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MLB estuda nova regra para limitar shifts defensivos

Testes vão começar ainda este ano nos times das ligas menores

Thais May Carvalho
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e mestranda de Ciências da Comunicação na Universidade de São Paulo, sou colaboradora do Torcedores.com desde 2020. Escrevo sobre diversas modalidades, com foco mais voltado para futebol americano, beisebol, surfe, tênis, futebol, hóquei no gelo e basquete.

Limitar os shifts defensivos não é uma discussão exatamente nova na Major League Baseball. Nas últimas temporadas, a liga tem debatido maneiras de neutralizar as movimentações dos jogadores no campo interno para aumentar o número de bolas colocadas em jogo. Em outras palavras, a liga quer uma maior produção ofensiva para deixar o jogo mais atrativo.

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Pensando nisso, a partir do dia 22 de julho, a Florida State League – uma liga de Single-A da MLB – começará a implementar uma zona com um formato de uma fatia de pizza atrás da segunda base, onde os infielders não poderão ficar no começo das jogadas, como mostra a imagem abaixo.

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Com a nova proposta, quanto mais perto da segunda base o jogador for defender, menos profundo ele poderá ficar. Isso pode ter um efeito de mais ou menos 6 metros em relação ao posicionamento atual dos atletas. E se eles quiserem jogar mais no fundo do campo interno, precisarão ficar mais afastados da segunda base.

Caso o defensor não respeite essa área delimitada, o time que está no ataque poderá escolher o que for melhor para ele: o resultado do arremesso, o resultado da jogada ou então uma bola automática.

O objetivo por trás desta ideia é aumentar o número de rebatidas válidas para o meio do campo e que não resultem em eliminações. Isso porque uma tendência defensiva vem se repetindo: se o rebatedor é destro, o segunda base se posiciona no meio do infield e quase na grama. Se o rebatedor é canhoto, é o shortstop quem faz este papel, o que acaba resultando em mais eliminações no meio do infield.

O EFEITO DO SHIFT EM NÚMEROS

O uso do shift vêm aumentando bastante na MLB desde a metade da década de 2010, e, como consequência disso, a produção ofensiva na liga diminuiu. Se analisarmos os números entre 2015 e 2017, os times faziam shifts em menos de 15% dos arremessos. Enquanto isso, a média de rebatidas considerando somente as bolas colocadas em jogo (BABIP) – ou seja, os home runs e as eliminações por strikeout não entram nessa conta – ficava na casa dos .300.

Em 2016, o time que mais fazia shifts era o Houston Astros, com 34%. Naquele ano, nenhum outro time na liga utilizou o shift em mais de 25% das suas jogadas defensivas. O Miami Marlins, por exemplo, fez isso em apenas 1% das ocasiões.

Desde 2020, o número de jogadas com shift mais que dobrou, chegando a 36% neste ano. Por sua vez, o BABIP caiu nove pontos, ficando em uma média de .291 juntando as últimas três temporadas.

Em 2022, três times fazem shifts em mais de 50% dos arremessos, com o Toronto Blue Jays chegando a 58%. O Colorado Rockies, que hoje é a equipe que menos utiliza esta estratégia defensiva, faz shifts em 23% de suas jogadas.

Outro número que mostra como os shifts são eficazes é o aproveitamento em bolas rasteiras para o campo central. Entre 2015 e 2022, ela foi caindo ano a ano de forma significativa, indo de .395 para .297.

Os canhotos são os que mais sofrem com essa estratégia, pois enfrentam o shift em mais de 57% dos arremessos em 2022. Para efeito de comparação, em 2016 eles viam shifts em 26% dos confrontos. Para os destros, esse número saltou de 6% para 22% neste intervalo.

Coincidência ou não, a média de rebatidas (.AVG) e o BABIP caíram para todos os rebatedores, mas especialmente para os canhotos. O .AVG deles foi de .254 para .235, enquanto o BABIP foi de .300 para .279 em sete anos. Já o .AVG dos destros foi de .256 para .247, e o BABIP foi de .302 para .295. Claro que diversos fatores impactam estes números, mas o aumento no uso dos shifts com certeza teve seu papel nesta queda ofensiva na liga.

MUDANÇAS NAS LIGAS MENORES

Resta saber se esta nova estratégia da MLB para limitar a movimentação defensiva no infield terá algum efeito na Florida State League. Até o momento, nenhuma das outras regras feitas com este propósito ajudaram a aumentar a produtividade ofensiva nas ligas menores.

Em 2021, foram implementadas duas regras no nível da Double-A que ainda estão em vigor. Na primeira metade do ano, foi determinado que os jogadores no campo interno não podiam mais ficar na grama do outfield. Já na segunda metade da temporada, os times também precisavam ter obrigatoriamente dois jogadores de cada lado da segunda base.

No entanto, ao analisar a média de bolas colocadas em jogo que viraram rebatidas nos últimos anos na Double-A, fica claro que essas mudanças não apresentaram o resultado desejado pela MLB. Isso porque os jogadores deram apenas dois passos para frente ou para o lado, mas continuaram cobrindo basicamente a mesma área do campo.

Em 2021 e 2022, o BABIP nessas ligas foi respectivamente .306 e .310. Nas temporadas anteriores, este número era muito semelhante. Em 2019, o último ano sem limitações de shift, o BABIP foi .305, em 2018 ele foi .309, em 2017 foi .306 e em 2016 foi .305. O que parece ter diminuído um pouco foi a quantidade de eliminações em bolas rasteiras por jogo, que caiu de uma média de 8,8 para 7,7 após a implementação das regras.

Mesmo com os números mostrando que essas regras tiveram pouco efeito nas ligas menores, espera-se que alguma restrição nos shifts comece a ser implementada já em 2023 na MLB. Há quem argumente que essas modificações tenham mais peso no nível da Major League Baseball, pois os shifts são mais comuns e as movimentações defensivas são mais precisas, pois há uma análise mais sofisticada dos rebatedores. Essa mudança é um grande desejo do comissário da liga, Rob Manfred, e parece ser bem aceita entre os fãs e os próprios jogadores.

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