contrário! O que se quer da camisa 16 é mais concentração, mais intensidade na marcação e mais comprometimento com o trabalho tático e coletivo da Seleção Feminina.

A crítica feita à “Imperatriz” serve também para Adriana, Kerolin, Tamires e outras jogadoras que não conseguiram aproveitar as oportunidades que receberam ao longo da competição. É bem verdade que a estreia em competições oficiais e a falta de experiência internacional pode ter falado mais alto e prejudicado um pouco o desempenho. Assim como as dificuldades da própria Pia Sundhage em “mudar o panorama” das partidas com substituições ou mudanças no esquema tático. Mas ficou claro para este que escreve que, apesar da leitura correta da técnica sueca, algumas jogadoras simplesmente não conseguiam executar as orientações da melhor maneira.

Há quem pense, no entanto, que o trabalho de Pia Sundhage é ruim e que ela deveria sair do comando da Seleção Feminina. Apesar das críticas já publicadas aqui no TORCEDORES mais de uma vez, este que escreve se vê na obrigação de chamar a atenção para a evolução do time como um todo em vários aspectos. Por mais que as entradas de Duda Francelino, Luana, Geyse e Gabi Portilho não tenham surtido o efeito necessário, precisamos reconhecer que o grande ponto positivo dessa Copa América é o sistema defensivo. Lorena mostrou muita segurança, Tainara e Rafaelle foram muito bem na marcação de Linda Caicedo e Catalina Usme e Antônia foi a melhor em campo com a vibração e intensidade de sempre. E mesmo tendo espaço para finalizar, a Colômbia nunca o fez de forma equilibrada. E isso é mérito das jogadoras citadas.

Apesar das atuações abaixo do esperado, a Seleção Feminina mostrou evolução na defesa e na marcação. Antônia, Rafaelle e Tainara foram muito bem e ajudaram a segurar o ímpeto do ótimo time da Colômbia. Foto: Reprodução / YouTube / Copa América

Mesmo com o título e mesmo com os ótimos números, a Seleção Feminina deixou a sensação de que poderia ter feito muito mais nessa Copa América. E é aí que surgem as perguntas. Pia Sundhage vai manter a base nas próximas convocações? Ou será que ela finalmente vai “largar algumas mãos” que já não rendem o esperado? O que acontecia com o time dentro de campo, visto que a sueca sempre defendia a valorização da posse e o trabalho sem a bola e não via suas orientações sendo executadas da melhor maneira? E como a equipe vai se comportar diante de adversários mais fortes? Todos nós desejamos que a nossa Seleção Feminina finalmente se consolide entre as melhores do mundo. Mas para que isso aconteça, é altamente necessário responder às perguntas colocadas acima. E o principal: seguir com o trabalho.

Ainda que a opinião deste colunista não agrade a todos, é nítido que o processo está acontecendo e isso precisa ser dito em alto e bom som. E por mais que os questionamentos apareçam, está mais do que claro que Pia Sundhage está nos deixando um legado importantíssimo para o futuro. E entender que as coisas precisam seguir seu curso normal é importantíssimo. É como a nossa Rainha Marta mencionou após os Jogos de Tóquio 2020: “É preciso chorar agora para sorrir depois”.

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